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Opinião

Nunca antes

Os movimentos do mercado seguem caminhos ou ondas que não findam nos 31 de dezembros e são consequências de acontecimentos anteriores


17 de dezembro de 2018 - 14h01

Créditos: farakos/iStock

O hábito de supor — ou de desejar — que algo esteja acontecendo pela primeira vez é recorrente, não só na nossa vida pessoal, mas nas relações entre empresas e no discurso das marcas. O ineditismo é algo valorizado na indústria da comunicação, sobretudo em tempos em que inovação é um mantra.

Na história recente do Brasil, o “nunca antes” virou frase de efeito na política e gerou até uma curiosa reação de puristas da língua portuguesa que sustentam que a expressão é um pleonasmo, pois o uso do advérbio “nunca”, sozinho, já seria suficiente para expressar a ideia. Daí a caracterização do “nunca antes” como apelativo.

Independentemente disso, o recurso serve para enfatizar a importância de um feito ou de uma situação não vivida anteriormente. Na indústria de comunicação, marketing e mídia não é incomum ouvir que nunca antes o mercado passou por uma transformação tão avassaladora, que nunca antes houve tantas concorrências predatórias para escolha de agências ou que nunca antes o jornalismo gozou de tanta credibilidade do público. Entretanto, quando o objetivo é informar — e não ganhar votos nem a empatia do interlocutor —, é preciso mais cautela para dizer que algo acontece pela primeira vez ou com força jamais vista.

Em momentos como este, em que nós, aqui na redação, nos obrigamos a fazer um balanço do ano que chega ao fim, essa preocupação é ainda maior. E uma das constatações é a de que os movimentos do mercado seguem caminhos ou ondas que não findam nos 31 de dezembros.

Muitos dos fatos mais importantes de 2018 são consequências de acontecimentos dos anos anteriores — ou até mesmo de acúmulos sucessivos de longo prazo. Entre eles, a busca de novos caminhos pelas holdings de agências, a maior mobilização do mercado por inclusão, diversidade e contra o assédio, o fortalecimento das plataformas de vídeo sob demanda, a dificuldade de se enfrentar as fake news, o fechamento do cerco pela proteção de dados e privacidade, a acelerada transformação digital das empresas para atender às demandas dos novos hábitos dos consumidores e as constantes revisões nas relações de grandes clientes globais com seus parceiros de comunicação — que geram mudanças nas estruturas de marketing, nos modelos de trabalho e alimentam uma nova onda de in-houses. São, sem dúvida, fatos importantes de 2018, mas que se originam em movimentos anteriores ou são mais notados agora depois de ganharem corpo nos últimos anos.

Acompanhar os acontecimentos enquanto eles se desenrolam e noticiar sem a perspectiva histórica é um dos dilemas da nossa profissão. “Todo relato jornalístico tende ao provisório, quando não ao precário”, escreveu Otavio Frias Filho, em um de seus últimos artigos publicados na Folha de S.Paulo antes de sua morte, em agosto.

Cientes dessa deficiência inerente ao ofício, mas imbuídos da tarefa de oferecer um resumo o mais fidedigno possível do ano que se encerra — mesmo antes de seu fim —, e de apontar tendências que poderão ter desdobramentos futuros, nos dedicamos nas últimas semanas a revisitar, avaliar e refletir sobre o que de mais relevante publicamos nos últimos 12 meses. Após muitos debates internos, apresentamos no especial Retrospectiva, que ocupa 23 páginas desta edição, os fatos e destaques que nos parecem resumir melhor o exercício que finda nas próximas semanas, esperando encontrar da sua perspectiva, caro leitor, mais concordância do que reparos — embora estes também sejam bem-vindos.

Esta é a última edição de 2018. A primeira do ano que vem circula com data de 7 de janeiro. Meio & Mensagem agradece e retribui aos leitores, amigos, parceiros e colaboradores os votos de Boas Festas. Feliz 2019!

 

*Crédito da foto no topo: Vedanti/Pexels

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