O brasileiro confia na informação que consome?
Estudo aponta um cenário de fragmentação das fontes de informação e busca por aqueles com viés ideológico claro
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A rápida progressão do volume de informação produzido ao longo das últimas décadas superou as expectativas mais otimistas, alcançando um patamar que mal conseguimos dimensionar – quanto mais, acompanhar. São 402,7 milhões de terabytes de dados criados a cada dia (1) e mais de 5 bilhões de pessoas em todo o mundo navegando na internet e criando seu próprio conteúdo nas redes sociais (2).
Se informação é poder, como destaca a célebre frase atribuída ao filósofo Thomas Hobbes séculos atrás, experimentamos como nunca essa sensação de ter o mundo na ponta dos dedos, ao alcance de um clique, em nossos computadores ou celulares.
Eventos globais como os Jogos Olímpicos de Paris nos permitem acompanhar de perto essa conexão e essa construção gigantesca de conhecimento. No dia 05 de agosto, o X registrou um volume de mais de 1,4 milhão de conversas espontâneas sobre a medalha de ouro obtida pela ginasta Rebeca Andrade(3). O volume de conversas totais apenas nessa rede social aumentou 79,1% em relação à última edição da competição, em Tóquio, em 2021(3).
O celular, a TV e o computador nos permitem hoje escolher onde e quando queremos obter informações. Segundo a Globo, quase 70 milhões de pessoas assistiram às provas da ginástica artística durante as Olimpíadas, em suas diferentes plataformas, enquanto o canal de streaming CazéTV alcançou mais de 4 milhões de expectadores simultâneos durante as finais da mesma modalidade, conforme dados do YouTube.
Essa pluralidade de escolha e a fragmentação dos canais de notícias na hora de consumir informação se confirmam também na 3ª edição da pesquisa “Como o Brasileiro se Informa?”, realizada em junho deste ano pela Fundamento Análises, divisão de Business Intelligence da Fundamento Grupo de Comunicação.
Convidados a mencionar espontaneamente qual o principal meio que utilizam para se manterem atualizados, mais de 1.300 brasileiros acima de 18 anos citaram 129 diferentes veículos de mídia, dos mais variados portes e características, incluindo veículos regionais e especializados.
Quando questionados especificamente sobre notícias jornalísticas, a fragmentação se manteve, com a indicação de nada menos que 160 veículos diferentes. Embora predomine a preferência pelos sites de jornais, revistas, rádios ou canais de TV e os portais de notícias para se manterem atualizados, alcançando 29% e 24% dos entrevistados respectivamente, as redes sociais também são uma opção para 21% dos participantes.
Outro destaque da pesquisa foi a maior busca por notícias em veículos com notório posicionamento ideológico, mencionados da mesma forma espontânea. É de se supor ser esse mais um reflexo da influência da polarização política que o país ainda atravessa e das crenças pessoais na escolha das fontes de informação.
Desconfiança nos canais e fontes de informação
O levantamento mostrou também que, em meio ao verdadeiro turbilhão de dados a que somos submetidos, é grande o desafio de separar a informação autêntica das chamadas fake news, termo que se popularizou nas eleições norte-americanas de 2016, a ponto de ser escolhida como a “palavra do ano” pelo Dicionário Oxford e inspirar a primeira edição dessa pesquisa.
Embora comparativamente tenha sido possível notar uma queda generalizada nos índices de confiança em todos os meios desde 2016, os brasileiros acreditam que aqueles considerados “tradicionais” têm maior credibilidade; 53% confiam mais (sempre confio e frequentemente confio) em sites de jornais, revistas, rádios ou canais de TV; 50% em portais de notícias e 47% em jornais impressos. A TV por assinatura obteve maior índice de confiabilidade para 45% dos respondentes frente à TV aberta, com 38% das opções.
Quase 70% dos entrevistados procuram checar a veracidade do conteúdo que recebem, seja buscando o tema em fontes confiáveis ou recorrendo a sites de checagem de notícias. É um comportamento que denota maior cautela da população, corroborado pelo fato de que 45% reconhecem já ter compartilhado uma notícia falsa.
Contudo, há uma grande preocupação em relação ao uso da Inteligência Artificial na manipulação do conteúdo. Na seara das campanhas eleitorais, esse receio é generalizado: 86% temem a manipulação de fotos ou vídeos falsos dos candidatos em situações polêmicas, 88% os áudios adulterados, 90% as reportagens falsas como se pertencessem a veículos jornalísticos e 88% a criação de sites e posts falsificados.
A crise de confiança provocada pelas fakes news, que atingiram seu auge durante a pandemia, afeta também as fontes: 43% dos participantes afirmaram não ter ideia se já receberam alguma informação distorcida por essa tecnologia, 59% dos entrevistados afirmaram nunca confiar em influenciadores nas redes sociais, 56% em lideranças religiosas e 46% em políticos. Pesquisadores e acadêmicos têm 72% de índice de confiança e, os médicos e especialistas em saúde, com 64%, parecem ser um porto seguro quando se trata de confiança na informação. Ao mesmo tempo em que os brasileiros se mostram mais atentos à qualidade do conteúdo recebido, receiam o mau uso da Inteligência Artificial e confiam em meios jornalísticos “tradicionais” e preferem consumir notícias em canais que assumem posições políticas claras.
Em uma sociedade democrática e plural, o acesso a fontes de conhecimento precisa e relevante, a liberdade de expressão e a formação de pensamento crítico são essenciais. Os resultados da pesquisa “Como o brasileiro se informa?” apontam a necessidade de ampliarmos e debate e a reflexão, envolvendo todos os que lidam com a informação, a notícia e a comunicação em diferentes vertentes. Reforçam, ainda, a demanda por ações de caráter educativo, tanto em relação ao consumo de mídia consciente, especialmente para as novas gerações, como no âmbito das novas tecnologias, abrangendo possibilidades, riscos e regulamentações.
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