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Opinião

O caos, a capacitação profissional e a responsabilidade de todos nós

Precisamos ser vanguarda, debater essas questões com seriedade para construir uma sociedade inclusiva


8 de fevereiro de 2023 - 15h00

relações profissionais e negócios

Quem quiser contar com esse tipo de especialista vai ter de investir, não há outro jeito no cenário atual (Crédito: Shutterstock)

A afrofuturista Jan Góes, professora da Universidade Federal da Bahia, foi clara e direta em seu recado: precisamos provocar o caos, pois só assim as coisas mudam. No primeiro momento a frase causa estranhamento, depois reflexão e, por fim, a revisão de conceitos pré-estabelecidos e a certeza de que é preciso agir rápido para estimular mudanças no mercado em que estamos inseridos.

E o que seria provocar o caos para a APP? Envolve, por exemplo, o incentivo à contratação de profissionais trans, 60+, negros e indígenas. É ajudar as mulheres a chegarem aos conselhos das empresas. Significa reduzir ao máximo o abismo entre a academia e o ambiente profissional e, não menos complicado, fazer com que os gestores entendam que o custo dessa transição precisa ser partilhado por todos nós.

Com toda certeza, muitas dessas pessoas não estão preparadas para responder de imediato aos desafios profissionais impostos pelos contratantes. Várias delas são oriundas de escolas e faculdades periféricas, distantes da formação da elite dos principais centros urbanos. Jovens que não conseguiram fazer inglês por falta de tempo e dinheiro. A vida, para muitos, passa pela janela do ônibus no trajeto entre a escola ruim e o bico mal remunerado. Daí, o “mercado”, essa entidade à qual sempre nos referimos como se fosse um ser à parte, não absorve essa mão-de-obra e continuamos a viver num país com gigantesca desigualdade social. Precisamos mudar urgentemente a dinâmica deste jogo cruel.

Exemplo simples e muito fácil de assimilar é a crescente demanda por analistas de Business Intelligence (BI) nas agências de Comunicação. Quem quiser contar com esse tipo de especialista vai ter de investir, não há outro jeito no cenário atual. Todos nós temos a responsabilidade de amplificar os esforços de capacitação, baixar a régua das exigências na hora de contratar parte da equipe e assumir a responsabilidade pela formação de um time mais plural. Não apenas plural no sentido étnico-racial. Quantas empresas, por exemplo, estão preparadas para receber pessoas com deficiência (PCD) em suas instalações. Ser diverso é também se preocupar com questões de mobilidade. Um cadeirante na sua empresa consegue chegar até sua sala com tranquilidade?

Tempos atrás, a Magazine Luiza abriu processo seletivo para contratar estagiários pretos e foi alvo de muitas críticas. Luiza Trajano e seus líderes não cederam à pressão externa. Hoje viraram referência. Os executivos e os profissionais de RH terão mais trabalho inicialmente para selecionar essas pessoas. Parafraseando o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, tudo é uma questão de letramento. Todos na corporação precisarão entender que nesse novo cenário não cabem mais piadas de mau gosto com os colegas, comentários indiretos, insinuações jocosas. Aprendizados de um novo tempo.

Precisamos ser vanguarda, debater essas questões com seriedade para construir uma sociedade inclusiva. Como entidade profissional associativa, a APP tem capilaridade, possibilidade de promover inúmeras conexões em todo o país, capacitando pessoas que hoje transitam à margem do mercado de trabalho. Queremos ao nosso lado outras entidades do setor dispostas a provocar o caos. Precisamos, acima de tudo, discutir, aprender, fiscalizar, cobrar e agir. A responsabilidade pela transformação do nosso país é coletiva.

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