19 de dezembro de 2024 - 14h00
Li recentemente um artigo bem interessante sobre um estudo do impacto da inteligência artificial (IA) na criatividade humana, o que despertou uma certa angústia. Como estamos usando a tecnologia a nosso favor? Ou será que estamos minando nosso potencial criativo delegando para o ChatGPT nossos pensamentos e criações?
O estudo foi conduzido por Anil R. Doshi e Oliver P. Hauser e publicado na Science Advances, trazendo os impactos reais da IA na criatividade, especialmente na produção de narrativas de histórias fictícias. E os resultados são, no mínimo, provocadores: enquanto a IA eleva a qualidade percebida das histórias individuais, ela também revela um efeito colateral importante, uma crescente homogeneidade criativa.
A pesquisa aponta que a IA funciona como um “impulsionador de ideias”, ajudando escritores, especialmente os menos experientes, a superar bloqueios e criar histórias mais agradáveis e bem estruturadas. Esse fenômeno, que pode ser entendido como uma “democratização da criatividade”, é fascinante pois nivela o campo de jogo, permitindo que aqueles com menor aptidão criativa alcancem resultados impressionantes.
Porém, a democratização tem seu custo. Ao analisar as histórias criadas com auxílio da IA, os pesquisadores perceberam que muitas seguiam padrões similares, com narrativas previsíveis. Em busca de eficiência, qualidade e volume, parece que sacrificamos um componente vital: a originalidade.
Ao contrário do benefício amplificado para aqueles que se julgam menos criativos, para profissionais mais experientes, a ferramenta se torna um suporte, e não um propulsor de inovação, onde a IA pode limitar a diferenciação.
À medida que a IA é amplamente adotada, surge o risco de padronização. Histórias geradas por algoritmos tendem a seguir padrões que já provaram sucesso, pois essa é a lógica da sua base, o que cria o paradoxo que falamos acima: enquanto a IA potencializa a criatividade individual, ela pode, no coletivo, reduzir a diversidade de ideias.
Para marcas, isso é um desafio crucial. Em mercados saturados, onde a diferenciação é vital, depender de padrões criativos uniformes pode enfraquecer a capacidade de engajamento e inovação. A autenticidade — essa camada quase intangível que conecta marcas a pessoas — é a moeda mais valiosa no branding e na comunicação.
E como todo branding e comunicação é feito por pessoas, entra a importância da evolução da criatividade humana, que não se resume a padrões ou lógicas previsíveis. É aí que entram atributos como intuição, empatia e a capacidade de contar histórias baseadas em nosso repertório cultural e social. Esses atributos são a essência de uma narrativa realmente impactante e que também não estão na nossa formação acadêmica.
A criatividade humana, com todas as suas nuances e imperfeições, é o que dá alma às histórias e campanhas que moldam culturas e transformam comportamentos. Cabe a nós garantir que a tecnologia trabalhe a nosso favor, sem comprometer aquilo que nos torna únicos.