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Opinião

O futuro disruptivo do setor automotivo

Melhoria incremental dos produtos não se sustenta mais para perpetuar as empresas. Prestação de serviços, conectividade, modelos autônomos, design e motorização mais sustentável são as novas fronteiras


30 de agosto de 2018 - 8h05

A expectativa de disrupção de setores é um tema que atrai de forma demasiada os estudiosos, a sociedade e mesmo investidores interessados na possibilidade de criar novos modos de viver, conviver e até sobreviver, desde que gerem benefícios para quem o oferece e para quem precisa dos mesmos.

Assim, nos últimos anos vimos o surgimento de um grande número de empresas voltadas para a inovação disruptiva, ou seja, pensando de forma a ficarem em linha com os desejos, necessidades e mesmo anseios dos clientes, cada vez mais exigentes, antenados, impacientes e imediatistas. A fórmula utilizada durante vários anos de facelift, ou seja, de melhoria incremental dos produtos, não se sustenta mais para perpetuar as empresas. A disrupção gera vantagens competitivas para os negócios que dela se aproveitarão para a criação de novos hábitos e costumes para a sociedade como um todo.

Um segmento industrial que vem gerando estudos, pesquisas, questionamentos e mesmo grandes investimentos é o setor automobilístico mundial e suas possíveis transformações em relação aquilo que o mundo vem vivenciando desde o seu surgimento no século XIX.

Apesar das enormes incertezas que ainda cercam as áreas regulatórias, de criação de redes de abastecimento, da produção e da reciclagem de baterias, os veículos autônomos e os elétricos são aqueles que geram a maior atratividade e interesse por aqueles que lidam, trabalham ou que possuem fascínio pelo conhecimento ou pela curiosidade. Estes dois fatores deram margem ao surgimento da indústria da mobilidade, como os tradicionais fabricantes mundiais começaram a se posicionar perante seus clientes.

A vantagem hoje apregoada para a autonomia plena de veículos é a redução drástica dos erros humanos, principal causa de mortes em acidentes veiculares, enquanto os veículos elétricos se justificam pela diminuição de emissão de poluentes, dois dos principais focos de melhorias mundiais do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Adicionalmente, com veículos autônomos, poderemos ter três vezes mais carros em circulação no mesmo espaço, segundo estudos mundiais desenvolvidos, além da liberação de áreas de estacionamento.

Quanto as baterias de lítio, existem perspectivas de uma concorrência com as células de combustível com hidrogênio, que também exigem pesados investimentos em centros de distribuição.
Para se ter uma ideia do que poderão representar essas mudanças, os veículos autônomos plenos demandaram investimentos nos últimos três anos de cerca de US$ 80 bilhões, segundo estudos realizados pelo Brookings Institution, grupo de pesquisa norte-americano fundado em 1916.

No que concerne a veículos elétricos, somente uma das maiores montadoras mundiais deverá investir US$ 86 bilhões até 2022, segundo comunicado oficial recente do respectivo board. Por outro lado, os veículos produzidos pela Tesla, tradicional fabricante mundial de carros elétricos, que com uma única unidade industrial conseguiu superar em valor de mercado bursátil diversas empresas com fábricas espalhadas pelo mundo, vem sendo objeto de sonho de consumo através de testes por executivos ou mesmo por aqueles que realizam turismo em várias cidades mundiais.

Tendo em vista a representatividade do setor automobilístico para os inúmeros Países em que se faz presente através de plataformas industriais, bem como o patamar significativo dos valores envolvidos em pesquisa e desenvolvimento para o alcance dos dois maiores desafios para o setor que se acham destacados acima, torna-se mister destacar em que contexto tais mudanças deverão acontecer e as situações que se apresentam no mundo atual para que o sucesso almejado possa ser efetivamente alcançado.

Aspectos estratégicos
A indústria automobilística possui uma tradição na fabricação de automóveis, mas que frente ao problema mundial reinante de mobilidade, tende a focar sua atuação nos próximos anos na prestação de serviços, que devem elevar a sua representatividade na receita total das montadoras de pouco mais de 1% para 25% até 2025, segundo estudos de consultorias internacionais.

Cada vez mais a sociedade perde o senso de propriedade de veículos para focar na mobilidade necessária, onde um exímio prestador de serviço será uma peça indispensável no contexto. Não é à toa que a grande maioria das montadoras mundiais desenvolvem parcerias com outras companhias ou mesmo incorporam em suas atividades o papel de prestador de serviços de mobilidade.

Projetos de novos veículos representam hoje investimentos da ordem de US$ 1 bilhão, produtos estes que possuem uma durabilidade aproximada de 12 a 14 anos e apresentam uma margem de lucratividade média na área automobilística compreendida entre 5 e 8% da receita.

Repara-se que os serviços, que em sua grande maioria se originam do aumento da conectividade de veículos, decorrem basicamente da transformação digital indispensável a todas as empresas atuantes no setor. Serviços possuem ciclo de vida bem curto e lucratividade da ordem de 45% da receita.

Aspectos organizacionais
A mudança de uma cultura empresarial centenária voltada para produtos e passando a focar em serviços demanda tempo e muitos sacrifícios, significando a necessidade de uma transformação brutal. A visão de negócios presente em todos os momentos, a necessidade de agilizar decisões, desenvolvimentos contínuos de seus executivos objetivando possuir um maior número de talentos e a busca de menos formalidades representam os maiores desafios para que a empresas deste setor tornem-se maduras no processo digital.

Para adaptar esta nova cultura indispensável para a sobrevivência das empresas, verificam-se hoje, no Brasil, esforços de montadoras no sentido de formar jovens executivos brasileiros para atuação como CEOs nas subsidiárias brasileiras, posicionamento este que reverte situações do passado em somente trazer profissionais do exterior para as posições de comando maior das organizações.

Aspectos tecnológicos
As grandes transformações visualizadas objetivam fazer com que os veículos atuem como um celular sobre rodas, passando a representar mais um meio de convivência, complementando a residência e o ambiente de trabalho. No futuro, o carro conectará os espaços de casa e do trabalho, tornando-se uma parte essencial da nossa vida diária, em vez de simplesmente um meio de chegar de A à B, sendo também mais uma opção de mobilidade.

Pode-se imaginar que os serviços a serem oferecidos pelos veículos tendem a se tornar o foco de atratividade dos clientes. Entender o caminho para o futuro fará parte da sobrevivência das empresas deste setor, precisando adivinhar quando acontece a demanda, acarretando investimentos bem e malsucedidos, com a exigência de um retorno financeiro satisfatório para remunerar seus acionistas.

Aspectos mercadológicos
Não obstante as dificuldades relatadas, os consumidores a cada dia exigem inovações em menor espaço de tempo, principalmente de conectividade, design e motorização mais sustentável (menor consumo e poluição), requerendo, para isso, maior conhecimento do perfil de consumo de seus clientes e a realização de maiores volumes de investimento para atenderem as suas expectativas.

Estudos internacionais mostram que o surgimento dos carros autônomos deverá gerar uma expectativa de redução de 40% do mercado automotivo na Europa, Estados Unidos e China até 2040, fato este que irá provocar um substancial aumento de concorrência entre as empresas do setor, que contarão também com a participação de concorrentes como Apple e Google.

Aspectos financeiros
É imprescindível para as empresas atuantes no setor buscarem maiores valorações em seus negócios, de tal forma a obterem o capital financeiro indispensável para a sobrevivência neste mercado. Cabe salientar que os newcomers Google e Apple já desfrutam de uma cultura digital indispensável para o setor, além de uma maior rentabilidade de seus negócios, fatores estes que devem gerar para as mesmas um grau elevado de competitividade, caso confirmem sua penetração no citado mercado.

Não há como desprezar que fusões, associações, parcerias, alianças operacionais e/ou estratégicas, inclusive aquelas entre montadoras já existentes para o desenvolvimento de motores, representarão ações indispensáveis para um setor que passará por grandes mudanças em seus pilares estratégicos, organizacionais, tecnológicos, mercadológicos e financeiros. Redução no número de ofertantes neste mercado deverá ser uma realidade que a cada dia mais se aproxima, de tal forma a permanecerem as empresas que apresentem a melhor relação custo/benefício para seus consumidores.

Cabe ressaltar, ainda, que há alguns anos algumas consultorias internacionais já apregoavam como necessárias as mudanças estruturais em um mercado em ampla transformação como o automotivo.
Cumpre registrar que alterações desta natureza já aconteceram em segmentos industriais como o de celulares e de televisores digitais, com o desaparecimento de fabricantes tradicionais como Nokia, Ericsson, Sony e Philips, dando margem ao surgimento ou fortalecimento de outros que passaram a oferecer maiores vantagens competitivas em seus mercados de atuação.

Assim sendo, não temos como deixar de lembrar a expressão que a mídia busca desenhar para o futuro do nosso País, trazendo para a nossa mente: “que setor automotivo teremos no futuro?”

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