O Gabriel Schmitt tem razão
E, antes dele, Ercílio Tranjan, já alertava que o importante na comunicação não é “o que fazemos, mas como as pessoas ficam depois do que fazemos”
E, antes dele, Ercílio Tranjan, já alertava que o importante na comunicação não é “o que fazemos, mas como as pessoas ficam depois do que fazemos”
Origem e original são duas palavras com a mesma raiz etimológica. A origem não te obriga a ser redundante e refém de um mesmo tema eternamente. Mas sim, ser original inspirado em ideias que respeitem o que é essencial e que as antecedem.
Com outras palavras, é exatamente o que eu senti na matéria “Volta ao básico”, do Meio&Mensagem, do dia 10 de fevereiro. Uma longa e esclarecedora entrevista com o Gabriel Schmitt, Chief Creative Officer global do Grey Group. A entrevista é uma lufada de ar fresco. Principalmente agora, quando a poeira digital pode confundir nossa visão.
Se eu disser que pauto meu trabalho pela convicção de que não podemos dar um passo sem compreender o que as pessoas sentem, leitores dirão: lá vem ele com a ladainha do outro século. Por isso, prefiro que o Gabriel, décadas mais jovem que eu, diga. “O mundo pode mudar quanto for, mas seremos sempre humanos. Existem coisas que nos tocam que são intangíveis…Não estou falando de fazê-las chorar, mas de tocá-las, de fazer com que parem, prestem atenção, pensem diferente ou se divirtam…O motivo pelo qual existimos ainda é o mesmo”. Obrigado, Gabriel.
Quando ainda trabalhava em agência de propaganda, lembro-me de ouvir o inspirado Ercílio Tranjan, que dirigia a criação da MPM-Lintas, me dizer algo assim: “O importante não é o que fazemos, mas como as pessoas ficam depois do que fazemos”. Nosso compromisso em comunicação de marcas é tão simples, ou tão complexo, como isso.
Por que, tantas vezes, nos desviamos dessa rota? Mesmo sabendo que é lá no fim do arco-íris que existe um pote de ouro. Não adianta encurtar o caminho, que é estreito e pedregoso, ou usar cômodos atalhos, muitas vezes perigosos porque conduzem para a casa da bruxa.
Já discuti algumas vezes nestas páginas que um dos riscos que enfrentamos hoje e que acaba nos seduzindo é a infinita montanha de informações à nossa disposição. Acabamos obesos com tantas informações, mas anoréxicos de insights!
As marcas mais bem sucedidas podem ter cometido um pecado aqui e outro ali, mas nunca deixaram de honrar sua origem ao perseguir o encontro com a originalidade.
Na mesma edição citada do M&M, encontrei outra pista segura de que não devo estar errado. O título: “Cresce a importância das marcas que refletem valores pessoais”. Nela, Bruno Lunardon, CEO da SoWhat faz eco ao que disse antes. “Parece simples mas, muitas vezes, com tantos ´OKR´s´, ´KPIs´, “pipelines´, ´moldes´e ´metas´, a gente esquece que o que de fato as pessoas estão querendo ouvir e receber como mensagem”. E, se o Bruno me permite, completo dizendo que as pessoas querem e precisam ouvir mesmo é aquilo que é fruto de uma autêntica compreensão do que elas sentem. E não do que elas simplesmente dizem. A propósito, uma das frases nas paredes de nosso escritório diz: consumidores dizem o que pensam, mas fazem o que sentem.
Em última instância, o que o Gabriel e o Bruno estão nos dizendo e também as palavras do Ercílio que ressoam até hoje em minha memória é que vale a pena essa busca! Ainda que extenuante, mas que gera dindim no fim do dia. Porque criam enlaces muito poderosos entre marcas e pessoas; estendem relações de fidelidade, alimentam projetos de felicidade, enfim.
Eu confesso que já pequei, já encurtei caminhos precipitadamente e construí conceitos cômodos, mas estéreis. Há um bom tempo, vi o cliente olhar para mim e dizer: Jaime, where´s the beef. Ele tinha razão. Agradeci, como se tivesse saído de um confessionário. E como tropicão também leva para frente, eu me corrigi e quem trabalha comigo, sabe disso. E é só por esse motivo que tive coragem de abrir o coração e assinar o que escrevi neste artigo.
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