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Opinião

O impresso como produto para um público exigente

Jornal é hoje um produto para poucos, para nichos, para quem tem tempo e, em troca, quer qualidade, conteúdo que não conhece, análises inteligentes, fotos fantásticas, apresentação gráfica de primeira. Nada menos do que isso


26 de abril de 2018 - 14h48

Crédito: Arthur Nobre

Esqueça a ideia de que o jornal deve servir a todo o mundo, de todas as classes, com um pouquinho de cada conteúdo, para todos os gostos. O jornal para todos é o jornal para ninguém. Erra do início ao fim, enche de conteúdos que para agradar 10% desagrada os outros 90%. E esse é o mal que contamina as redações do planeta. Editar páginas e mais páginas com o que, em outros tempos, chamou-se de “as grandes notícias do dia” é condenar o impresso ao fracasso. Os tempos mudaram. O público exigente também.

Jornal é hoje um produto para poucos, para nichos, para quem tem tempo e, em troca, quer qualidade, conteúdo que não conhece, análises inteligentes, fotos fantásticas, apresentação gráfica de primeira. Nada menos do que isso. Jornais não devem mais publicar notícias, mas ir além. A partir da notícia, traduzir em conteúdo fundamental. A matemática explica: há pelo menos oito horas de diferença entre a chegada de uma notícia à Redação e a decisão do leitor de folhear comodamente um jornal em casa ou no escritório. Normalmente há um pouco mais, 12 ou 15 horas. Alguém acredita que nesse intervalo o leitor simplesmente esteve alheio ao mundo?

Jornal deixou de ser um produto de massas, barato, para se tornar algo desejável, mais caro. Poucas e boas páginas. Menos assuntos, mas mais profundos

Não, na era da velocidade da informação a possibilidade de a notícia já ter chegado ao público-alvo é enorme. Logo, se equivoca quem trata a notícia como novidade nas páginas de um jornal. Isso significa o fim do impresso? Não, muito pelo contrário. O impresso ganha nova vida, objetivo diferente, a possibilidade de agregar valor a um público muito especializado.

O problema é que as redações, em geral, não estão montadas para isso. E mesmo os acionistas de uma empresa de comunicações ainda tremem quando devem assumir esse novo cenário. Com medo da mudança a circulação cai, a publicidade escapa, a rentabilidade despenca, as redações encolhem e todos caminham de mãos dadas para o final anunciado.

Não, os impressos não vão morrer – desde que se deem conta da mudança de hábitos do leitor. Jornal deixou de ser um produto de massas, barato, para se tornar algo desejável, mais caro. Poucas e boas páginas. Menos assuntos, mas mais profundos. É quase uma revista diária, agradável, com ritmo de leitura, surpresas, textos bem pensados, design convidativo, enfim algo que dê prazer. Não importa se o universo de leitora vai cair, importante é conhecê-los e atendê-los. Ser fundamental para esses.

Evidentemente essa revolução do impresso vem acompanhada de uma operação digital vitoriosa. Digital é jornalismo puro, não deve ser feito apenas por estagiários “para economizar”. Papel é profundidade, não pode ser coordenado por dinossauros ou por quem resiste às mudanças. O momento é propício para a revolução do impresso. Basta ter coragem, antes que seja tarde.

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