O medroso e o paranoico
Enquanto o medo trava você, a paranoia te prepara para o que der e vier
Enquanto o medo trava você, a paranoia te prepara para o que der e vier
Andrew Grove, um dos fundadores e ex-presidente da Intel, dizia que só os paranoicos sobrevivem. O medo é um instinto de sobrevivência. Um chip que já vem implantado em todos nós, de fábrica. Ele serve para nos manter longe do perigo. Ajudou nossa espécie a chegar até aqui. Você tem medo de cobra para não ter a ideia estúpida de fazer cafuné numa cascavel.
Assim como o medo, a paranoia também é um tipo de instinto de sobrevivência. Mas ela não vem de fábrica em todos nós. Só em algumas versões.
Os ansiosos, por exemplo. Os ansiosos são ótimos paranoicos. Mentes inquietas borbulhando hipóteses de tudo o que pode acontecer numa situação por vir. E se chover granizo? E se eu tiver piriri no trânsito? E se a minha vizinha, a simpática dona Mirtes, for na verdade uma espiã da KGB? Uma pessoa paranoica é uma metralhadora de “e se”.
Mas o que para alguns pode parecer um caso de psicólogo, para outros, é um “dom” cada vez mais valorizado. Principalmente dentro de empresas. Porque enquanto o medo trava você, a paranoia te prepara para o que der e vier. Obriga você a pensar em soluções para problemas imaginários enquanto rói as unhas, caso contrário, vai roer até os dedos. Um bom paranoico nunca é pego de calça-curta.
Percebe a diferença entre o medroso e o paranoico? O medroso perde uma viagem por não querer entrar no avião. Já o paranoico leva um GPS e um rádio para o caso de o avião cair na ilha de Lost.
Os paranoicos vão para um primeiro encontro já ensaiados para cem diferentes cenários. Eles leram desde uma revista de fofoca até um livro de física quântica, para poder quebrar o gelo independente do assunto que vier à tona. E se levarem um cano, tudo bem. Eles já haviam previsto que isso poderia acontecer. E já possuem um plano B, na forma de outra programação qualquer. Enquanto isso, o medroso nem chamou a garota para sair.
Acredite ou não, hoje existem milhares de pessoas compartilhando informações de como sobreviver a um apocalipse zumbi. Dá um Google para você ver. E quer saber? Isso, de certa forma, é reconfortante. Pois com 0,0000001% de chance do tal apocalipse acontecer, a humanidade vai continuar aí, existindo, sobrevivendo por meio dos paranoicos, que estocaram comida e construíram um bunker no porão da casa.
Mas voltando ao mundo dos negócios. Não dá para negar que vivemos momentos de incertezas no País. Tempos em que empresas geridas por paranoicos e equipes motivadas a buscar pêlos em ovos vão sobreviver para vender seus produtos e serviços outro dia.
Marcas que estocaram comida, construíram bunkers, estudaram a fundo um possível apocalipse econômico, político ou mercadológico e se prepararam para os diversos cenários vindouros. Ninguém quer ser o medroso da história. E é difícil usar um instinto com moderação. Mas, por outro lado, todos nós podemos desenvolver uma paranoia saudável.
Diz aí, você é do tipo que monta uma farmacinha antes de viajar? Tem roupa sobressalente na gaveta do escritório? Se sim, você tem talento para paranoico. Trabalha isso aí.
Compartilhe
Veja também
A consciência é sua
Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?
Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento
Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência