O mercado invisível: a revolução das interações automatizadas
Caminhamos para uma nova fase, na qual algoritmos inteligentes se tornam os principais mediadores entre consumidores e empresas
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13 de fevereiro de 2025 - 14h00
Imagine que você está planejando uma viagem de férias para um destino exótico. Em vez de passar horas navegando em sites de companhias aéreas, hotéis e agências de turismo, você simplesmente diz ao seu agente de inteligência artificial: “Quero uma viagem para um lugar com praias tranquilas, boa gastronomia e atividades culturais, entre os dias 15 e 25 de agosto, com um orçamento de até 5 mil dólares.” Seu agente IA analisa milhares de opções em segundos, negocia diretamente com sistemas de reservas e apresenta um itinerário completo, incluindo voos, hospedagem e passeios. Você aprova a escolha, e o agente conclui a reserva para você. Durante a viagem, ele continua a sugerir atividades e até resolve problemas como atrasos em voos ou reservas de última hora.
Agora imagine outro cenário: você precisa agendar consultas médicas e exames complexos. Seu agente de IA pode entrar em contato com diferentes clínicas, avaliar opções com base em proximidade, custo e avaliações, e agendar automaticamente um itinerário que maximize eficiência. Este é o futuro mediado por agentes de IA que está transformando não apenas viagens, mas todos os aspectos da vida cotidiana.
Essa nova interação entre consumidores e sistemas inteligentes já está se tornando uma realidade.
A era da navegação digital que conhecemos está chegando ao fim. Caminhamos para uma nova fase, na qual algoritmos inteligentes se tornam os principais mediadores entre consumidores e empresas. Com os avanços na inteligência artificial generativa, agentes autônomos estão cada vez mais capazes de gerenciar escolhas complexas, interagir com sistemas de oferta e concluir transações sem a necessidade de intervenção direta do ser humano. Uma revolução que impactará o mercado, desde o comportamento do consumidor até a publicidade e as plataformas digitais.
Hoje, os consumidores interagem diretamente com websites, motores de busca e aplicativos para pesquisar e comprar produtos ou serviços. Esse modelo exige dos usuários tempo e cuidado para navegar por inúmeras opções apresentadas, cujas informações sobre elas precisam ser filtradas manualmente, demandando mais esforço para a melhor tomada de decisão, que é, por fim, fruto de uma combinação de dados objetivos e apelos emocionais. Praticamente, não há negociações, apenas escolhas entre possibilidades predefinidas de produtos, preços, formas de pagamento e entregas.
Com agentes de IA generativa, o paradigma muda. Esses sistemas não apenas buscam informações de maneira mais eficiente, mas também personalizam seus resultados, com base em preferências individuais, e fazem negociações com sistemas de oferta. Imagine um consumidor que deseja encontrar um MBA. Seu agente pode:
– Identificar as melhores opções, baseando-se em critérios objetivos (preço, duração, conteúdo) e subjetivos (reputação da instituição, formato preferido).
– Interagir diretamente com agentes das instituições de ensino para verificar disponibilidade de vagas e condições.
– Apresentar as opções ao consumidor, que toma a decisão final.
Os agentes de IA podem automatizar os processos de negociação, de forma que tanto compradores quanto vendedores ganhem tempo e reduzam seu esforço para conquistar seus objetivos. Essa automação é alcançada por meio de algoritmos inteligentes que simulam o comportamento humano de negociação e tomam decisões independentes com base na análise da estratégia, atitude e linguagem do oponente.
Os bots de negociação de IA podem personalizar ofertas e descontos para consumidores individuais, aprimorando a experiência do cliente ao adaptar as negociações para atender às necessidades e preferências específicas. O uso de chatbots com assistentes de voz permitem que as plataformas de comércio eletrônico possam facilitar as negociações em tempo real, ajudando os clientes a encontrar preços razoáveis e satisfazendo suas necessidades.
Embora esses agentes ofereçam muitas vantagens, eles também apresentam desafios, como possíveis preconceitos na tomada de decisão e questões éticas relacionadas a negociações automatizadas. Por isso, é fundamental garantir a confiabilidade e a justiça das negociações conduzidas por IA para manter a confiança e a equidade nas transações de comércio eletrônico.
A inteligência artificial automatiza tarefas essenciais no marketing digital, como análise preditiva e personalização, ampliando a eficiência das estratégias de comunicação. A intermediação de agentes de IA reduz significativamente a importância da navegação tradicional e, consequentemente, do SEO (Search Engine Optimization) como o conhecemos hoje. No lugar, surge o AEO (Agent Engine Optimization), em que fornecedores otimizam seus dados e sistemas para dialogar diretamente com agentes. As principais mudanças incluem:
– Estratégias emergentes no futuro da publicidade: em estudo recente sobre storytelling baseado em IA generativa, os pesquisadores Marko Vidrih e Shiva Mayahi defenderam que a IA generativa está redefinindo o marketing ao criar narrativas personalizadas que ressoam profundamente com as preferências individuais dos consumidores. À medida que os agentes de IA assumem o papel de mediadores, as estratégias publicitárias precisarão se transformar radicalmente.
– Publicidade baseada em dados estruturados: A publicidade contextual mediada por IA aumenta a relevância das mensagens ao considerar fatores situacionais e preferências dos consumidores, conforme apontam estudos dos pesquisadores em ciência da computação Emil Häglund e Johanna Björklund.
A aplicação da IA no comportamento organizacional pode transformar as interações com consumidores, aumentando a personalização e a responsividade às demandas do mercado. Consumidores não mais navegarão, mas gerenciarão preferências em seus agentes. Isso cria um ambiente de:
– Decisão delegada: A confiança e utilidade percebida são fundamentais para a adoção de tecnologias mediadas por IA no comércio eletrônico, na visão dos pesquisadores Szabolcs Nagy e Noémi Hajdu.
– Confiança e transparência: A confiança nos agentes será um fator decisivo para sua adoção. Em paper sobre os efeitos no marketing das recentes inovações em IA, os pesquisadores Saad Shaikh, Rajat Bendre e Sakshi Mhaske apontam que os consumidores buscarão garantias de que suas preferências são respeitadas e que não há viés comercial na priorização de opções.
Para concluir, o impacto transformador da IA exige estratégias claras para mitigar riscos como vieses e manipulações, garantindo que os benefícios sejam distribuídos de forma equitativa. Assim como Adam Smith descreveu a “mão invisível” do mercado como o mecanismo que conecta interesses individuais ao bem coletivo, os agentes de IA podem ser vistos como uma nova “mão invisível digital”. Essa nova dinâmica depende de regras claras, supervisão e alinhamento ético para garantir que o benefício coletivo prevaleça. Regulamentação adequada será crucial para assegurar que pequenas empresas e consumidores se beneficiem igualmente dessa revolução digital.
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