O milagre de Lima
Da mesma forma que um case importante de marketing jamais será lembrado pela sua descrição, os jogos de futebol se beneficiam no top of mind quando têm um nome
Da mesma forma que um case importante de marketing jamais será lembrado pela sua descrição, os jogos de futebol se beneficiam no top of mind quando têm um nome
10 de dezembro de 2019 - 11h05
A final da Libertadores deste ano precisa ser batizada. Uma das coisas que aprendi nesta profissão é que as coisas precisam ter nomes para serem lembradas. Da mesma forma que um case importante de marketing jamais será lembrado pela sua descrição, os jogos de futebol se beneficiam no top of mind quando têm um nome.
Os jornalistas do futebol, mais do que os publicitários, seguem a regra à risca e ajudam a torcida a eternizar os momentos das suas nações clubísticas.
Ninguém fala “daquele-jogo-em-que-o-Brasil-tinha-tudo-para-ganhar-da-Itália-e-se-ferrou”, mas todo mundo lembra do “Desastre do Sarriá”.
O “Maracanaço” define a virada do Uruguai contra o Brasil na Copa de 1950. É só falar “Maracanaço” que o estômago já embrulha.
Se falar “7 a 1”, pior ainda. E nem precisa lembrar quando, contra quem, como… Passa o filme inteiro.
A “Batalha dos Aflitos” já conta a história de um dos jogos mais malucos do Grêmio, em que o time, na casa do adversário, e com sete em campo, conseguiu ainda converter um pênalti e voltar para a série A do Brasileirão.
A Batalha de La Plata entre River e Grêmio. O Milagre de Istambul entre Milan e Liverpool. A Batalha de Santiago entre Chile e Itália em 1962. A Batalha de Old Trafford. O Gre-Nal do Século.
Igualmente, times e seleções viram lenda porque as pessoas lembram de seus nomes ou apelidos: o Carrossel Holandês (ou Laranja Mecânica, este tinha dois), O Dream Team, O Rolo Compressor, a Academia.
Jogadas também frequentemente são chamadas pelo seu nome: “O Gol Iluminado” evoca o gol de Figueroa contra o Cruzeiro no título de 1975, no qual uma nesga de sol batia só e exatamente na cabeça certeira do zagueiro colorado.
Não são como apelidos de jogador. São nomes, ficam sagrados. Definem momentos únicos, incomuns, mágicos. E que se quer eternizar. Não é minha obrigação como torcedor — sou colorado —, mas meu instinto de diretor de criação fala alto e pergunta: ninguém vai dar um nome para o que o Flamengo protagonizou dias atrás?
Foram tantas coisas inacreditáveis que os meus colegas, que são publicitários e flamenguistas ao mesmo tempo, precisam fazer alguma coisa.
Mega, Tórtima, Carlinhos, Marcinho, Sleyman, Leitão, tem job na mesa!
O briefing é o seguinte: time que estava perdendo a final da Libertadores, e não conseguia criar nada de muito perigoso, chega no fim do jogo e tira a taça da mão do adversário com dois gols, legais, do mesmo jogador, que, por sinal, não tinha feito nada em campo.
O mundo do futebol parou. Até quem não era flamenguista ficou arrepiado.
Para colocar a azeitona na empada, no dia seguinte, enquanto comemorava a Liberta, em cima de um carro de bombeiros, o time ganha o Campeonato Brasileiro, sem entrar em campo.
Trata-se, provavelmente, do feito mais incrível, maravilhoso, lindo, incomum e bizarro já acontecido com uma equipe de futebol. Um jogo destes não pode ser chamado de “aquela final da Libertadores de 2019”. Seria uma tremenda injustiça.
Eu já botei uma ideia ruim no título deste artigo, só para começar. Se não aparecer melhor, vai essa mesmo.
*Crédito da foto no topo: Lesly Juarez/ Unsplash
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