O mundo seria melhor sem marketeiros?
Para muitos, parece que sim, mas o trabalho dos profissionais da área é fazê-lo deixar de ser “um mal necessário”
Para muitos, parece que sim, mas o trabalho dos profissionais da área é fazê-lo deixar de ser “um mal necessário”
Anúncios irritam. Essa é a percepção que tenho da pesquisa “Os brasileiros e a propaganda”, realizada pela Provokers para um novo livro de marketing que estou escrevendo. Nesse estudo, 1.079 pessoas foram entrevistadas sobre o tema e deixaram claro: 92% dos brasileiros gostaria que acontecesse uma mudança nas propagandas. Por que será?
Uma das razões deve ser o exagero. Em média, vemos mais de 5 mil anúncios por dia e, com o aumento do nosso tempo conectados em alguma tela, esse número cresce muito rapidamente. Outra razão deve ser a “abordagem”. O humorista Will Rogers certa vez disse que “a publicidade é a arte de convencer as pessoas a gastar o dinheiro que elas não têm em algo que elas não precisam”. Uma colocação que pisa no nosso calo e tira o meu sono.
Na mesma pesquisa fizemos uma pergunta ainda mais curiosa. Como ficaria o mundo sem marketeiros? O brasileiro tem opiniões divididas sobre isso, mas 61% não acha que o mundo ficaria pior. Pelo jeito, existe uma multidão que não valoriza o nosso trabalho.
É como se a publicidade fosse um “mal necessário” – algo que tenho que suportar para que alguns serviços existam na minha vida. Vou tolerar aquele logotipo horroroso de um patrocinador bem no meio da linda camisa do meu time de futebol do coração, porque com esse dinheiro conseguiremos melhores jogadores. Vou ter que fingir que não estou vendo aquele monte de propagandas no meio do meu jogo favorito, porque não quero pagar mais caro por esse aplicativo. Propagandas são ruídos, são fricção, são uma dorzinha de cabeça, um barulho de fundo que vou ter que aguentar porque eles estão pagando por parte de algo que estou acessando.
Enquanto o marketing for esse “amigo incômodo”, não resolvemos o problema. Se você está contando com a compreensão dos clientes para assistirem a cinco minutos de propaganda para ter direito a 30 minutos de wi-fi grátis, cuidado. A sua próxima geração de clientes é muito menos simpática a isso e pode te dar um susto nos resultados.
Os internautas estão usando bloqueadores de anúncios. E agora, o que fazer? Tivemos uma ideia! Vamos usar a tecnologia para criar bloqueadores de bloqueadores de anúncios. Que tal? Essa é a lógica que parece estar presente na maioria das comunicações que vemos por aí.
Mas precisamos pensar com outra lógica. A pergunta a se fazer é: que tipo de comunicação eu conseguiria entregar que fosse tão legal, útil e agradável para os consumidores a ponto de eles ficarem felizes até mesmo se tivessem que pagar para vê-la?
Será que existe algo que uma marca possa estampar em um uniforme que faça um torcedor preferir uma camisa na versão com o patrocinador do que sem? Será que uma marca conseguiria criar skins tão legais para o Fornite que faça os gamers preferirem uma versão branded do jogo? O que posso fazer para que a parte do “merchandising” de um podcast seja um trecho indispensável do programa para o ouvinte?
O “marketing que parece marketing” faz o cliente se sentir usado, explorado, parasitado. Faz o consumidor se sentir constantemente cortejado por um produto interesseiro, que finge amá-lo, mas que quer apenas bater as suas metas de vendas. Esse é o marketing que precisa mudar.
Encerro este artigo com bom humor, imaginando os votos que um produto para cabelo faria em seu casamento com a sua cliente se esse cenário não mudar:
“Eu, frasco de xampu, tomo você, consumidora, como minha legítima parceira comercial. Prometo amá-la, entendê-la e ajudá-la a ficar mais bonita. Prometo estar sempre na sua cabeça, nos bons e maus momentos. Prometo fazer você feliz com a economias quando comprar o frasco extragrande. E acompanhá-la em suas viagens em uma versão para nécessaire. Prometo ser fiel e também espero de você uma assídua participação em meu exclusivo programa de fidelidade. Meu amor por você será proporcional às vezes que você me pega nas gôndolas. Por favor continue me comprando eternamente e seremos felizes… até que o marketing nos separe.”
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