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Opinião

O olho do dono

Para vencer neste 2018 que bate à porta, sentir constantemente a pulsação das ruas será obrigatório na calibragem em tempo real das estratégias


4 de dezembro de 2017 - 12h35

Conseguir espaço na agenda do presidente de uma das maiores empresas do País é sempre tarefa árdua. Mas foi especialmente complicado para os jornalistas de Meio & Mensagem finalmente sentarem-se frente a frente com o entrevistado do derradeiro capítulo da temporada 2017 da série CEOs.

Nossos repórteres não eram os únicos no encalço de Rafael Chang, presidente da Toyota no Brasil e o 52o CEO entrevistado por Meio & Mensagem nos quatro anos de publicação do especial com os líderes das marcas mais relevantes dos principais setores da economia nacional. Prestes a completar um ano no cargo (assumiu em janeiro), ele pertence à dogmática estirpe de executivos devotos do cliente, os quais acreditam que a verdade está mesmo é nas ruas.

ade está mesmo é nas ruas. “Às vezes, as pessoas aqui perguntam onde está o presidente. E estou nas concessionárias. Gosto de estar nas fábricas. Na semana passada, dos cinco dias (úteis), três estive fora”, relatou Chang, ao editor Fernando Murad. E contou que até o final de dezembro terá visitado os 70 grupos das 238 concessionárias da marca japonesa nas cinco regiões do País — em meados de novembro, a conta estava em 60. “Sentado no escritório não dá para ficar”, resumiu.

Essa presença no ponto de venda e o contato olho no olho com clientes e colaboradores tem sido cada vez mais fundamental para acelerar a compreensão holística do negócio e acelerar a tomada de decisões em um mercado que, como tantos outros, mergulhou em profunda crise nos últimos quatro anos, impactado em duas grandes frentes.

A mais severa recessão econômica de nossa história é, sem dúvida, a maior responsável por derrubar quase pela metade o número total de veículos comercializados no Brasil nesse período, como mostra a reportagem de quatro páginas que compõe o Especial CEOs. Mas quantos carros deixaram efetivamente de serem vendidos por conta da mudança de comportamento das pessoas que escolheram opções alternativas de mobilidade? No mais recente ciclo virtuoso sob quatro rodas, encerrado em 2012, quando as vendas de veículos no País batiam recorde atrás de recorde, soluções para o deslocamento em grandes centros, como as bikes e o Uber e outros aplicativos similares, eram muito incipientes. Hoje, fazem parte do cenário urbano.

Os próximos 12 meses podem fornecer mais pistas sobre o nível de influência das duas variáveis, a da economia e a comportamental. A expectativa de que a indústria automobilística crescerá mais de 7% em 2017 deixa o setor esperançoso de uma retomada mais sólida em 2018, após recuperar um pouco de musculatura. Especialmente porque as montadoras ainda esperam a volta do consumidor final às concessionárias. Este ano, o crescimento no volume de negócios foi patrocinado pelo segmento B2B.

Os números do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre, divulgados pelo IBGE na sexta-feira, 1o de dezembro, e os indicadores do mercado financeiro mostram um cenário ambíguo. Foi o terceiro período consecutivo de alta do PIB, após uma sequência de oito retrações, encerrada em dezembro de 2016. O ritmo, porém, desacelerou: o incremento foi de apenas 0,1%. Já o viés de alta no câmbio e o de baixa na Bolsa indicam que, apesar do espaço para a recuperação econômica, há dúvidas quanto à capacidade do governo em manter a toada que imprimiu nas reformas até aqui, especialmente quando o assunto é a Previdência.

Para vencer nesse 2018 que bate à porta, à espera de uma consolidação da retomada da economia e sob o signo da instabilidade de um ano eleitoral propício para altas tensões, o mantra de Rafael Chang deveria ser o de todo CEO: sentir constantemente a pulsação das ruas será obrigatório na calibragem em tempo real das estratégias.

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