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O pêndulo mudou de direção

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Opinião

O pêndulo mudou de direção

Mas cabe a nós observarmos criticamente as escolhas que estão sendo feitas e entendermos as consequências que trarão à sociedade de amanhã


31 de janeiro de 2025 - 14h00

Nos últimos anos, vivenciamos uma espécie de oscilação ideológica que lembra muito o movimento de um pêndulo: ora pendendo para um lado, ora para o outro. Se, em 2016, a eleição do então presidente americano Donald Trump foi interpretada como um rompimento abrupto com o “status quo” progressista, hoje parece que esse impulso inicial se fortalece e se consolida em diversas instituições e empresas pelo mundo. O pêndulo, que outrora ameaçava voltar ao centro, agora parece ter mudado definitivamente de direção.

Um exemplo recente dessa guinada pode ser observado no movimento “woke” que ganhou uma conotação pejorativa dada pelos conservadores de extrema-direita. Para esses grupos, o “woke” seria uma espécie de “hipervigilância moral” ou policiamento ideológico que, em tese, cercearia a liberdade individual e sufocaria qualquer visão divergente. Na prática, o movimento ganhou força e repercussão por promover pautas de inclusão, diversidade e justiça social. Contudo, muitos dos grupos e empresas que antes adotavam ou respeitavam esse discurso começam a repensar ou mesmo desacelerar suas ações, evidenciando a mudança de ventos.

Outro sinal de que o pêndulo se move em sentido mais conservador é a volta aos escritórios. Após a pandemia, muitas companhias poderiam ter continuado com o trabalho remoto ou com modelos híbridos, mas optaram por retomar a cultura do “in loco” quase que compulsoriamente, principalmente nas empresas que exigem presença no escritório cinco dias na semana. A decisão, em parte, reflete a postura de hierarquias corporativas mais tradicionais, que acreditam na presença física como sinônimo de maior controle e produtividade.

Também podemos notar uma alteração expressiva no que diz respeito à verificação de fatos nas redes sociais. Plataformas como o X (antigo Twitter), Instagram e Facebook deram passos atrás no combate à desinformação ao reduzirem — ou até mesmo encerrarem — parcerias com verificadores independentes de notícias. Sob o pretexto de “liberdade de expressão” e menor interferência, abre-se um espaço perigoso para a disseminação de notícias falsas e conteúdos que antes seriam rotulados como discursos de ódio. Essa transição reflete o alinhamento de setores da sociedade com as ideologias do eleitorado que levou Trump ao poder, reforçando a ideia de que “cada um deve ter o direito de falar o que quiser”.

Por fim, a redução ou o fim de políticas afirmativas em grandes corporações corrobora a consolidação dessa guinada. Empresas que antes eram referência em diversidade e inclusão (algumas delas do Vale do Silício) passaram a enxergar essas ações como “custos desnecessários” ou obstáculos à meritocracia, desconsiderando a importância histórica dessas iniciativas para equilibrar as oportunidades.

É evidente que as transformações sociais são cíclicas e que o pêndulo sempre encontra um ponto de inflexão. Entretanto, neste momento, fica claro que estamos vivenciando um ciclo que pende para a consolidação de pautas mais conservadoras, em linha com aqueles que acreditam ter sido “silenciados” por muito tempo. Resta saber quando — e se — esse pêndulo voltará a oscilar para o outro lado ou se estamos trilhando um caminho de acomodação duradoura dessas forças. Enquanto isso, cabe a nós observarmos criticamente as escolhas que estão sendo feitas — e entendermos as consequências que trarão à sociedade de amanhã.

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