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O perigo por trás das telas

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Opinião

O perigo por trás das telas

Preocupação constante, a interferência das mídias na formação dos cidadãos, especialmente na infância e adolescência, atinge seu ápice com os efeitos da maciça adesão às redes sociais


29 de abril de 2025 - 14h00

Adolescentes com celulares apontados para suas cabeças, como se fossem armas. As imagens impactantes são da campanha “Posts podem matar”, criada pela agência mexicana Anónimo para a operadora de telefonia Claro Peru e lançada neste mês. O alerta para os perigos do cyberbullying é, segundo a marca, um incentivo para que os pais conversem com seus filhos sobre mídias sociais.

A trajetória entre uma publicação nas redes e uma tragédia — da depressão ao homicídio — está em grande evidência desde o mês passado, após a estreia e enorme repercussão da série Adolescência, da Netflix, que trata de questões urgentes como a masculinidade tóxica, a violência misógina e o bullying no ambiente digital, amplificadas pelas redes sociais e especialmente danosas nesta fase da vida, em que estão em construção os indivíduos que serão líderes das corporações e governos no futuro.

A interferência das mídias na formação dos cidadãos, especialmente na infância e adolescência, é uma preocupação constante. Em gerações passadas, a grande vilã já foi a televisão, seu uso como “babá eletrônica” para ocupar o tempo das crianças e os riscos para a saúde física e mental da exposição prolongada à telona — uma lista que inclui danos à visão, linguagem, cognição, sono e obesidade. Portanto, embora em escalas diferentes, não é nova a preocupação em relação ao tempo que as mídias roubam de atividades físicas e de interações familiares e sociais.

O debate sobre as redes como bicho-papão da juventude ganha espaço na reportagem de capa desta edição. Nas páginas 28 e 29, matéria da repórter Taís Farias analisa os desdobramentos na esfera pública, na política, no entretenimento, a reação das big techs no enfrentamento da exposição a conteúdos impróprios para esse público e a necessidade de mecanismos de moderação de conteúdo e de restrição de idade. Um dos grandes obstáculos que torna ainda mais complexa a questão é a baixa velocidade na adesão das plataformas globais, muitas vezes agarradas à cortina de fumaça de uma pretensa defesa da liberdade de expressão. “Nem tudo é liberdade de expressão e nem tudo é censura. O problema é que a regulação virou briga política. No ambiente polarizado em que vivemos, virou guerra entre liberdade de expressão e censura”, disse ao Meio & Mensagem, em entrevista publicada no início do mês, Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta.

Trata-se de uma postura que precisa mudar e ir além dos discursos, das propagadas ferramentas de controle parental e das pouco abrangentes campanhas de conscientização, que parecem ter muito menos força do que a dos algoritmos de atração e retenção e suas eficientes fábricas de bolhas — uma controvérsia que também envolve as marcas, que, com suas inserções comerciais, viabilizam as operações das redes sociais. Somente uma nova atitude dos players que as controlam pode evitar decisões extremas como a da Austrália, que aprovou a proibição de redes sociais para menores de 16 anos.

A busca de caminhos para construir um futuro digital mais seguro, justo e inclusivo para os mais jovens também será discutida no mês que vem, na edição 2025 do Marketing Network Brasil (MNB), evento fechado para convidados, que o Meio & Mensagem realiza no Tivoli Ecoresort da Praia do Forte, na Bahia. Um dos palestrantes é João Victor Archegas, coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) e professor de direito na FAE Centro Universitário, no Paraná. Na apresentação “O impacto do algoritmo: reflexões sobre a adolescência digital”, ele fará um mergulho crítico no funcionamento técnico e econômico das plataformas que moldam a vida online dos adolescentes, debaterá os limites do controle parental nesse ecossistema pensado para capturar a atenção e elencará os desafios técnicos, jurídicos e éticos das ferramentas e tecnologias que limitam o acesso por idade. Uma das provocações do professor, que provavelmente inquieta muita gente mundo afora, é esta: “Você deixaria seu filho sozinho com o algoritmo?”

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