O presidente da CBF e os patrocinadores
Quando o assunto é reputação, poucos contratos no mundo do esporte ofereceram tantos riscos às marcas quanto os da CBF das últimas décadas
Quando o assunto é reputação, poucos contratos no mundo do esporte ofereceram tantos riscos às marcas quanto os da CBF das últimas décadas
Há meses, a Confederação Brasileira de Futebol passa por mais um momento complicado. Em menos de um mês, o presidente caiu, um interventor foi nomeado, apareceram candidatos, e um ministro do Supremo Tribunal decidiu reconduzir o ex-presidente ao cargo. Quando você estiver lendo este artigo, é provável que novos capítulos dessa novela já tenham acontecido.
A Seleção Brasileira é muito importante para as marcas e para o marketing brasileiro. Em anos de Copa do Mundo, ela é o assunto de campanhas das mais diversas categorias de produto. Não é exagero dizer que os patrocínios praticamente sustentam a CBF. Por isso, tudo que lá ocorre é do interesse da nossa indústria.
Quem escolhe o presidente são as Federações Estaduais e os clubes das Séries A e B. É de praxe que os patrocinadores não se interessem nem tomem partido nesse processo. Afinal, as eleições são um assunto interno da CBF e os patrocinadores não são convidados a opinarem. Isso sem falar, que ninguém quer se arriscar a apoiar o candidato errado e acabar causando um mal-estar no futuro.
O presidente exerce influência em dois níveis: contratual e reputacional.
No lado contratual, ele (no masculino mesmo, uma vez que a CBF até hoje não teve uma mulher na presidência) interfere diretamente no trabalho da equipe comercial definindo metas de faturamento, participando de conversas com os executivos das empresas, definindo direitos, aprovando os contratos e aparecendo na foto quando o patrocínio é anunciado. Os contratos de patrocinadores simplesmente não acontecem sem ele.
O problema é que a maioria das pessoas que ocuparam este cargo desconheciam totalmente a área de patrocínios e as necessidades das empresas com quem negociavam. O seu único foco era “o valor do cheque”. Essa atitude atrapalha muito o trabalho das competentes equipes de marketing e comerciais da CBF. Muitas vezes, o valor que um patrocinador aporta vai além do dinheiro. Na CBF, contratos assim historicamente não eram valorizados adequadamente.
Quando o assunto é reputação, poucos contratos no mundo do esporte ofereceram tantos riscos às marcas quanto os da CBF das últimas décadas. Há 35 anos, patrocinadores perdem o sono pelos escândalos criados pelos presidentes da Confederação Brasileira de Futebol. A CBF tem uma longa linhagem de presidentes condenados, presos, e banidos do futebol por corrupção ou demitidos por assédio sexual. Os que não foram presos nem demitidos por mau comportamento, tampouco são grandes exemplos de liderança.
O impacto destes fatores é evidente: a Seleção Brasileira, que é um dos principais produtos no esporte mundial, deveria tem uma longa fila de empresas nacionais e internacionais querendo patrociná-la. Mas, apesar de ter sim ótimos parceiros, seu desempenho comercial ainda é inferior aos de outras seleções com menos tradição.
Estas receitas “perdidas” são investimentos que deixam de acontecer no futebol feminino, em tecnologia, em treinamento e infraestrutura. O produto “futebol brasileiro” piora a cada ano e todas as marcas associadas a ele perdem uma grande oportunidade de crescer também.
Uma CBF bem administrada, profissional, moderna, inovadora, onde a governança seja compatível com as das melhores empresas, e que valorize e promova a diversidade, será capaz de atrair mais marcas e mais investimentos. Um presidente conectado com o mercado e que entenda as necessidades das marcas, poderá oferecer melhores direitos contratuais, implementá-los de forma mais eficiente e assim, gerar melhores resultados para os patrocinadores.
A boa notícia é que o futebol brasileiro se profissionalizou muito nos últimos anos. Há muita gente qualificada na CBF, nos clubes, e nos grupos trabalhando para a formação da futura Liga de clubes.
A próxima eleição – aconteça quando acontecer – será decisiva para o sucesso do futebol, da CBF e dos muitos patrocinadores da Seleção Brasileira. Torço para que o vencedor entenda as necessidades do mercado e possa entregar mais valor para seus parceiros comerciais. O sucesso das nossas marcas na próxima Copa do Mundo da FIFA começará a ser decidida nas urnas, e não nos gramados.
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