O que o Caboré reconhece?
O evento levou para o palco vários sinais de que entendemos o valor da indústria que representamos e de que percebemos a necessidade de acelerar mudanças
O evento levou para o palco vários sinais de que entendemos o valor da indústria que representamos e de que percebemos a necessidade de acelerar mudanças
15 de dezembro de 2021 - 14h51
Vou começar ampliando a pergunta título deste artigo: o que um prêmio considerado o “Oscar da Publicidade” deveria reconhecer no momento em que a comunicação é, talvez, a mais importante ferramenta de geração de impacto social positivo, mudança de comportamento e transformação com a qual podemos contar?
O momento de disrupção que o mundo vive não tem similaridade com nenhum outro. Isso significa que todas as partes do sistema econômico no qual estamos inseridos estão em disrupção ao mesmo tempo. Tecnologia, indivíduos, sociedade, meio ambiente. Também significa que qualquer visão de futuro que use como referência apenas o presente ou o passado está fadada ao erro ou, pior, a travar ou reduzir a velocidade de transformação necessária.
Neste momento, nos movermos do lugar onde estamos para o futuro pede mais do que nossa capacidade de dar pequenos passos, pede que estejamos atentos e conscientes de que uma jornada interna e externa precisa ser empreendida e isso, como bem disse Samantha Almeida em seu discurso memorável no Caboré, pede intencionalidade.
Mas não é só. Também pede que tenhamos capacidade e que dediquemos tempo em reconhecer o sistema, perceber sua interdependência, sentir como ele se move e decidir como podemos e devemos alimentá-lo. Precisamos entrar em sintonia com o mundo que repetimos tantas vezes que queremos ajudar a mudar e isso pede mais do que nos apropriarmos das palavras da vez. Você pode até achar isso um pouco estranho para um artigo sobre negócios, mas precisamos começar a realizar o que está em nosso coração, não apenas o que está em nossa mente.
O que trazemos na mente, elaborado racionalmente a partir da experiência passada e presente, não dá conta da complexidade do que precisamos resolver agora.
O que vimos acontecer no Caboré indica que já começamos a perceber isso, mas só começamos. De saída, a lista de indicados foi construída a partir de um conceito ampliado de lideranças. A relação de profissionais consultados e ouvidos pelo Meio& Mensagem considerou pessoas e empresas de diferentes tipos e portes em diferentes áreas da comunicação, o que terminou por gerar a lista mais diversa da qual já tivemos notícia. Claro que ainda faltam coisas como ouvir pessoas e empresas de diferentes regiões brasileiras, mas nunca tantas pessoas pretas subiram ao palco do Caboré e nunca tivemos categorias construídas de forma tão plural.
O Caboré 2021 levou para o palco vários sinais de que entendemos o valor da indústria que representamos e de que percebemos a necessidade de acelerar mudanças. A presença de pessoas como Felipe Silva (Gana), Gabriela Rodrigues (Soko), Samantha Almeida (Twitter Next quando foi indicada e atual Globo) e de negócios como a Soko, o Mooc, o Think Eva e o Porta dos Fundos diz muito sobre quem somos e sobre o que precisamos nos tornar para sermos cada vez mais capazes de propor, provocar, influenciar agendas positivas. A comunicação está no centro da mudança e a comunicação publicitária e seus milhões de investimento em mídia, que também são milhões de investimento em pautas, narrativas, representações, padrões, referências, estão no coração do processo que influencia a formação dos valores e da cultura que definem as relações sociais.
O que deveria então reconhecer o “Oscar da Publicidade”? Vou deixar que você mesmo responda. Por aqui, fico com a certeza de que quanto mais formos capazes de ter uma premiação relevante, independente, corajosa, comprometida com o futuro da indústria, mais essa premiação vai contribuir com a construção de uma nova realidade e com a possibilidade de nós, como mercado, ocuparmos a posição de quem vê antes, de quem aponta caminhos, de quem oferece as ferramentas que podem ajudar anunciantes a fazer a transição que o mundo está exigindo agora. Um conjunto de coisas que depende só em parte do Meio & Mensagem, depende muito do tipo de valor que atribuímos ao prêmio, da forma como votamos, dos critérios que colocamos na mesa, da forma como nos organizamos (ou não) para que cada assinante tenha seu espaço de reflexão e respeito na hora de decidir que mensagem quer passar com a sua escolha.
Este ano, quem venceu e quem não venceu o Caboré tem muito o que comemorar, pensar e fazer para contribuir para que a próxima edição nos leve ainda mais longe. Consciência e escolha. Sempre vai ser sobre isso. Nos vemos em 2022!
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