O que o SPFW N44 tem a nos ensinar?
Seja nos desfiles ou mesmo nos corredores da Bienal, o evento é a prova de que o conceito de representatividade está cada dia mais forte e real
Seja nos desfiles ou mesmo nos corredores da Bienal, o evento é a prova de que o conceito de representatividade está cada dia mais forte e real
Na semana passada, aconteceu a 44º edição do São Paulo Fashion Week, o evento de moda mais importante do País. Após esses cinco dias de grande movimento podemos tirar algumas boas lições para o meio da comunicação:
Racismo (infelizmente) ainda acontece
Há três edições a LAB Fantasma, marca dos irmãos Emicida e Fióti, vêm quebrando paradigmas na cultura da moda nacional. Porém, o que não se imaginava é que em pleno 2017 aconteceria um caso tão explícito de racismo como o ocorrido com Fióti na terça-feira, 29. O estilista foi barrado pela segurança do evento, mesmo sendo um dos donos da marca e com a pulseira de identificação, como comentou em seu próprio Facebook:
Em nota, a assessoria de imprensa do evento diz ter tomado as medidas necessárias para repreensão da conduta dos envolvidos. No entanto, fica a reflexão: se nem o próprio estilista é visto como pertencente a aquele lugar, quantas pessoas negras também são barradas em locais que deveriam estar presentes, apenas por seu tom de pele?
As pessoas querem representatividade
Seja dentro dos desfiles ou mesmo nos corredores da Bienal, a SPFW é a prova de que o conceito de representatividade está cada dia mais forte e real. Num lugar com tanta visibilidade, trazer pessoas gordas (LAB com Mc Carol), de diversas idades (Ronaldo Fraga e seus modelos) ou simplesmente convidar mulheres fora do padrão como modelo de passarela (Gloria Coelho com artistas e clientes) é sensacional. Como efeito disso, a identificação e proximidade com o público são absurdamente maiores do que em outros lugares que permanecem no meio comum. Assim como a moda deve ser para todos, produtos e serviços também deveriam pensar mais num público realista.
Para todos os públicos
Outro marco importante dessa edição é o público. Cada vez mais estilistas passam a refletir como exibir a moda da maneira mais acessível ao público geral – e não somente a pessoas com bastante dinheiro. Fazer o desfile fora da área apenas para convidados foi a estratégia usada por Jahnkoy ao trazer a moda africana para os corredores da Bienal. Também tivemos a visibilidade de Ronaldo Fraga, que de maneira mais ousada levou seus modelos para frente da Oca, no Parque Ibirapuera. Como a youtuber e cientista social Nátaly Neri disse ao Superela: “o SPFW precisa sair da Oscar Freire e trazer outras narrativas, trazer pessoas que contam outras histórias através da moda e tornar isso aqui a semana de moda de São Paulo real, não a semana de moda da Oscar Freire.”
Em resumo
Padrões estão sendo quebrados, estereótipos estão ficando para trás – mesmo que nesse meio tempo aconteçam casos ruins difíceis de acreditar. Assim como ninguém mais quer ver só modelos extremamente magras nas passarelas, não queremos também comerciais de cerveja em que o foco são mulheres ultrasexualizadas, muito menos o próprio conselho regulador da publicidade nacional (Conar) usando como “gosto pessoal” aquilo que claramente é associado a diversos tipos de preconceitos. O SPFW é um reflexo da sociedade, assim como o meio publicitário: alguns erros aqui, alguns acertos acolá. E a gente segue tentando mostrar que marcas que apostam no respeito e na diversidade – de maneira verdadeira, é claro – entram em destaque e ainda colaboram para um mundo melhor.
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