Assinar

O que tem de novo na nova economia?

Buscar
Publicidade
Opinião

O que tem de novo na nova economia?

Mesmo que seu negócio seja um app incrível que propõe transformar o que conhecemos, você pode ainda assim ser uma empresa da velha economia


23 de julho de 2019 - 15h30

(Crédito: Erhui/iStock)

Acredite, o termo “nova economia” significa coisas diferentes para pessoas diferentes em tempos diferentes. Tenho pensado muito sobre isso enquanto observo tanto empresas já consolidadas quanto as que acabaram de nascer, das mais diferentes naturezas, assumirem o lugar de fala na discussão do que está estabelecendo os novos padrões do que conhecemos até hoje como economia.

Nos últimos meses, li artigos e conversei com muitos amigos em posições de liderança buscando uma resposta para a mesma pergunta: “o que tem de novo na nova economia?” O que li e ouvi com mais frequência pode ser resumido em 5 pontos: a transição de produtos para serviços, a tecnologia, a colaboração, o valor do usuário (ou consumidor) e a velocidade de escala. Tudo isso junto é nova economia. Assim, um grande conjunto de empresas nascidas a partir do final dos anos 1990 poderia ser considerada, naturalmente, nova economia.

Do grego oikos, casa, e nomein, gerenciar, a palavra economia define um modo de agir que está relacionado a cuidar do lugar onde vivemos. Na velha economia, um modo de agir que teve como consequência a criação e adoção, também em escala, de ideias e comportamentos que passaram a valorizar a praticidade, a velocidade, a geração de demanda, a satisfação instantânea, a obsolescência programada, o status financeiro sem, em nenhum momento, discutir impacto. Como resultado, a casa onde vivemos experimenta sua pior crise hídrica, seu mais alto grau de poluição do ar, a extinção de vários de seus habitantes, o esgotamento de seus recursos e, entre nós, seus habitantes considerados mais inteligentes, a manutenção de um medo ancestral da escassez (apesar de toda a bibliografia disponível sobre a certeza de que estamos caminhando para um mundo de abundância) e uma crise de confiança sem precedentes na escala em que está acontecendo agora.

Mesmo assim, nos diferentes diálogos que mantive, raramente ouvi que o novo na nova economia é o entendimento da ética como a geração de bem comum, o impacto negativo como variável interveniente e não como elemento de exteriorização, o caminho como valor tanto quanto a meta, o modelo de desenvolvimento e implementação pensado a partir da promoção de bem-estar e não apenas de sua capacidade de gerar lucro, o pensamento complexo e a circularidade como o único modo possível de gerenciar a casa em que vivemos.

Segundo projeção do Banco Mundial serão necessários três planetas Terra para suprir a demanda por recursos naturais em 2050, quando a população global deve chegar a 9,6 bilhões de pessoas. Há um ano, o The Guardian informava que “a humanidade está devorando os recursos do planeta em volumes cada vez mais destrutivos” se referindo ao estudo da Global Footprint que revelava que, naquele momento, estávamos consumindo em 212 dias nossa média anual de consumo de carbono, alimentos, água, fibra, terra e madeira. Segundo artigos publicados nos últimos dias, no próximo 29 de julho teremos consumido todos os recursos naturais que o planeta consegue regenerar em um período de um ano, o que significa que já atingimos uma velocidade de consumo 74% maior do que a capacidade que a casa que gerenciamos tem de se regenerar.

Na verdade, todos temos que aprender a ser nova economia. Todas as empresas que nasceram a partir do final dos anos 1990 e todas as que nasceram antes disso, quem terminou a faculdade há 30 anos e quem está terminado agora. Isso significa muita coisa, incluindo uma necessidade urgente de colocarmos a tecnologia a serviço da criação de uma nova consciência em escala, capaz de pôr em prática, o mais rápido possível, novos modelos de negócio, novos modos de trabalho, novos modelos operacionais, novos modelos de distribuição, novos modos de produção, novas redes, novas cadeias de valor, novas formas de entender o que é resultado.

Isso também significa que, mesmo que seu negócio seja um app incrível que acabou de nascer entregando um serviço e não um produto e se propondo a transformar o que conhecemos até agora sobre distribuição, mobilidade, praticidade ou seja lá o que for, você pode ainda assim ser uma empresa da velha economia. Não existe nada de novo em colocar na rua produtos ou serviços que não consideram o dano que são capazes de gerar enquanto geram aprendizados como também não existe nada de novo em rejeitar modos de produção que não protejam tudo o que existe de mais humano em nós. Antes, podíamos dizer que não tínhamos como saber onde esse tipo de gerenciamento nos levaria, mas já temos banco de dados e capacidade de processamento suficiente para que essa afirmação não seja considerada razoável ou nem mesmo possível.

Temos dedicado muito tempo ao desenvolvimento de protótipos e à aplicação de modelos de melhoria contínua, mas temos discutido muito pouco questões relacionadas às consequências do tempo de aprendizado e às iniciativas necessárias para chegarmos a uma situação de dano zero, seja ele relacionado a impactos sociais, ambientais ou de qualquer outra natureza. A grande maioria das startups falhou e discussões sobre o conceito MVP (Minimum Viable Product) já são comuns, mas mesmo uma alternativa pensada como opção ao conceito, o EVP (Excepcional Viable Product), que recomenda que novas perguntas sejam feitas, ainda não contempla as questões necessárias para evitar a produção de pegadas e impactos negativos e a geração imediata ou potencial de danos individuais e coletivos.

Economia. Do grego oikos, casa, e nomein, gerenciar, a palavra que define como cuidamos do lugar onde vivemos. Tecnologia, colaboração, AI, Ux, Cx, Bx ou o x que você quiser inventar e escalar sem que a discussão sobre responsabilidade, consequência e impacto esteja na mesa é velha economia. Bia Luz, da Exchange4Change, fez a seguinte afirmação: “a economia circular não está a serviço de resolver os problemas gerados pela economia linear, está a serviço de criar os recursos, caminhos, ferramentas, modelos necessários para que esses problemas deixem de existir”. Algo verdadeiramente novo na nova economia.

Vale encerrar com a visão da New Economy Coalition, rede formada por 210 organizações focadas em construir um futuro onde pessoas, comunidades e ecossistemas prosperam, sobre o que deve ter de novo na nova economia:

• Justiça: uma nova economia deve funcionar para todas as pessoas, começando com as que historicamente foram marginalizadas e exploradas pelo racismo, imperialismo, classismo, patriarcado e outros sistemas de opressão.

• Sustentabilidade: uma nova economia deve suportar a regeneração de sistemas humanos e naturais e a produção de riqueza e o poder a serviço das necessidades humanas em um planeta finito.

• Democracia: uma nova economia deve incorporar princípios democráticos na gestão da vida econômica e cívica

Sabemos como chegamos até aqui e que podemos chegar a um lugar infinitamente melhor revisando o caminho e a meta. A nova economia é sobre tudo isso.

*Crédito da foto no topo: Chombosan-iStock

 

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • O panorama do streaming em 2025

    Quais ferramentas podem mudar o cenário no segmento para o próximo ano

  • Qual a primeira marca que vem à sua cabeça?

    Em um mundo saturado de estímulos, as marcas reconhecidas tornam-se “atalhos mentais”, mecanismos que nosso cérebro usa para poupar energia ao fazer escolhas diárias