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O redesign da humanidade

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Opinião

O redesign da humanidade

De que forma podemos ser mais inteligentes sem perder a ternura?


7 de junho de 2017 - 8h00

Em um amplo espaço à beira de um dos rios que cortam Montreal, tendas, contêineres e galpões abrigaram um dos mais efervescentes eventos da agenda global de inovação, capaz de colocar no mesmo palco o Nobel da Paz Muhammad Yunus, o lutador de MMA Georges St-Pierre e o cofundador da Apple Steve Wozniak.

A sexta edição do C2 Montréal, depois de 72 horas repletas de aulas, palestras, entrevistas, sessões de networking, coquetéis e outras tantas vivências para seis mil pessoas, trouxe como síntese uma das mais inquietantes perguntas contemporâneas: como evoluir, ao mesmo tempo, na técnica e em nosso senso de humanidade? De que forma podemos ser mais inteligentes sem perder a ternura?

Foto: Reprodução

O tema do ano foi concentrado em pensar os novos ecossistemas que pautam a intersecção entre negócios e criatividade. Nada mais pertinente para um mundo sedento por redesenhar a maneira pela qual as instituições e os sistemas sociais agem com e pelos indivíduos.

Do ponto de vista técnico, inteligência artificial foi a tecla mais batida. Intel, GE e IBM protagonizaram algumas das principais discussões sobre o tema ao apresentarem o grande momento de transição que, aos nossos olhos, assemelha-se a meados de 1990, quando a internet mostrava um futuro promissor, mas sem disponibilizar tantas ferramentas para que os cidadãos se tornassem autônomos a partir dela. O mesmo ocorre, desta vez, com a IA: temos consciência do quão longe poderemos ir, mas ainda não sabemos exatamente como dominaremos esta tecnologia em nossas rotinas.

O outro lado — o da humanidade — parte de um consenso: há uma distância perigosa entre pessoas e instituições, gerando um vácuo de lideranças e soluções que dá origem a respostas sociais de qualidade duvidosa, como o discurso populista — que, de acordo com Yunus, “é uma reação artificial e que não endereça o real problema: a desigualdade”.

Em um mundo no qual os oito mais ricos do mundo concentram metade da riqueza global, segundo levantamento da Oxfam — e este monopólio só faz crescer —, trata-se de um dos fatores de maior ruptura do tecido social e, por consequência, da perda de vínculos entre os indivíduos. Continuamos a achar que levantar muros, demitir pessoas para cortar custos e outras soluções clássicas ainda são as soluções. Porém, os problemas são novos e respostas diferentes precisam ser criadas.

No limite, a força de uma marca deriva da soma de todas as interações que ela proporciona. E todas elas devem ser permeadas por um forte senso de propósito e, ao mesmo tempo, potencializadas por mecanismos de inteligência que tornem estes diálogos cada vez mais relevantes e personalizados

O primeiro passo é colocar efetivamente as pessoas no centro, e o espaço das cidades será o palco principal onde assistiremos a essa grande transição de época. Sistemas mais inteligentes de trânsito, participação popular, cuidados com o meio ambiente, estímulo ao empreendedorismo são alguns dos tópicos que fazem do espaço público o grande ponto de encontro entre tecnologia e humanidade. Como aceitar, hoje, que fazer política se resume a votar e manifestar-se contra governos, por exemplo? Tecnologicamente, podemos participar e empreender soluções de maneira contínua, sem mais esperar o ciclo de sufrágio de um país, estado ou município.

Para as marcas, o desafio é o mesmo: criar um campo de experiências que transcenda as transações e funis de compra e passem a focar em uma perspectiva integral orientada à criação e manutenção de relacionamentos. No limite, a força de uma marca deriva da soma de todas as interações que ela proporciona. E todas elas devem ser permeadas por um forte senso de propósito e, ao mesmo tempo, potencializadas por mecanismos de inteligência que tornem estes diálogos cada vez mais relevantes e personalizados. E tudo isso é matéria-prima para a criatividade, tão importante quanto os números e algoritmos — ou seja, o tema continua sendo o aperto de mãos entre os dois lados do cérebro.

Como herança de três intensos e relevantes dias, o desafio é claro: seguir o caminho de um redesign do sistema operacional humano, orientado cada vez mais a criar vínculos que elevem nossa qualidade de vida a partir de uma perspectiva mais próxima, participativa, empreendedora, afetiva e inteligente. Quem se habilita ao próximo passo?

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