O show não pode parar
Processo de sofisticação do consumo será retomado com força uma vez que as condições econômicas voltem a ser minimamente favoráveis
Processo de sofisticação do consumo será retomado com força uma vez que as condições econômicas voltem a ser minimamente favoráveis
26 de setembro de 2016 - 14h09
Nesta segunda-feira 26, Hillary Clinton e Donald Trump ficarão frente a frente para um primeiro debate, que abre a fase decisiva da eleição presidencial norte-americana. As projeções são de que o encontro entre para a história como o duelo político de maior audiência dos Estados Unidos, atraindo entre 80 milhões e 100 milhões de espectadores.
“É um programa ao vivo. É uma enorme audiência. É um gerador de conversas. Ou seja: é tudo o que os anunciantes procuram nos dias de hoje”, disse Paul Rittenberg, vice-presidente comercial da Fox News, em entrevista para a Adweek, antes de arriscar uma definição para o embate entre a candidata democrata e o republicano. “É a nossa versão do Super Bowl — ou pelo menos dos playoffs.”
O entusiasmo do executivo é ainda mais justificado quando se analisam outros números — aqueles que tradicionalmente vêm a reboque quando a união entre grandes públicos e propriedades de mídia é consagrada. Redes como a CNN e a CBS venderam todos os seus espaços publicitários disponíveis na cobertura que farão antes e depois da transmissão (não há intervalos durante a hora e meia do debate em si).
Segundo estimativas, cada intervalo de 30 segundos foi negociado a cifras recordes para a ocasião, na casa dos US$ 200 mil. Os preços são ainda maiores para os comerciais a serem veiculados imediatamente antes do início da atração principal ou logo após o seu encerramento.
Cá por estas bandas, em clima oposto, beirando a apatia, iremos às urnas para o primeiro turno dos pleitos municipais já no próximo domingo, 2 de outubro.
Uma série de fatores explica a pouca atenção que a eleição tem recebido tanto na mídia quanto nas conversas nos corredores do escritório ou à mesa nas refeições familiares. Ao longo da campanha eleitoral, houve a concorrência dos grandes eventos esportivos (Jogos Olímpicos e Paralímpicos), o desfecho do processo de impeachment de Dilma Rousseff e as operações contundentes da Lava-Jato, envolvendo personagens mais populares do cenário político nacional do que os atuais candidatos a prefeito.
Outra forte razão para o desânimo geral em relação ao sufrágio municipal é a falta de confiança do público em dias melhores no curto prazo.
O efeito inicial da ascensão de um novo governo federal sobre o ambiente de negócios foi menor do que o esperado e os impactos da prolongada crise financeira ainda são sentidos no dia a dia
De acordo com a Nielsen, 2016 é o segundo ano consecutivo em que todas as cestas de consumo investigadas pelo instituto registram decréscimo em relação ao período anterior de 12 meses. Analistas internacionais têm sido mais céticos quanto à velocidade com que se dará a recuperação da economia brasileira. Exercícios em que o crescimento voltará a patamares superiores a 3% só devem ocorrer após 2019 — e olhe lá.
Ainda assim, surgem sinais de que começamos a deixar o fundo do poço em termos macroeconômicos, como a perspectiva de queda da inflação, que abrirá espaço para cortes consecutivos na taxa de juros, o que deve beneficiar os setores produtivos e a concessão de crédito.
“O Brasil dos próximos dois, três anos não terá PIB negativo de 4%, mas também não terá bonança”, afirmou Luis Arjona, presidente da Nielsen Brasil, à repórter Roseani Rocha. O executivo ressaltou que o panorama é positivo a médio prazo e que o processo de sofisticação do consumo será retomado com força uma vez que as condições voltem a ser minimamente favoráveis.
“Quando a renda voltar, não se trata mais de educar uma pessoa a tomar leite sem lactose”, ponderou Arjona. “Quando o consumidor voltar a ter dinheiro, já sabe o que quer.”
E você: também já sabe?
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