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Opinião

O único ingrediente “não copiável”

Com o assunto IA nos rodeando, fecho os olhos e me imagino nesse futuro dominado pela OpenAI e uma questão me intriga


11 de julho de 2023 - 6h00

Inteligência artifical de biometria por voz

É emocionante pensar, com otimismo. que a revolução da OpenAI será humana (Crédito: Shutterstock)

Nos últimos meses a Inteligência Artificial foi assunto onipresente em praticamente todos os debates e eventos que têm como centro de reflexão o poder da comunicação. Do SXSW, em Austin (EUA), até o evento de 25 anos do CENP-Meios (Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário), passando por Fóruns de RH, congressos voltados para o Varejo, além de artigos e reportagens do dia a dia nos veículos de comunicação, o ChatGPT – que aparentemente já virou sinônimo para a categoria IA – está em pauta falando como seu uso pode transformar os negócios ou as relações de trabalho.

A Inteligência Artificial está no centro desses debates com seu papel de tecnologia essencial pro futuro, mas o que estamos deixando de perceber é que quando falamos deste assunto deixamos de destacar o tema mais essencial: as pessoas e suas relações, o único ingrediente não copiável de toda e qualquer equação.

Fazendo um balanço desses quase seis meses de impacto que a Inteligência Artificial causou nos debates e negócios, me teletransporto para o SXSW, onde o assunto ganhou ainda mais visibilidade. Lá, ouvi que a Inteligência Artificial já está “disruptando” tudo à nossa volta. E resgato aqui alguns exemplos que já fazem parte do nosso dia a dia, como uma Alexa, um Grammarly, os algoritmos do Instagram e do TikTok, ou até mesmo aquele tênis de um anúncio que nos persegue pelas abas do Google por dias a fio.

A ênfase, porém, foi na Inteligência Artificial complexa, quase inimaginável, como impressoras 3D que estão no espaço criando, a partir da “compreensão de necessidades emocionais”, estações inteligentes (e coloridas) para garantir a sanidade dos astronautas que desbravam o universo. Sim, aprendi isso acompanhando uma das palestras mais emocionantes que já vi, com o casal Phnam e Mardis Bagley, sócios da Nonfiction, que trabalham com a NASA e a CSA (Canadian Space Agency).

E, claro, cabe citar aqui a Inteligência Artificial do tão polêmico ChatGPT, classificado pelo próprio Bill Gates como “o segundo evento tecnológico que mudará completamente o futuro”, como foi o PC nos anos 1980. Uma IA que provoca mais do que personalização, a individualização — principalmente nos mercados de medicina, alimentação e beleza, como levantou Amy Webb e ecoou William Whurley referência global em computação quântica.

Com o assunto IA nos rodeando, fecho os olhos e me imagino nesse futuro dominado pela Open IA. Nele, me intriga uma grande questão: qual será a revolução?

Alguns arriscam falar sobre educação: como capacitaremos as próximas gerações para operar, programar e entender o avesso dessa tecnologia? Como garantir, ainda no tema da educação, que não se abra um gap social tão gigantesco capaz de isolar a população menos privilegiada? Como garantir diversidade na programação, que é o backstage do OpenAI, ainda criado por seres humanos? (Ainda!).

Mas neste caso prefiro voltar ao evento dos 25 anos do CENP, quando me impressionei com a contundência da fala de Luiz Lara, presidente do fórum, resgatando no passado o pavimento de um futuro tão diferente, mas tão igual quando o elemento-base continua o mesmo: emoção.

Em uma digressão, arrisco traçar um paralelo com a História da Arte — que nasceu com a pintura de retratos fiéis à realidade, e foi desenvolvida na busca por técnicas de precisão. De repente, surpreendida, com o surgimento da “tecnologia” fotográfica, a qualidade melhorou, o retrato se “commoditizou” e todo o conhecimento do artista, aos olhos da época, ficou ameaçado. (Qualquer paralelo com as aflições sobre o ChatGPT é pura verdade).

Nasceu, assim, a expressão artística das emoções. Uma arte nova, menos concreta, em busca do que é humano e sentido para além do retrato; da foto. Uma arte poderosa que a tecnologia não era capaz de capturar.

Fico emocionada ao pensar (com otimismo) que a revolução da OpenAI será humana.

Eu trabalho com comunicação e não consigo fugir da força desse tema na revolução em voga. Vivemos na era das narrativas emergentes, da participação, da hiper segmentação por afinidades — evidência máxima de como o ser humano nasceu para contar histórias, ler o não dito, o não escrito, o invisível. É contando história que somos capazes de construir conhecimento técnico com emoção. É contando histórias que marcamos na memória. É pela memória que evoluímos.

Como brilhantemente disse Ryan Geller, CEO da Patagonia, “normalmente, a recompensa da solução de um problema é o convite para um problema ainda maior”. A revolução não será da OpenAI. Será relacional, emocional, espiritual. Essa tecnologia apenas nos permitirá olhar além, viver além, nessa equação humana que jamais se tornará commodity.

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