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Os sinais de Sorrell

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Opinião

Os sinais de Sorrell

Assim como o bom repórter está sempre próximo das notícias quentes, as notícias quentes sempre rondam o bom repórter — até mesmo quando ainda estão por acontecer


23 de abril de 2018 - 9h17

(Crédito: Reprodução/Sky News)

“São os ventos da boa pauta”, dizia a minha chefe, com um largo sorriso que contagiava a já naturalmente energética equipe de repórteres, todos ainda por completar os primeiros 30 anos de vida, ao menos quando começamos a trabalhar juntos, em 2002 — primeiro na revista IstoÉ Gente, depois em IstoÉ. Ao cunhar a frase, a editora Daniela Mendes se referia às situações em que, enquanto apurávamos uma pauta por um motivo específico, novos fatos e descobertas inesperadas mudavam os rumos da ideia original, tornando a reportagem que viria a ser publicada muito mais interessante e relevante.

Uma fina ironia dava o tom na figura de linguagem usada por Daniela: de natureza pragmática, ela reconhecia, com outras palavras e muita simpatia, o esforço da equipe em estar sempre em cima do lance, antenada com o que acontecia em nosso universo de cobertura, garimpando histórias, em contato direto e constante com as fontes — não havia sorte nenhuma ali, mas, sim, muito trabalho. Em um círculo virtuoso, assim como o bom repórter está sempre perto das notícias quentes, as notícias quentes rondam o bom repórter, até mesmo quando ainda estão por acontecer: os sinais do que está por vir quase sempre aparecem antes, mesmo que nas entrelinhas, ou sem um padrão identificável.

Essa proximidade com a informação latente permeou toda a jornada de Meio & Mensagem, ao acompanhar a saga da saída de Sir Martin Sorrell do WPP.

No começo de março, com a ideia de entrevistar o então CEO do WPP para a edição de 40 anos de Meio & Mensagem (lançada em 16 de abril), o editor executivo Alexandre Zaghi Lemos fez o primeiro contato com a holding britânica. A missão de entrevistar Sorrell ficaria com a repórter Isabella Lessa, que, ao longo dos últimos meses, entrevistou alguns dos principais executivos da indústria global da publicidade, como Arthur Sadoun (CEO do Publicis Groupe), Wendy Clark (chefe executiva global da DDB), Chuck Porter (chairman da CP+B), Rob Reilly (chairman criativo global do McCann World Group) e Troy Ruhanen  (CEO global da TBWA), dentre outros.

O dia acertado para a realização da entrevista, 14 de março, fez com que a incumbência passasse às mãos da jornalista Roseani Rocha: na data, Isabella estaria em Austin, para a cobertura especial do SXSW para Meio & Mensagem. Roseani também coleciona entrevistas com executivos das mais altas patentes do mercado, especialmente no lado dos anunciantes, como na série produzida durante o Festival de Cannes com os CMOs globais de Procter & Gamble (Marc Pritchard), Unilever (Keith Weed) e Johnson & Johnson (Alison Lewis).

Um dia antes, no entanto, em 13 de março, tornou-se público o primeiro marco na escalada final da tensão entre a holding e seu fundador e líder: o corte drástico nos ganhos de Sorrell, que viu seu bônus anual de longo prazo ser reduzido em 75% (de 41, 6 milhões de libras para 10 milhões de libras). Poucas horas depois da notícia ganhar a imprensa, uma mensagem cancelava o horário reservado para a entrevista com Meio & Mensagem, alegando mudanças repentinas no cronograma do executivo-chefe do WPP — e sem uma nova data específica para o compromisso.

Roseani não se deu por vencida. Após uma intensa troca de e-mails que durou duas semanas, na qual a amabilidade inicial do processo foi progressivamente dando lugares a repostas cada vez mais curtas, a entrevista finalmente foi reagendada, para 9 de abril. Mas, seis dias antes, em 3 de abril, veio à tona a investigação independente contra Sorrell, por “má conduta” na gestão dos ativos do WPP. Naquele mesmo dia, ao ver um novo e-mail dos assessores de Sorrell em sua caixa de entrada, Roseani já esperou pelo pior. Mas o aviso solicitava somente uma mudança no período da entrevista, remarcada da parte da manhã para a tarde.

Na segunda-feira, 9 de abril, porém, uma hora e meia antes do horário estipulado, nova mensagem dos assessores cancelava a conversa entre a repórter de Meio & Mensagem e o Sir, sem maiores justificativas. O derradeiro pedido por uma nova data foi respondido de forma evasiva e sem maiores delongas: “Nós a avisaremos.”

Cinco dias depois, no sábado, 14 de abril, a saída de Sorrell foi anunciada.

A entrevista que deveria ser a última do Sir como homem mais poderoso da publicidade mundial acabou por não acontecer. Mas a reportagem completa com os desdobramentos desde então e as análises de tudo o que pode acontecer daqui para frente no ambiente de negócios para as grandes holdings estão publicadas na edição 1807 do jornal.

 

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