Palavras sem alma
Ganhamos tempo e eficiência com o poderia da inteligência artificial, mas não podemos abrir mão dessa dádiva divina que é usar nossa imaginação
Ganhamos tempo e eficiência com o poderia da inteligência artificial, mas não podemos abrir mão dessa dádiva divina que é usar nossa imaginação
Eu e milhares seguimos estarrecidos com o poderio da IA e seus filhotes. Equipamentos de capacidade formidável despejam bilhões de caracteres em todas as línguas, respondendo em segundos a indagações de toda natureza que qualquer um de nós seja capaz de fazer. Outro dia escrevi um artigo pregando cuidado com o indolente hábito de chamar a esmo arquivos para saber de grandes bobagens ou requintadas fórmulas da bomba atômica.
Longe de mim esnobar as conquistas tecnológicas. Nas nossas empresas, e no meu day by day, perguntamos diariamente tudo que é nosso direito a essas ariscas maquininhas. Ganhamos tempo e eficiência nas nossas entregas. Sorvemos formidáveis briefings, mas defendo não nos entregarmos a esse falso conforto para substituir o uso magnífico da dádiva divina dos seres humanos que é usar nossa imaginação buscando as conjunções inéditas que só os nossos cérebros são capazes de produzir.
Digo que não é possível nem faz sentido deter os avanços da tecnologia. É como querer segurar a história, o caminhar da humanidade, mas aposentar precocemente a nossa capacidade imaginativa é um decreto para o fim de tudo. Sustento: devemos manter a escravidão das máquinas para melhorar a qualidade de vida do planeta. Mas nossa sobrevivência só estará assegurada com a garantia da manutenção da nossa liberdade de pensar e criar além e acima dos terabytes.
Há uma preponderância clara nas pautas diárias da mídia mundial: discute-se a imposição de limites para segurar os rumos da IA. Não sei se é possível trancafiar na marra os poderes já conquistados por essas plataformas que têm donos e endereços conhecidos. Temos a reação dos senhores dessa nova guerra. Não podem ser senhores do universo. Tampouco devemos ter a pretensão de censurar: a liberdade é para todos. Pelo contrário, defendemos direitos. Menos o de as máquinas sobreporem-se a nós. A humanidade tem o dever de autoproteger-se.
Não podemos ser alvos e/ou vítimas de decretos que nos reduzam. Os algoritmos já tiraram muito da nossa privacidade.
Mas temos e usufruímos ganhos impressionantes da nova tecnologia em quase todas as disciplinas, notadamente nos aspectos da saúde, graças aos engenheiros humanos.
Quanto às artes, às genialidades que arrancam suspiros e lágrimas, têm de sair das mentes com o toque divino. São da produção intelectual autônoma, humana, daqueles que produzem pensamentos únicos. Não podemos perder nossa capacidade de buscar e fazer valer o que é inédito. De sermos donos das emoções. Surpreender o planeta, fazer eclodir palavras e ideias com alma, antes que as máquinas o façam.
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