24 de setembro de 2021 - 13h32
(Crédito: metamorworks-iStock)
Tenho 6 filhos adotados. Por esta condição, sempre conversamos muito sobre valores de vida, direitos e deveres, responsabilidades perante o futuro, questões socioambientais, a parte que cabe a cada um de nós. Minha filha mais velha tem 36 anos, a caçula tem 8 anos e as conversas sempre giram sobre os mesmos temas. São as mesmas há tanto tempo.
Ando cansado desse conversê repetitivo. Há uma distância abissal entre o que sempre soubemos e sabemos que temos que fazer pela vida na sociedade e no planeta, versus os impactos provocados, os resultados alcançados ao longo desses 36 anos em que milito nessa área. Pregamos durante muito tempo pra convertidos, depois pra iniciantes e finalmente pra alguns interessados de primeira viagem.
Os conceitos e as gerações evoluem, Tripple Bottom Line vira Plataforma ESG, a cada novo Relatório do IPCC e Relatório de Desenvolvimento Humano aprendemos que Aquecimento Global agora se chama Mudança Climática, que os Objetivos do Milênio de “acabar com a fome e a miséria” em 2000 agora são Objetivos Sustentáveis da Agenda 2030 da ONU: “erradicar a pobreza, erradicar a fome”. Ou seja, são os mesmos objetivos que não foram resolvidos.
Nascem novos conceitos e novas terminologias, novos players, novos ativistas, novas empresas engajadas.
Mas pouco mudou de fato. Por que?
Uma hipótese de anos atrás é do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do ISA – Instituto Socioambiental: chegamos até aqui porque praticamos a Cultura do Acúmulo, na qual tudo é necessário e nada é suficiente.
A pandemia está nos ensinando a Cultura da Suficiência, da satisfação que nos basta: muito pouco é necessário, quase tudo é suficiente. Precisamos exatamente do que precisamos, nada além.
A riqueza não consiste no acúmulo do que já temos, mas sim na conquista daquilo que não temos. E na preservação daquilo que estamos perdendo. O enfrentamento a esta primeira hipótese, a da Cultura do Acúmulo, está em um novo modelo de negócios, um novo capitalismo.
Não a Green Economy, mas a Clean Economy. Um capitalismo limpo no social, no ambiental, na ética, nos valores que regem a governança dos negócios e as relações humanas. Porque, mais do que conscientes, vimos aprendendo a duras penas a ser consequentes. Porque nossas escolhas na vida provocam consequências.
A Clean Economy traz a consciência para investir em inovação e em respeito ao produzir, consumir, descartar, não esgotar, preservar, regenerar e renovar. Valorizar o que temos, para continuarmos a ter. Um outro jeito de praticar a vida como sociedade, não um novo jeito. O normal atual, apenas revisado e renovado, continuará repetindo os mesmos erros, gerando as mesmas soluções inócuas, agravando os problemas de sempre. Até meus filhos mais velhos perguntam: cadê as mudanças estruturais e não arranjos cosméticos?
Precisamos de um “outro normal” e não apenas de um “novo normal”.
Esse movimento em busca de um outro normal e contra a Cultura do Acúmulo terá que trazer também a revisão do que é Lucro. Afinal, Lucro é acúmulo.
Que tal Lucro Suficiente? É aquele que sacia suficientemente tudo do que precisamos e, ao mesmo tempo, produz e distribui benefícios econômicos e socioambientais, exatamente para perpetuar os ciclos da vida. Assim todos continuaremos a ganhar, a lucrar.
Também proponho uma expansão enriquecida de Propósito, tão frequente no discurso oficial de ESG.
Dicionários Etimológicos contam que Propósito é uma intenção a ser alcançada, uma promessa futura. Do Latim propositum – i vontade ou intenção de realizar alguma coisa.
Que tal acrescentar a noção de Sentido imediato a esse conceito de Propósito ao longo do tempo? Sentido é o indicador prático daquilo que estamos fazendo agora para alcançar essa tal coisa futura meio abstrata.
Sentido é o fazer, a ação, a mão na massa. Presente e futuro, ambos já.
Há uma distância entre o discurso sincero e a prática transformadora nas questões socioambientais. Esta pode ser uma outra hipótese para o avanço insuficiente que vimos tendo depois de tantos anos e tanta gente batalhando e tanta energia e tantos recursos nas mudanças necessárias à vida no planeta.
Mas há luz no fim do túnel, desde que haja túnel.
Em 2019, pouco se falava sobre ESG (lembrando, Environmental, Social, Governance) e as discussões no mundo digital brasileiro ainda eram restritas. Com pouco mais de 3.4 mil citações, 30% deste volume foi impulsionado pela imprensa tradicional, analógica.
2020 o ambiente digital trouxe a discussão sobre ESG para um novo patamar. Com crescimento significativo e um volume 6 vezes maior do que o ano anterior, foram coletados mais de 22 mil conteúdos sobre o assunto. Mas ainda é possível perceber uma confusão na conceitualização e no uso de terminologias.
Das mais variadas expressões utilizadas para referenciar ESG, as oito mais utilizadas foram, em ordem crescente: “questões ESG” (16%), “agenda ESG” (14%), “critérios ESG” (13%), “movimento ESG” (10%), “iniciativa ESG” (9%), “políticas ESG” (9%), fatores ESG” (8%) e “tendência ESG” (7%).
No Brasil, Fundos ESG captaram R$2,5 bilhões em 2020 – mais da metade da captação veio de fundos criados nos últimos 12 meses.
A Bolsa de Valores brasileira, a B3, anuncia as companhias que fazem parte da 16ª carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), em meio à onda ESG. O objetivo do indicador é ajudar investidores a tomarem suas decisões de investimento. Assim, induzem as empresas a adotarem as melhores práticas de sustentabilidade.
A nova carteira reúne 46 ações, de 39 empresas de 15 setores. Juntas, as companhias somam R$ 1,8 trilhão em valor de mercado, 38% do total do valor de mercado das companhias com ações negociadas na B3.
100% das empresas da nova carteira estabeleceram medidas disciplinares em caso de violação de direitos relacionados à orientação sexual e identidade de gênero (ODS 5-10), contra 77% da carteira de 2020.
58% das companhias promovem discussões com a alta liderança sobre a promoção da equidade quanto à licença parental entre homens e mulheres.
Os conselhos de administração das companhias da carteira são compostos por 77% de mulheres como membros titulares, mesmo porcentual de 2020, e 5% de negros como membros titulares, contra 3% neste ano (ODS 5 -10).
Além disso, 72% promovem práticas para encorajar representantes do grupo LGBTQIA+ a utilizarem os recursos disponibilizados pela companhia para sua integração aos demais funcionários, ante 48% na última carteira (ODS 5 – 10).
Já os fundos mútuos na Europa, segundo relatório da PwC, até 2025 receberão 57% dos seus ativos de fundos que consideram os critérios ESG. Isso representa US $8,9 trilhões, em relação a 15,1% no fim do ano passado. E 77% dos investidores institucionais pesquisados disseram que planejam parar de comprar produtos não ESG nos próximos dois anos.
Isto é fato. Um movimento em direção à consciência, consequência, responsabilidade, ao certo e necessário. Mais um movimento, uma evolução ao longo do tempo.
Aí está a beleza da Aventura de Construir: ela dá Sentido real, imediato, prático, concreto, bem palpável ao nobre Propósito das muitas Plataformas ESG e suas estratégias conceituais. A gente vê a coisa funcionando e dando certo, transformando vidas, no mundo real.
A realidade mostra por que a Aventura de Construir é tão necessária e decisiva no fortalecimento do protagonismo de populações de baixa renda e no desenvolvimento do micro empreendedorismo na Periferia. Veja:
No primeiro trimestre deste ano, nosso Índice GINI (pobreza) atingiu o coeficiente de 0,674. Péssimo. Brasil teve seu pior resultado histórico, empobreceu: 5,5% na década 2011 – 2021.
Hoje somos quase 15 milhões de desempregados no trimestre encerrado em abril de 2021.
Nossa taxa de informalidade no trabalho é de quase 40%. São 34 milhões de brasileiros se virando como podem, vivendo de arremedos de empregos, sem garantias, sem direitos, sem dignidade.
A pandemia empurrou trabalhadores para o empreendedorismo, por pura necessidade e não por vocação, o que resulta em mão de obra precária, improvisada e negócios próprios sem planejamento ou continuidade.
Só no primeiro trimestre deste ano foram feitos mais de 672 mil novos registros como MEI. 41,8% deles são no comércio varejista de vestuário e acessórios.
A previsão é de que o e-commerce venha a crescer 32% até o final o ano.
A Aventura de Construir encorpa, capacita e prepara essa massa de brasileiros para melhor enfrentar o mercado com a cara, a coragem, planejamento e competência.
Venha se aventurar e construir conosco uma vida melhor já, para todos. Isto faz sentido imediato. Só assim estaremos construindo também uma vida ainda melhor para todos, inclusive para meus filhos, lá na frente. Isto é um belo propósito futuro de ESG.
*Crédito da foto no topo: Audioundwerbung/iStock