Assinar

Poética para um novo tempo

Buscar
Publicidade
Opinião

Poética para um novo tempo

Paira no ar um misto de medo e esperança, vindos de lugares iguais e diferentes, tornando urgente um convite para a abertura de espaços comuns onde poderemos começar, desde já, a criar novas realidades


30 de outubro de 2018 - 10h00

Crédito: iStock/Grandfailure

Seja como for, acordamos hoje em um novo tempo. Um tempo que começa no dia depois do sono de um país machucado, dividido e exposto. Um dia em que paira no ar um misto de medo e esperança, vindos de lugares iguais e diferentes, tornando urgente um convite para a abertura de espaços comuns onde poderemos começar, desde já, a criar novas realidades.

Como todos os tempos pedem e este tempo exige, hoje abro este espaço para o outro em uma manifestação de acolhimento e diálogo, em um convite para o sentido que torna a ideia de sociedade algo concreto: nosso desejo de viver uma vida em comum, sem exclusões.

Hoje neste espaço, a voz é da jornalista, especialista em políticas de comunicação, arte e cultura, Marta Porto, em um texto que é parte de seu ainda inédito Laboratório do Imaginário e de projetos que nossas empresas — Juntos e HybridCollab — vêm desenvolvendo colaborativamente em diferentes momentos. Com a palavra, Marta Porto:

“Das guerras reais às guerras simbólicas que o século 21 nos brinda, uma das mais corrosivas é aquela oferecida diariamente pelas narrativas expostas nas redes sociais, nos discursos políticos, religiosos e da cultura da imagem, que trazem um novo tipo de enfermidade: os confrontos sem fim, sem mediação e sem mediadores, onde as pessoas transitam entre a angústia e a ânsia de silêncio ou devoção.

Como ideias tem consequências, elas podem disseminar o ódio ou incentivar uma cultura de tolerância.

São poetas e artistas que lembram para a humanidade a cada tempo e era vivida que a imaginação, a poesia e as artes são o principal antídoto contra o medo, a violência e a barbárie.

Nosso tempo hoje requer leveza. Humor, encantamento e poesia. Não é mais a luta do bem contra o mal, representada por Guerra nas Estrelas, por exemplo, mas a utopia da vida bela. Do instante de beleza que a poesia nos dá, que nos lembra que estamos na vida não só para trabalhar, lutar, brigar, mas também para amar, sorrir, dançar, abraçar, sonhar.

Vivemos um tempo onde o mais revolucionário é ser poeta. É afirmar a necessidade da beleza para tornar nossas vidas com significado para além da morte e da solidão que os acirramentos e confrontos diários nos levam.

São sempre os artistas, os poetas e os loucos que nos dão as inspirações para o futuro e nos momentos de ruptura com os símbolos que “garantem o sentido de humanidade”, os mitos de origem, como os contos de fadas, são evocados.

Releituras de A Bela e a Fera, Branca de Neve, Cinderela, o retorno do Pequeno Príncipe, Alice no País das Maravilhas, além das novas sagas de super-heróis, dominaram as salas de cinema nos últimos anos. La La Land, quase ganhador do Oscar 2017, a Forma da Água, vencedor como melhor filme em 2018.

O chamado da poética para os homens e mulheres de boa vontade parece ser esquecer por um segundo o horror e a corrosão que nosso tempo está produzindo, para nos lembrar que é possível introduzir a poesia, a alegria de se estar vivo, os encontros memoráveis como forma de resistência pacífica e afetiva.”

Complemento Marta Porto lembrando o que já escrevi aqui em um artigo de 2017: imaginamos por que construir o mundo sempre nos moveu e isso sempre incluiu lidar com todos os finais possíveis.

Imaginar é uma poderosa ferramenta de transformação. Enquanto imaginamos, colocamos valores e crenças em prática e resolvemos inseguranças e medos e, enquanto fazemos isso, aprendemos. É assim que salvamos e derrubamos impérios, reconhecemos e vencemos o mal, nos redimimos e aprendemos com o passado, entendemos que existem mais realidades além da nossa, aprendemos sobre diferenças, vencemos preconceitos, abandonamos ou ressignificamos papéis, superamos o crash da Bolsa, a bolha da internet, a crise do subprime, a violência e a corrupção.

Antes de fazer isso no entretenimento e no marketing, já fazíamos nas artes, na ciência e na política. Imaginamos a terra redonda antes de poder vê-la do espaço. Como cientista, Da Vinci imaginou homens usando asas antes de construirmos aviões e roupas de wingsuit. Einstein imaginou a relatividade antes de propô-la em uma narrativa matemática e antes que o eclipse total do Sol, em maio de 1919, trouxesse elementos capazes de comprová-la. Martin Luther King imaginou um mundo onde brancos e negros teriam oportunidades iguais antes da América ter um presidente negro.

Imaginar torna outros mundos possíveis muito antes que consigamos realizá-los e isso sempre foi revolucionário. Este é o novo tempo que começa agora.

 

*Crédito da foto no topo: Vedanti/Pexels

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • O panorama do streaming em 2025

    Quais ferramentas podem mudar o cenário no segmento para o próximo ano

  • Qual a primeira marca que vem à sua cabeça?

    Em um mundo saturado de estímulos, as marcas reconhecidas tornam-se “atalhos mentais”, mecanismos que nosso cérebro usa para poupar energia ao fazer escolhas diárias