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Opinião

Por menos pedidos de desculpas dos atletas brasileiros

O investimento em atletas de alto desempenho pode ser a chave para um novo caminho dentro do marketing e da estratégia de marca


2 de agosto de 2024 - 13h35

As expectativas dos brasileiros para as Olimpíadas de Paris estavam altas, com tantos bons resultados em campeonatos mundiais, etapas classificatórias e conquistas de melhores posições em rankings dos atletas vestidos de verde e amarelo. No entanto, até o momento da escrita deste artigo, muitas promessas não avançaram e acabaram eliminadas dos jogos bem cedo.

Porém, algo que chama atenção é a forma que os competidores brasileiros dão entrevistas às mídias que estão fazendo cobertura do evento esportivo após a derrota. A fala é, quase sempre, em tom de desculpas, como se eles tivessem que justificar para o país inteiro o porquê de não trazer uma medalha para casa, mesmo com tanto treino e dedicação. Indo além, a delegação está batendo na trave em várias disputas, que, com certeza, poderiam ser diferentes se seus integrantes tivessem um apoio recorrente.

Vejo de perto a necessidade dessas parcerias, com meu enteado, o João Victor Marcari Oliva, que representou o Brasil no Adestramento Individual nos Jogos Olímpicos em Paris. No entanto, acompanho a trajetória dele há anos, com outras duas Olimpíadas no currículo, a de Rio de Janeiro, em 2016, e a de Tóquio, em 2021. Ser atleta de alto nível é uma constância. Aliás, não só o atleta, mas a equipe toda. Histórias de técnicos, fisioterapeutas e outros profissionais que pagaram suas próprias passagens ou fizeram vaquinhas virtuais não são novidade e, infelizmente, parecem crescer.

A questão financeira é crucial para o desenvolvimento do atleta durante o chamado ‘ciclo olímpico’, momento em que precisam de boas quantias para bancar as despesas com treinadores, viagens, equipamento, dia a dia de treinos, médicos. E é aqui que as marcas poderiam ampliar a visão de marketing de influência, pensando em parcerias assertivas que possam reverberar positivamente para todos os lados de quem está nessa união. Elas podem ser um caminho para a renovação esportiva nacional.

O conceito de ‘Crossability’ e o universo esportista no Brasil

Sabe aquele mantra de que “gentileza gera gentileza”? Pois é. Essa máxima também se aplica ao universo das parcerias no mundo dos negócios, por mais que esse cenário pareça árido, sempre à mercê dos números que mensuram investimentos, perdas e lucros. Não há como unir o nome da sua empresa ao de outra marca – no caso, o atleta – pensando apenas no proveito que você, unilateralmente, vai tirar disso. O melhor match (e na minha percepção, o único possível) é aquele em que todo mundo sai ganhando em proporções similares.

Parece óbvio dizer isso, mas não é essa a prática que norteia boa parte das parcerias alinhavadas por aí. Nas Olimpíadas, vemos algumas colaborações que poderiam ser mais assertivas em termos de marketing de influência, por exemplo. É essencial que o encontro entre duas ou mais marcas amplie os horizontes de ambas e faça diferença no quintal de cada uma. Esse bônus não se refere meramente a faturamento imediato, mas sim aos efeitos que podem se estender a longo prazo para os envolvidos em cada enredo.

A arte de promover o cruzamento entre talentos, competências e ativos de segmentos normalmente distintos tem, para nós, da Cross Networking, um nome muito peculiar. Anote aí: é Crossability que chama. Um exemplo desse conceito seria o das marcas investirem no esportista ao longo do ciclo olímpico, trazendo um bom storytelling e uma curadoria de conteúdo bem feita para as redes sociais de ambos os lados. Desta forma, a parceria fortalece a empresa como agente ativa no fomento do esporte e o atleta consegue ter muito mais recursos para evoluir e transformar o sonho de uma medalha em realidade.

É triste ver manchetes de atletas chegando ao pódio sempre com uma história de superação de viés financeiro, especialmente quando eles competem com países cujos programas de incentivo ao esporte começam cedo e grandes, como nos Estados Unidos. Lá, universidades e programas esportivos de elite desempenham um papel fundamental oferecendo bolsas de estudo integrais para seus alunos e futuros campeões.

Na delegação brasileira de 2024, dos 276 atletas de 39 modalidades que representam o país nos Jogos Olímpicos, 9 em cada 10 contaram, ao longo da preparação, com dinheiro público por meio do Bolsa Atleta, segundo dados do Ministério do Esporte. A saber, no site da instituição federal, o valor da Bolsa Atleta varia de R$ 410 até R$ 16.690, conforme a categoria do atleta.

Entre os que conseguem ir para um dos maiores eventos esportivos do mundo, o pagamento de um atleta Olímpico e Paralímpico é R$ 3.437/mês. Porém, se ele se torna um medalhista, a quantia pode ir até R$ 16.629/mês. No entanto, para competir de igual para igual com as potências esportivas, é necessário um investimento contínuo e sustentável em infraestrutura, treinamento e suporte aos atletas, algo que as parcerias do setor privado poderiam fazer e ainda se beneficiar muito.

Fazer o bem é um bom negócio em todos os sentidos. Mas, longe das frases feitas que enchem a boca dos experts em discursos, vamos lembrar que o valor afetivo de uma marca é construído, em boa parte, a partir do orgulho que ela gera ao seu consumidor. Sem menosprezar a importância de custo-benefício e satisfação pessoal, esse elo se fortalece e se multiplica a depender das ações dispostas a reduzir injustiças sociais.

Veja como os discursos de parceria e esportes se entrelaçam! No lugar das manchetes de superação, que tal textos relevantes sobre as ações de uma marca em conjunto com

o atleta, durante o ciclo olímpico, com fortalecimento das imagens perante ao consumidor e um resultado cada vez mais perto do pódio? Com a medalha vindo ou não, o resultado para todos os pontos da equação será o mesmo: sucesso!

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