Possível parceiro, provável concorrente
As linhas que separam os players na indústria da comunicação estão cada vez mais tênues
As linhas que separam os players na indústria da comunicação estão cada vez mais tênues
O publisher do The Washington Post, Fred Ryan, informou sua equipe semana passada que, em 2017, o veículo ultrapassou a marca de um milhão de assinaturas digitais. O ritmo do crescimento do produto tem sido impressionante: os assinantes das plataformas online mais do que dobraram desde janeiro deste ano — e triplicaram se comparados com os números de 12 meses atrás. A bem-sucedida estratégia de expansão fez do Post o terceiro jornal norte-americano a alcançar tal marca com suas versões digitais, depois do The New York Times (2,3 milhões de assinantes) e do The Wall Street Journal (1,3 milhão de assinantes).
Como posicionamento, o objetivo é ganhar relevância nacional e global, concorrendo com o Times, e deixar para trás a imagem regional que acompanhava o Post nos tempos em que a edição impressa era o carro-chefe da companhia, antes de ser comprada pelo dono da Amazon, Jeff Bezos, há quatro anos. Em termos de caixa, a meta é que o faturamento com assinaturas em geral passe a responder por 50% das receitas. Hoje, representam aproximadamente um terço.
O Post tem avançado, sim, tanto na qualidade quanto na dinâmica de produção e publicação de seu conteúdo. Mas o preço básico para acessar seus produtos digitalmente é a metade do cobrado pelo The New York Times, que, por sua vez, não esconde de ninguém sua busca urgente para alavancar receitas de outras áreas — leia-se: publicidade —, apesar de ter a venda de assinaturas já definida como o foco principal do negócio.
Parte fundamental deste desafio já foi traçada: é preciso que até 2020 a publicidade provenha 50% de todo o montante arrecadado pelo Times com plataformas digitais, projetado para alcançar US$ 800 milhões em três anos, quase o dobro do faturamento digital atual. Nesta conta estão inclusos os dólares que entram na casa por meio de sua produtora in house T Brand Studio e das duas agências adquiridas pelo grupo em 2016: Fake Love e HelloSociety. Em entrevista ao editor Igor Ribeiro, o vice-presidente sênior de publicidade e inovação do Times, Sebastian Tomich, revela que a trinca tem trabalhado junto em projetos de branded content para grandes anunciantes. E que a conquista de dois GPs em Cannes no ano passado o fez acreditar que podem competir no mais alto nível com as agências em termos de criatividade e conteúdo.
Essa jornada dos veículos para tornar suas operações financeiramente viáveis enquanto adaptam suas estruturas para novos patamares de receitas, custos e margens, e enfrentam o aumento da concorrência por todos os lados, é um dilema de toda a indústria da comunicação e próprio da era digital em diversos outros setores da economia. Será abordado sob múltiplos ângulos também no principal evento de debates para o mercado de marketing, mídia e publicidade do País, o MaxiMídia, que acontece nas próximas terça e quarta-feiras, 3 e 4 de outubro, no hotel Unique, em São Paulo.
Em meio a diversas estratégias e tentativas diferentes, as linhas que separam os players são cada vez mais tênues e a sensação é de a única certeza, atualmente, ser a de que um dia todo mundo será, se já não é, ao mesmo tempo, um possível parceiro e um provável concorrente.
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