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Precisamos redescobrir o óbvio

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Opinião

Precisamos redescobrir o óbvio

Temos vivido uma onda de previsibilidade no marketing e a causa é a desconexão com o consumidor real


28 de outubro de 2024 - 14h00

Nos últimos anos, o marketing tem sofrido uma onda de previsibilidade. Ao invés de campanhas que surpreendem, envolvem e, realmente, conectam com o consumidor, o que vemos são fórmulas recicladas e uma dependência excessiva de tendências passageiras. E quem perde? Todos nós: marcas, consumidores, e, sobretudo, a relevância do marketing como uma força cultural e comercial.

O problema não é falta de criatividade. Temos diversos talentos nas agências e empresas. O verdadeiro problema é que muitas marcas perderam o contato com o consumidor real, que vive fora das bolhas de pesquisa e painéis de tendências. Quando esse contato é perdido, o resultado é um marketing chato, distante e, muitas vezes, irrelevante.

O marketing não pode se tornar uma repetição de fórmulas que funcionaram no passado. E isso muitas vezes acontece, pois há quem prefira seguir a rota mais segura: copiar o que funcionou para os outros. É como se houvesse um medo de arriscar, de se conectar com o consumidor, de ser original. Mas aqui está o ponto: essa conexão não é uma opção, é uma necessidade.

Quando foi a última vez que uma campanha publicitária surpreendeu você? Se você precisar pensar por mais de alguns segundos, isso é um problema. A criatividade sem propósito é perigosa porque transforma o marketing em ruído – sem impacto e relevância, apenas mais uma voz no meio de um mar de mensagens semelhantes que o público tende a ignorar. Neste cenário, a falta de autenticidade e conexão genuína é evidente.

A resposta está no consumidor

Vamos ser francos: poucas marcas estão, verdadeiramente, em contato com as necessidades e desejos de seus consumidores. Muitas confiam cegamente em dados que, apesar de valiosos, oferecem apenas uma visão parcial da realidade. Mas o que aconteceu com o contato direto? Quando paramos de conversar com as pessoas que compram nossos produtos?

O contato constante com o consumidor não é apenas uma tática de marketing; é a base de qualquer estratégia de sucesso. Não basta lançar uma pesquisa trimestral ou confiar em insights de agências externas. Você tem que estar lá, nas ocasiões de consumo, nas lojas, nas ruas, nos lares. Você tem que sentir o pulso da mudança e entender as nuances do comportamento humano que os dados quantitativos não capturam.

Há diversas maneiras de encontrar essas respostas. Uma das mais poderosas é mergulhar nos valores humanos básicos. Compreender as necessidades que alimentam nossas motivações nos permite desenvolver campanhas mais impactantes e eficazes. Outra é a regionalização. Em um país tão vasto e diverso como o nosso, é vital adaptar a comunicação aos diferentes “Brasis” que coexistem dentro do Brasil. Isso significa entender e respeitar a diversidade cultural de diferentes regiões, o que é fundamental para criar estratégias de marketing autênticas e bem-sucedidas.

Insight bom é insight óbvio

Há uma crença equivocada de que um bom insight deve ser complexo e revolucionário. Mas a verdade é que os insights mais poderosos são aqueles que estão bem na nossa frente, no dia a dia. Aquelas verdades simples e universais que, por serem tão óbvias, são esquecidas.

A verdadeira criatividade está em encontrar essas verdades no próprio cotidiano do consumidor e transformá-las em algo extraordinário. Pense na última vez que uma campanha tocou em algo super familiar, mas fez isso de uma forma que fez você pensar, sentir e se conectar. Isso é poder.

Existe criatividade na simplicidade

A complexidade é inimiga da clareza. No entanto, no mundo do marketing, muitos ainda parecem acreditar que quanto mais complexa a ideia, mais criativa ela será. Nada poderia estar mais longe da verdade. As campanhas que ficam na memória e se tornam parte da cultura popular, geralmente, capturam a essência de uma experiência comum de forma direta e impactante.

Muitas vezes a chave é simplificar, olhar para o que é essencial para o consumidor e construir a partir daí. Em um mundo saturado de informações onde todos querem comunicar tudo ao mesmo tempo, ser claro e direto é uma forma de se destacar.

É preciso olhar para as pessoas

Por fim, para ser relevante, uma marca precisa se posicionar como uma parceira da vida cotidiana. Isso significa entender a rotina, os desafios e as aspirações do consumidor. Quando uma marca consegue se integrar de forma natural e significativa à vida de seu público, ela deixa de ser apenas uma opção no mercado – ela se torna indispensável.

O marketing precisa refletir a vida no mundo real, com todas as suas complexidades e desafios. Ser parceiro do consumidor é estar presente nos momentos mais simples – como quando ele se deita em lençóis limpos e cheirosos após um longo dia de trabalho ou faz a barba antes de um compromisso importante. Isso é o verdadeiro marketing. E, na minha opinião, é o que precisamos resgatar. O objetivo final sempre é melhorar a vida dos consumidores e deixá-los impressionados com algo óbvio e escutar deles: como ninguém pensou nisso antes?

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