Premiar é preciso?
Festivais são chancelas importantes de excelência criativa, mas não há conquista maior do que um cliente satisfeito com os resultados
Festivais são chancelas importantes de excelência criativa, mas não há conquista maior do que um cliente satisfeito com os resultados
Diz a máxima do mercado que campanha boa é aquela que vende.
Correta de cabo a rabo, a sentença, porém, admite, e mesmo pede, complemento. Diferentemente de uma promoção, a venda pode acontecer a longo prazo, a partir de uma ideia para gerar relevância e diferencial. Pode ser uma defesa que estanque perdas. Pode ser um ataque para ganhar mercado. Mas, no final das contas, é verdade, ninguém investe em publicidade para ganhar menos no futuro. A intenção é valorizar a marca e o produto, para construir um ativo longevo, sustentável e lucrativo.
Diferencial sine qua non da indústria, o poder de sedução da ideia criativa ganhou aura quase mitológica décadas atrás, quando era vista como o toque de midas das agências de publicidade para os negócios de seus clientes. Os festivais passaram a promover as campanhas de maior destaque e a transformar seus autores em referências internacionais do setor. Os prêmios ganharam status de selo de qualidade. O fato de terem nos júris os pares da área acreditavam ainda mais valor e criavam reputação no círculo criativo. Tinha tudo a ver com o momento, a era, o espírito do tempo — daquele tempo…
A proliferação dos festivais, o fato de terem se tornado ótimos negócios em si e a indústria fantasmagórica de produção de peças com a finalidade exclusiva de ganhar troféus colocaram os prêmios na berlinda. As transformações no consumo de mídia e no escopo de entrega das agências passaram a exigir mudanças amplas nos julgamentos, do olhar analítico à divisão das categorias, para que continuassem representando valores contemporâneos da sociedade e reconhecendo a eficiência exigida pelos novos tempos de abundância na oferta — o que nem sempre aconteceu, ao menos não com a velocidade exigida simultaneamente pelo mercado e que determina o trabalho diário das agências e a eficiência dessas empresas quanto ao modelo de negócios.
De marco na carreira de um profissional e na história de uma agência, os prêmios passaram a ser alvos das críticas mais contundentes do escrutínio ao qual a publicidade foi submetida de alguns anos para cá, como se sintetizassem em seus troféus todos os demônios da indústria, um conjunto de sintomas que o CEO da FCB Ricardo John, em entrevista recente ao Meio & Mensagem, unificou na expressão “agenciafobia”, gerando um debate que é retomado nessa edição pela CEO da Sapient AG2, Miriam Shirley.
“Falhamos toda vez que não vinculamos criatividade a resultado. Erramos quando nos deslumbramos mais com prêmio do que com retorno sobre investimento”, escreve a executiva do grupo Publicis.
No artigo publicado na página 8, em que reconhece alguns dos erros que criaram percepções negativas quanto à publicidade, Miriam enumera argumentos em defesa das agências e do quanto avançaram em diversas práticas pelas quais foram criticadas. Tais avanços também começam a refletir na reputação dos festivais. Nessa dinâmica, é fato que muitos perderam importância, mas outros se valorizaram, especialmente os mais difíceis de serem conquistados e aqueles que consideram os resultados das campanhas para definir quais merecem ser destacadas. São estes os prêmios que compõem o ranking anual Meio & Mensagem de agências, anunciantes e campanhas mais premiados, publicado nesta edição.
Se não é possível cravar um revival dos prêmios, com certeza há o resgate do valor da ideia criativa, que, quando adequada a uma estratégia é aplicada com eficiência, estabelece um território a ser explorado exponencialmente a partir de dados, plataformas e ferramentas disponíveis.
Não há prêmio melhor que um cliente satisfeito com os resultados. Uma campanha premiada tem que ser capaz de proporcionar isso.
**Crédito da imagem no topo: Reprodução
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