Produtividade sustentável
Impacto na saúde mental ao enfrentar a pandemia trabalhando de casa acelera a busca das empresas para endereçar ações mais efetivas ao bem-estar físico e emocional dos funcionários
Impacto na saúde mental ao enfrentar a pandemia trabalhando de casa acelera a busca das empresas para endereçar ações mais efetivas ao bem-estar físico e emocional dos funcionários
Ainda não é possível mensurar os efeitos dos meses de isolamento físico, com as restrições de circulação ensejando a vivência das experiências rotineiras, como fazer as compras do supermercado ou reuniões de trabalho, e das ocasiões especiais, como aniversários e nascimentos, mediadas por plataformas digitais. Mas já está claro que as novas dinâmicas impostas pela pandemia estão deixando marcas psicológicas profundas nas pessoas.
A saúde mental está relacionada à forma como reagimos às exigências da vida e ao modo como harmonizamos nossos desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. No contexto pandêmico, o ambiente corporativo representa um desafio e tanto em meio aos novos modelos de trabalho. Há uma diferença significativa entre optar pelo home office e enfrentar uma pandemia trabalhando de casa.
A mudança para o trabalho remoto de supetão, sem a devida preparação estrutural e mesmo cultural de colaboradores e líderes, deixa lacunas nos processos e sobrecarrega os profissionais na busca do equilíbrio entre os horários de trabalho, as ocasiões de tarefas domésticas e os imprescindíveis momentos de lazer. Muitas vezes nem mesmo uma disciplina espartana pode dar jeito nessa equação.
Nunca se pesquisou tanto por termos relacionados a transtornos mentais quanto neste período de pandemia. Dados divulgados pelo Google em setembro do ano passado, ainda após a primeira onda, indicaram alta de 98% nas buscas sobre o tema por brasileiros em 2020, na comparação com a média registrada nos anos anteriores. Já em abril deste ano, 53% dos entrevistados do estudo “One Year of Covid-19”, realizado pela Ipsos para o Fórum Econômico Mundial, em 30 países, afirmaram que sua saúde mental mudou para pior desde o início da pandemia. O Brasil apareceu em quinto na lista das nações mais afetadas — liderada por Turquia (61%), Hungria (56%) e Chile (56%).
Os reflexos da pandemia no bem-estar emocional são tantos que podem chegar até ao consumo. Segundo Guilherme Spadini, médico psiquiatra e professor na The School of Life, a ansiedade prolongada pode levar, por um lado, a uma busca excessiva por consumo e, por outro, a uma procura por experiências mais significativas e conectadas com o propósito. “É preciso aprender a cuidar prioritariamente do nosso bem-estar e não da produtividade”, defende o médico psiquiatra.
Historicamente, o diálogo sobre transtornos, como ansiedade e depressão, é limitado. No entanto, nas últimas décadas, a sociedade tem avançado no processo de acabar com os estigmas que envolvem a saúde mental. Assim, mais pessoas estão entendendo que têm problemas e estão buscando ajuda profissional, sem preconceitos. A síndrome de Burnout, por exemplo, foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019 — entrará em vigor a partir de janeiro de 2022. Ela está diretamente relacionada ao trabalho e inclui sintomas como cansaço mental e físico excessivos, insônia, dificuldade de concentração e apatia.
Esses temas já estavam na pauta das empresas e a pandemia intensificou a busca das companhias por medidas mais efetivas em relação à saúde mental e ao bem-estar de seus funcionários. Esse esforço se materializa na criação de áreas específicas, na contratação de profissionais especializados e no acesso a terapia, atividades, como yoga e meditação, além de espaço para o diálogo e treinamento de gestores.
O papel da liderança nesse processo muito é importante, para desenvolver e irradiar na cultura organizacional uma escuta ativa para captar os sinais vindos dos funcionários e atender às suas necessidades. Se faz necessário orientar os colaboradores a identificar os gatilhos de estresse e ansiedade, assim como muni-los de ferramentas para combatê-los, neste momento, talvez seja a forma mais humana de manter a saúde e a produtividade das empresas.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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