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Opinião

Progressos lentos

Embora sejam maioria na ocupação de postos de trabalho nas áreas de marketing de grandes anunciantes, mulheres ainda têm mais dificuldades para ascensão nos organogramas do setor


22 de abril de 2019 - 11h51

 

(crédito: PeopleImages)

A baixa participação das mulheres nos espaços de poder é um problema global. No Brasil, apesar dos avanços, o vácuo ainda é flagrante — vide os recentes episódios de candidatas laranjas para cumprir a cota eleitoral no ano passado. A indústria de comunicação, marketing e mídia também evolui, mas a passos lentos. Nos últimos anos, a questão da equidade de gênero ganhou protagonismo no amplo debate sobre diversidade e conquistou também espaço constante na pauta de Meio & Mensagem. Com o intuito não apenas de abrir espaço para o tema, mas, especialmente, de fazer o papel esperado da imprensa, de adicionar dados que contribuam para o entendimento dos movimentos da sociedade, damos mais um passo importante nesta edição.

Sob inspiração no livro Mulheres do Marketing, lançado no final do ano passado, o editor Fernando Murad capitaneou nas últimas sete semanas o projeto de quantificar a presença feminina nas áreas de marketing dos maiores anunciantes brasileiros. Logo na largada, angariou o apoio da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) e aprimorou a ideia original com o auxílio da presidente executiva da entidade, Sandra Martinelli. A ABA incluiu o estudo nas comemorações de seus 60 anos de atividades e acionou as empresas associadas: 84 responderam à pesquisa no período de 9 de março a 4 de abril.

O inédito mapeamento aponta que as mulheres são maioria nas áreas de marketing, ocupando 67% dos postos de trabalho. Em algumas empresas respondentes, o departamento é integrado exclusivamente por mulheres. Outras, com atuação em segmentos nos quais o consumo feminino é dominante, têm percentuais acima da média, como Alpargatas (85%), Kimberly-Clark (78%), Unilever (77%), Nestlé (77%), Riachuelo (75%), Natura (75%), Avon (71%) e O Boticário (70%). Mas a presença feminina é também muito significativa em diversos outros setores, como mostram os índices de Braskem (95%), Bradesco (72%), Porto Seguro (70%), Lenovo (67%), SulAmérica (66%), Philips (64%) e Samsung (60%).

O problema é que, como indica a reportagem da jornalista Roseani Rocha, publicada na edição impressa 1857 do Meio & Mensagem, a ascensão nos organogramas do marketing faz rarear a incidência de mulheres. Das 84 empresas respondentes, 35 não têm nenhuma mulher em cargos de liderança no marketing, considerando os postos de superintendente, diretora, CMO ou vice-presidente — informação que pode ser lida da seguinte forma: em 42% das empresas ouvidas os rumos do marketing não são definidos com participação decisória de mulheres.

E a palavra do marketing é fundamental para o correto entendimento do mercado e a empatia das ações de comunicação. Assim como a presença feminina nas áreas de criação das maiores agências brasileiras, que Meio & Mensagem vem monitorando nos últimos anos, é crucial para mudar o histórico estereotipado da publicidade nacional. O dado atualizado publicado em janeiro mostra que em três anos, de dezembro de 2015 a dezembro de 2018, a presença feminina nas áreas de criação das grandes agências subiu de 20% para 26%. Já nas funções de liderança, o índice é menor — entretanto, mais que dobrou no período, de 6% de presença para 14%.

A conquista de uma sociedade mais justa, equilibrada e diversa não ocorrerá somente com equidade numérica. Há inúmeros outros aspectos que envolvem a carreira das mulheres, inclusive no marketing e na publicidade, como diferenças salariais no exercício de mesmas funções, cobranças desiguais como caminho forçado para a desqualificação, climas organizacionais hostis e taxação da maternidade como obstáculo para a evolução profissional, além da gravíssima questão de elas serem as vítimas preferenciais de assédios morais e sexuais. O caminhar muito mais lento que o ideal em todos eles exige que o tema não saia da pauta.

*Crédito da foto no topo: frimages/istock

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