10 de janeiro de 2018 - 15h13
Durante muitos anos a Polônia esteve fora do mapa. Mais precisamente, entre 1795 a 1918. É uma história de lutas; por pertencimento, por importância, por existir. Para os poloneses, como eu, é cultural lutar por seus direitos e, principalmente, por sua voz.
Faz parte da democracia abrir espaço para falar e ouvir. Falar sobre mulheres na publicidade não é muito diferente de falar sobre mulheres em outras profissões. Nossa indústria sofre problemas relacionados à diversidade, refletindo nas questões de gênero, religião e nacionalidade.
É nítido; mulheres ainda têm posições profissionais inferiores em relação aos homens, apesar de ser um pouco melhor na área de mídia e atendimento. Na criação e na tecnologia, as distâncias são enormes, com ênfase no masculino. Agora, quando o assunto é voltado para todas as profissões, o gap é ainda maior.
Segundo o IBGE (2015), a diferença entre um salário para o mesmo cargo, diferenciando apenas o gênero, é de 30%. De acordo com o Meio & Mensagem, somente 20% dos criativos são mulheres. O machismo ainda é grande no mundo todo e, por isso, é importante lutar.
Felizmente é possível encontrar mudanças. É importante observarmos como somos fortes, vide os recentes casos de empresas que precisaram alterar sua linguagem e conteúdo durante campanhas. Se antigamente uma propaganda de cerveja exigia uma mulher de biquíni servindo um homem, hoje isso não é mais aceito. Os exemplos são inúmeros, e ainda podem aumentar.
É preciso ser forte. Mudanças de paradigmas precisam de tempo e de força de vontade para se fazer valer. É um exercício diário, que vai dos setores mais altos aos mais baixos da indústria. Cutucar os homens brancos que ainda mandam e desmandam na publicidade é parte essencial de qualquer minoria, independente do seu cargo em uma agência.
A falta de diversidade caminha na contramão do mundo cada vez mais conectado e abrangente. A responsabilidade ao trabalhar com publicidade exige isso, inovação, criatividade e, acima de tudo, espaço igualitário para a nossa voz. O mercado mostra que quanto maior a diversidade, maior o impacto. Precisamos nos posicionar, nos fazer ouvir!
Lembro-me muito bem da discussão acalorada envolvendo Inteligência Artificial e racismo. A questão girava em torno do comportamento dos robôs, que reproduziam gestos racistas. O caso é bastante emblemático, uma vez que demonstra como as pessoas ainda possuem, enraizados em suas cabeças, comportamentos ofensivos. Enquanto não houver constantes debates a respeito de preconceito e oportunidades iguais, haverá cada vez mais diferenças entre as pessoas, refletindo em nosso meio de convívio.
Eu ainda era pequena quando a URSS foi dissolvida e a Polônia voltou a ser um país europeu. Naquela época, ainda lutávamos contra diversos tipos de opressão, de desmandos, de preconceito, principalmente conosco, mulheres. Mais do que nunca, o mundo passa por transições cada vez mais radicais. Sejamos ainda mais fortes. Não tenham medo!
Se nós queremos uma sociedade mais justa e igualitária, é fundamental que nós, mulheres da publicidade, mostremos nosso valor e nosso empenho, nossa luta, nosso grito, sem precisar segurar a mão de qualquer homem. É como minha mãe sempre diz: “Sabe contar? Então aprenda a contar o seu.”