28 de março de 2023 - 6h00
Crédito: Eduardo Lopes / Imagem Paulista
Em ambientes de abismo entre o discurso e a prática no universo corporativo, omissão do poder público e força sistêmica das estruturas estabelecidas pela manutenção de privilégios, as redes de apoio integradas por pessoas que vivenciam e lutam contra desigualdades têm se mostrado um dos caminhos mais eficientes para a inclusão social, profissional e econômica de grupos minorizados. Com dinâmicas próprias, acolhimento e empatia, ajudam muita gente a sair do isolamento em momentos angustiantes, que vão desde o rompimento de relações tóxicas ou de exploração até uma recolocação profissional.
Boa parte dessas redes sequer estão institucionalizadas. Surgem de necessidades urgentes e iniciativas pessoais de inconformismo e vão angariando adesões e gerando resultados louváveis, embora em uma velocidade muito menor que a necessária para vencer as injustiças contra as quais lutam. Algumas conseguem se pulverizar e poucas alcançam algum tipo de financiamento.
Especificamente no mercado de trabalho, ainda majoritariamente excludente, masculino e preconceituoso, em que proliferam ambientes hostis, grupos minorizados estão longe de um estágio de ocupação estável e contínua. Tanto que quem fura a bolha ainda é exemplo de exceção. Mulheres que são modelos de superação em distintas áreas, dos esforços de potencializar as periferias, vencendo os estigmas de medo e carência, aos projetos de transformação digital que geram impacto positivo na sociedade, se encontraram na semana passada no palco e na plateia da segunda edição do Women to Watch Summit, evento realizado em São Paulo, por Meio & Mensagem.
As histórias potentes de quem conseguiu ultrapassar a barreira da invisibilidade social sempre apontam para uma rede de apoio, por menor que seja, nas lutas de mulheres trans, com deficiência e maiores de 50 anos para desconstruir padrões e ocupar espaços. Com o tema central “Representatividade positiva, presença e transformação”, o Women to Watch Summit debateu diversidade, inclusão e superação de preconceitos, mas as reflexões foram além e abordaram ainda a busca de protagonismo feminino no universo dos games, o desafio de trocar o ambiente das grandes corporações pelo dia a dia em startups e os impactos éticos e sociais da consolidação das inteligências artificiais como agentes tecnológicos.
Prova de que a caminhada é árdua e o padrão é a reprodução do cenário vigente mesmo em novos ambientes é a frase da artista digital Giselle Beiguelman: “Os dados são massivamente masculinos”. Professora da FAU-USP e autora do livro Políticas da imagem, ela sustenta que ambivalências tecnológicas exacerbam ou geram novos formatos de discriminação, como os filtros para tirar rugas nas redes sociais, reforçando o etarismo, e o viés racial das câmeras de reconhecimento facial, que majoritariamente afeta as pessoas negras. E aqui, novamente, é a rede de mobilização humana que será capaz de redefinir as rotas e enfrentar o fato de que há muito menos dados gerados por mulheres do que por homens — o que vicia algoritmos e inteligências artificiais.
Ao privilegiar a produção de conteúdo sobre histórias e carreiras femininas, e ao abrir espaços para novas vozes, a plataforma Women to Watch não apenas contribui com a disseminação de informação e conhecimento, mas através de eventos como o Summit e a homenagem anual que presta a mulheres de destaque na indústria, se porta também como um importante reforço nas redes de apoio à inclusão e à diversidade. Como mostrou o evento da semana passada, a junção de porta-vozes de temas tão amplos ajuda a avançar na missão que foi nomeada pela ex-deputada Erica Malunguinho, no encerramento do Summit, como “emancipação coletiva”.