Ser tech também é pop. Mas como chegar lá?
Numa empresa em migração digital, carrega-se um legado, muitas vezes de décadas ou séculos, e transformar tudo de uma vez pode ser arriscado
Numa empresa em migração digital, carrega-se um legado, muitas vezes de décadas ou séculos, e transformar tudo de uma vez pode ser arriscado
10 de fevereiro de 2022 - 18h30
Ser tech pode ser um registro no DNA da companhia ou um processo darwiniano de evolução – e, neste caso, doloroso e, muitas vezes, lento. Todas as empresas, em variados setores da economia, estão em algum momento dessa jornada. Foodtech, mediatech, legaltech, edutech… Tentar definir o que é ser tech pelo viés da tecnologia é um erro comum, porque é bem mais conectado com cultura, modelo de trabalho em equipe, processos decisórios e, além disso, ter uma hierarquia que funcione e, ao mesmo tempo, seja invisível.
Ser uma empresa tech é um meio, não um objetivo. As organizações precisam, antes de tudo, de um propósito e, quase sempre, isso é algo que represente uma contribuição relevante para o maior número de pessoas possível. Provavelmente, essa busca pela conexão com os milhões ou bilhões de pessoas que aceitam compartilhar desse propósito é feita através da tecnologia. É aqui, então, que as coisas começam a acontecer na prática.
A Globo é uma empresa de mídia tradicional que está passando por esse processo de evolução darwiniano. E essa transformação tem sido um aprendizado contínuo, do qual, muitas vezes não do jeito mais fácil, tirei algumas lições importantes. O primeiro deles: não confie em propostas radicais, no estilo Schumpeter, de destruir o modelo que você tem para construção do novo. O Globoplay, por exemplo, pode parecer uma disrupção completa dos negócios tradicionais da Globo em TV por assinatura e TV aberta, mas foi construído por times com profundo conhecimento do consumo de mídia no Brasil e por uma equipe de tecnologia que há mais de 20 anos investe em internet. A grande inovação, portanto, não foi no conteúdo ou na tecnologia, mas em colocar foco no consumidor e, principalmente, na integração dos times de negócio e tecnologia.
Outra lição tirada dessa jornada: para ser tech você não precisa compor seu time com gênios, mas formar equipes de tecnologia e de negócios que tenham um claro entendimento do propósito da empresa, dos “business outcomes”, metas comuns às áreas, compartilhadas e realistas. É, também, preciso ter uma cadência de trabalho para experimentar, errar, aprender, avançar e se divertir com isso. E, talvez o maior desafio: engajar profissionais com seu propósito. Este é um mercado em que as pessoas migram constantemente de indústria – e isso é ainda agravado pela configuração de trabalho remoto. Então, é importantíssimo promover uma cultura inclusiva e diversa. Além de formar equipes que sejam o espelho de uma sociedade em constante transformação. Parou por aí? Claro que não.
Numa empresa em migração digital, carrega-se um legado, muitas vezes de décadas ou séculos. Existe uma cultura vigente, um modelo operacional, uma estrutura organizacional, valores, crenças, hierarquia. E se sua empresa existe há tantos anos, você tem um caso de sucesso nas mãos. Transformar tudo de uma vez é arriscado, você pode se perder no caminho. E ao tentar fazer lentamente, você pode ser atropelado pelo tempo. Cada organização tem que achar suas prioridades. Blindar a operação tradicional e buscar ganhos de eficiência para acelerar a transformação nas áreas priorizadas. Acima de tudo, ser transparente na comunicação com toda a empresa.
Todo mundo quer ser “digital” e essa expectativa é legítima. Mas é preciso saber que vai chegar a hora de cada time na companhia ser impactado por essa transformação. E nessa cadência, de forma bem cuidada – e com algumas dores – nasce uma empresa renovada, revigorada, adaptada ao novo ambiente e pronta para continuar mudando, assim como os Tentilhões que Darwin estudou nas ilhas Galápagos.
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