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Opinião

Será que a comunicação esqueceu da diversidade racial?

O mercado da comunicação precisa entender que não há mais espaço para viver no atraso de ideias que não nos incluem


8 de junho de 2021 - 14h52

(crédito: reprodução)

Falar sobre diversidade é uma das pautas mais importantes do mercado corporativo, e embora tenhamos alguns avanços recentes e significativos para grupos historicamente excluídos, ainda é muito pouco.

Quero fazer aqui um recorte para me limitar aos grupos minoritários dos quais eu faço parte, homem preto e periférico. Comparando diferentes pesquisas de 2020, podemos verificar que pessoas negras ocupam menos de 10% dos cargos de lideranças nas empresas, mas se tratando especificamente das agências de comunicação, me parece que o número é bem menor.

Recentemente foi apresentada a 11ª edição do anuário da comunicação corporativa, publicação que é uma referência para o setor, principalmente para agências de comunicação (PR e assessorias), por apresentar tendências, cases e temas estratégicos.

Por ser uma revista com mais de 100 páginas, costumo fazer duas leituras: a primeira é visual, apenas para folhear e ver as imagens, e logo fiquei extremamente feliz por me deparar com tantas peças publicitárias com pessoas negras; já na segunda (que virou terceira, quarta e quinta vez), fiz uma leitura mais analítica de todos os pontos, para me manter atualizado e ter diretrizes para novos projetos. Desta vez, preciso deixar os números de lado e falar algo que já passou da hora: onde está a representatividade de pessoas negras em cargos de gestão nas agências?

Será que a comunicação esqueceu da diversidade racial?

É nitidamente perceptível que a grande maioria (isso para não dizer todas) das pessoas que foram entrevistadas e serviram como fontes são brancas. E se até agora vocês não tinham entendido o que é privilégio, aqui está uma exemplificação.

Veja bem, não estou aqui no papel de apontar o dedo e apenas criticar, mas como parte dos poucos profissionais negros que ocupam uma cadeira de liderança, é meu dever ao menos tentar levantar essas questões, fazer um alerta e trazer uma reflexão para que o mercado das agências de comunicação mude. Qual é o motivo de não existirem pessoas negras ali?

Ao me deparar com isso em uma revista que admiro, me senti isolado, como tantas outras vezes na minha vida.

Lembro que em determinado momento estava trabalhando em agências e aconteceu uma cena lamentável, em que jogaram uma banana no campo para o Daniel Alves, à época no Barcelona. Logo o time de atendimento de um grande varejista se reuniu e teve a “brilhante” ideia de fazer uma campanha para vender mais bananas – isso mesmo, vender mais. Quando me perguntaram o que eu achava disso tudo, situei o time que nada daquilo fazia sentido, que nenhuma pessoa negra quer ser chamada de macaca e ver mais bananas sendo vendidas. Após esse episódio, fiquei alguns dias isolado nos espaços coletivos da empresa.

Em outra oportunidade, recomendei para um cliente que ele aderisse a uma campanha importante do movimento negro. Passaram algumas horas e em seguida tive como resposta: “Não achamos interessante participar”. Novamente a decisão foi tomada por um grupo com dezenas de pessoas brancas na mesma sala. E adivinhem, fiquei isolado de algumas outras reuniões.

O mercado da comunicação precisa entender que não há mais espaço para viver no atraso de ideias que não nos incluem. Nós somos a maioria da população, nós somos responsáveis por consumir e fazer a comunicação girar, nós devemos sim estampar as peças publicitárias, mas devemos também ser incluídos nas contratações de cargos de gestão, para poder contratar outras pessoas, para sentar na mesa e decidir. A gente está cansado de ficar isolado!

Diversidade e inclusão não podem ser apenas um discurso, muito menos um dado estatístico frio.

**Crédito da imagem no topo: Mariana Mikhailova/iStock

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