Será que estamos diante de um novo renascimento criativo?
Se o input de informações para a inteligência artificial segue uma régua média, teremos resultados médios e é isso que poderá inundar o mundo
Será que estamos diante de um novo renascimento criativo?
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Com a Inteligência Artificial, ficou muito mais fácil montar textos, imagens e qualquer outro material que envolva criatividade em questão de segundos. E com a Web3, temos uma internet que valoriza ainda mais a inovação e transparência, dando propriedade direta para o criador sobre sua identidade digital e ativos. Mas quem é o criador? Notem que, por enquanto, estou usando o verbo “montar” e não o verbo “criar” quando me referi a I.A. Na velocidade que as coisas vão, pode ser que este artigo esteja obsoleto amanhã. Portanto, vou contar um caso e dar minha opinião com cautela, entendendo que o conhecimento sobre inovação não consegue acompanhar a própria inovação.
Pedro Burneiko, brilhante diretor de arte, foi uma das primeiras pessoas que conheço a desenvolver imagens usando I.A. No caso, sobre os Orixás. Na época, fiquei impressionadíssima com a beleza das imagens; elas têm uma estética linda e “estranha” no melhor sentido. Ou seja, havia ali uma originalidade em relação a tudo que eu já havia visto em termos de imagens dos Orixás e seus reinos, assunto com o qual tenho certa proximidade. Veja no Insta @ofururu.
(Gostaria de lembrar que as próprias religiões são interpretações dos seres humanos. Não conheço nada com mais vertentes interpretativas do que as religiões cristãs combinadas com seus diversos sincretismos.)
Se este diretor de arte tivesse, ele mesmo, feito ilustrações sobre os Orixás, tenho certeza que seriam incríveis. Mas, para um artista da nossa era, vejo como requisito quase mandatório explorar as novas técnicas e ferramentas. E foi o que ele fez, desenvolvendo as imagens usando o Midjourney 4 e 5.1
Porém, o que fez a máquina entender como deveria ser a expressão de Oxalá́ demandada por este artista foi o input de informações sobre Oxalá́ fornecidas pelo artista. Ainda que exista uma história de Oxalá́ que todo mundo pode acessar, qual o conhecimento da média das pessoas para uma criação sobre Oxalá? Qual comando pode ser criado deste ou daquele Diretor de Arte? Quais seriam os comandos de maneira a fugir da média?
Meu ponto é: se o input de informações segue uma régua média, teremos resultados médios e é isso que poderá inundar o mundo. Padrões conhecidos, repetidos, montados e remontados em enésimas combinações. Sem dúvida, vamos precisar muito desta eficiência das máquinas para muitas coisas que exigem volume. Porém, para ser original, criar arte consiste em desafiar, desestabilizar o que foi feito antes. Um mesmo artista deve desafiar sua própria obra.
Resumindo, considero que o que ocorreu com o trabalho deste diretor de arte sobre os Orixás foi a maneira como “esta ferramenta foi usada pelo artista”. E não “esta ferramenta criando para o artista”. Deu pra entender meu ponto? Inputs medianos, outputs medianos. Esta vai ser a verdade esmagadora do mundo. Inputs diferenciadas, outputs diferenciados. Precisa de ideia e conceito para extrair algo diferenciado.
Entrei em contato com o Pedro Burneiko para comentar sobre minha intenção de publicar este artigo. Perguntei como ele pensava hoje, num cenário já bem mais avançado do que um ano atrás, quando nos falamos a respeito dos Orixás. Ele fez uma boa analogia sobre o tema, ao dizer que se sente como um DJ, podendo mesclar técnicas, estéticas, batidas e produzir algo que é “música”.
Achei interessante esta abordagem, e consolidei a visão de que vamos viver nesta mistura, nesta ambivalência daqui pra frente. Quem se recusar a entender a entrada definitiva das tecnologias nas nossas vidas, só estará perdendo tempo. Nos anos 2010, já se falava sobre a necessidade da humanidade dar um salto cognitivo para poder acompanhar os impactos da tecnologia no mercado de trabalho e na sociedade.
O que temo é a sociedade como um todo falhar neste desafio de se reinventar. Num país como o Brasil, onde pouco se investe em educação e capacitação, e muita gente consegue viver apenas de um talento inato, o impacto será́ muito grande. Muitas pessoas possivelmente não consigam mais viver apenas de um talento. Ou serão forçadas a aprender mais e mais sobre o uso da tecnologia para se reinventar, ou talvez se tornem pessoas “untech”, aquelas que não acompanharão as mudanças.
Na minha opinião, seria muito produtivo se empresas, governo, universidades, ONGs e outras entidades parassem para pensar neste desafio, já que atinge a todas as pessoas do planeta, individual ou coletivamente.
As empresas, por exemplo, não deveriam pensar nas tecnologias apenas para aumentar produtividade, mas também para aumentar volumes e competências, o que poderia beneficiar uma nova classe de trabalhadores a desenvolver uma espécie de pensamento “híbrido”. Isto significaria que cada trabalhador poderia ser o DJ de múltiplas ferramentas, que têm o poder de ampliar a capacidade e talento criativo de cada indivíduo, em prol de novos negócios.
Como não existe certeza para nada, tudo ainda está novo e em movimento, o que eu quero oferecer hoje são ideias para provocar reflexão. Afinal, os tempos mudaram, e dessa vez a velocidade de mudança é a que vemos na exponenciação da I.A.
É uma conversa ainda polêmica. Então, se você quiser polemizar, fique à vontade
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