Sobre Bowie, Woody Allen e inteligência artificial
ChatGPT pode e deve ser abraçado pelos redatores, contanto que não deixem a tecnologia substituir o bom-humor e a criatividade
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2 de fevereiro de 2023 - 10h00
Tem essa história do Bowie: ele estava fazendo o clipe de “Ashes to Ashes” numa praia vestido como um pierrot (ok, vamos dar um desconto, eram os anos 80). No meio da cena, aparece um senhor passeando com seu cachorro. A equipe desesperada pede para ele sair. Ao que ele responde com um solene “danem-se, esta é a minha praia”.
O diretor vai falar com o homem. Aponta para o Bowie e fala”você sabe quem é ele?”. O homem dá uma boa olhada e responde “é só um babaca vestido de palhaço”.
Bowie contou como essa história o fez repensar a fama e teve um impacto profundo sobre ele. Lembro disso e penso em toda a polêmica sobre Dall-E, ChatGPT e as inteligências artificiais. Vai ser o fim dos empregos? Será que a inteligência não é tão inteligente assim? O fato é que, como o senhor da história, ela simplesmente atravessou o nosso caminho. E, nesse caso, pode ser bom.
Ganhar tempo. Deixar de fazer tarefas repetitivas. Ter acesso a análise de dados em segundos. A tecnologia deixa nossa vida mais fácil. Com isso todo mundo concorda. Mas até onde ela consegue ir? Dá pra ser bem-humorado? Sarcástico? Testei o ChatGPT. Pedi para ele refazer o “Discurso de Paraninfo” do Woody Allen, falando para redatores sobre a chegada de programas como ele.
Após algumas tentativas e edições, esse foi o resultado: “senhoras e senhores, redatores do futuro. Estou diante de vocês hoje para falar sobre um assunto que é tão polêmico quanto importante. Inteligência artificial, especificamente ChatGPT.
Mais do que em qualquer outro momento da história, a indústria da publicidade enfrenta uma encruzilhada. Um caminho leva ao desespero, um mundo onde a criatividade é substituída por algoritmos e a engenhosidade humana é obsoleta. A outra, para a extinção total dos trabalhos que como conhecemos e amamos. Oremos para que tenhamos sabedoria para escolher corretamente.
Esta é uma pergunta muito difícil quando percebemos que a ciência nos falhou. É verdade que a IA conquistou muitas tarefas, quebrou os limites do possível e até nos colocou no caminho da eficiência, mas quando um redator é deixado em uma sala com o ChatGPT, nada acontece. Porque os problemas reais nunca mudam. O medo de perder o emprego, o medo de sermos substituídos.
Mas não se preocupem amigos, estou aqui para lhes dizer que não têm nada a temer. Claro, o ChatGPT pode analisar dados, gerar variações de anúncios e até entender e interpretar emoções e psicologia. Mas não pode contar uma piada. Ou apreciar um bom trocadilho. E isso é uma habilidade que sempre será exigida.
Então, para os redatores do futuro, digo o seguinte: abrace o ChatGPT, mas não deixe que ele substitua sua criatividade e senso de humor. Porque no mundo da publicidade, essas são as coisas que realmente diferenciam você. E lembre-se: “Oitenta por cento do sucesso é aparecer”. Então, apareça e o ChatGPT fará o resto. Obrigado, e boa sorte em suas carreiras. E lembre-se, se você perder seu emprego para o ChatGPT, sempre poderá trabalhar no drive-thru do McDonald’s.”
Claro, foi baseado em um texto e um estilo que já existiam. Mas nada mal para um algoritmo, né? Esses dias tive que fazer um job de nome e recorri à inteligência artificial. Não veio nada “pronto”, mas serviu para dar alguns bons insights. Em segundos. Para mim, esse é o futuro. A fotografia não matou a pintura. O Photoshop não matou a direção de arte. O fast-food não matou a culinária (ok, talvez esteja matando lentamente como faz com quem o consome. Mas isso é assunto para outra discussão).
Essa é a grande lição da inteligência artificial: ela é feita para aprender e evoluir. Nisso, ela já está na frente de muita gente. Porque, se acharmos que o que nos trouxe até aqui vai continuar garantindo sucesso, acabaremos virando só mais alguns babacas vestidos de palhaço.
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