Sonhar o impossível

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Opinião

Sonhar o impossível

Histórias de Silvio Santos e Roberto Medina são exemplos de perseverança e resiliência que ajudaram amudar o panorama da indústria brasileira de entretenimento, comunicação, marketing e mídia


27 de agosto de 2024 - 14h00

“Sonhar mais um sonho impossível; Lutar quando é fácil ceder; Vencer o inimigo invencível; Negar quando a regra é vender”. Os versos de Chico Buarque e Ruy Guerra para a versão brasileira de The impossible dream, de Joe Darion e Mitch Leigh, aqui eternizada na voz de Maria Bethânia, podem ilustrar a realização de muita coisa que antes parecia improvável — apelo usado até mesmo na campanha vitoriosa que levou Lula à presidência pela primeira vez, em 2002, quando a música embalou um dos filmes criados pela equipe do então marketeiro Duda Mendonça.

O empreendedorismo brasileiro na indústria de comunicação, marketing e mídia é, em diversas ocasiões, movido por sonhos impossíveis, tornados realidade pela perseverança e resiliência dos que conseguem não desanimar mesmo quando seus planos são tachados como delírio. Coincidentemente, nesta edição, encontram-se reportagens sobre dois sonhadores que ajudaram a mudar o panorama do setor no Brasil: Silvio Santos e Roberto Medina.

De camelô no Rio de Janeiro a maior apresentador de televisão da história do País, a trajetória de Silvio Santos em frente às câmeras é bastante conhecida do público. Mas o que deu sustentação ao animador de auditório foi o seu talento como comunicador aliado ao tino comercial, responsável por criar ou alavancar marcas em segmentos variados, do Banco PanAmericano à Tele Sena, do SBT à Jequiti Cosméticos. A simbiose entre apresentador e empresário fez de Silvio Santos o principal garoto-propaganda de seus próprios negócios.

Comprometidas com os valores e a cultura empresarial que fizeram o sucesso do pai, as herdeiras têm agora a responsabilidade de preservar o legado e conduzir os negócios sem a presença e o carisma do fundador. Prova da necessidade de modernização e abertura para novas frentes de negócios foi a coincidência da morte de Silvio ter ocorrido no mesmo fim de semana reservado para o lançamento do serviço de streaming +SBT, o principal projeto digital da história da emissora.

A editora Bárbara Sacchitiello ouviu executivos próximos à família Abravanel para descrever o processo de sucessão na liderança empresarial e em frente às câmeras. Aliadas a executivos de confiança de Silvio, as filhas Daniela Beyruti e Renata Abravanel ocupam posições de liderança no SBT e na holding. Outras três herdeiras resolveram seguir o DNA artístico do pai, comandando programas de auditório: Patrícia, Silvia e Rebeca. Os desafios futuros dos gestores e da família vão desde dificuldades em conseguir crédito para novos investimentos até lidar com os cenários atuais de fragmentação na atenção do público e de queda no faturamento publicitário.

Há similaridades nas histórias de Silvio Santos e de Roberto Medida. Falando à repórter Amanda Schnaider, Medina conta que o seu sonho impossível do Rock in Rio nasceu para lançar uma marca de cerveja: um evento que contaria com alguns dos maiores astros da música do mundo, em um tempo em que o Brasil estava muito longe das rotas de turnês internacionais. O suposto fracasso que o fez “perder tudo” foi, no fim das contas, apenas o início da história da maior marca brasileira de entretenimento, que, no mês que vem, comemora 40 anos. Outro ponto de conexão com Silvio é o preparo da sucessão familiar. Na história das grandes agências de publicidade brasileiras, o caso dos Medina é uma exceção, com Rodolfo Medina conduzindo há cerca de dez anos a Artplan, fundada em 1967 e comprada pelo pai em 1972, e hoje peça central do maior grupo nacional de empresas de publicidade e serviços de marketing.

Evidentemente, Silvio e Medina não realizaram seus sonhos sozinhos, mas usaram seus poderes magnetizantes para aglutinar outros talentos. “Era tão óbvio para mim que faria que lutei contra todos os moinhos, fui em frente e, aos poucos, as pessoas começaram a viver o meu sonho. Tivemos quase 12 milhões de pessoas ao longo desses 40 anos pelo mundo. Exportamos uma imagem de competência rara em vários setores da economia brasileira”, conta Medina, fazendo um chamado a outros sonhadores: “Esse sucesso é um convite aos empreendedores darem um passinho para o futuro”.

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