Telas, Big Brother Brasil e lições
Além de formato assertivo e adaptabilidade, atração ensina muito sobre interações humanas
Além de formato assertivo e adaptabilidade, atração ensina muito sobre interações humanas
Eu não assisto ao Big Brother Brasil. Por uma questão de rotina, preferências, enfim, a casa mais vigiada do Brasil acaba não entrando na minha. Estou longe de fazer aquele tipo que esnoba o reality por achar que a atração desabona nossa intelectualidade. Acho que dá pra ler um livro sem abrir mão da TV, e tudo certo. Só não tenho o hábito de assistir ao BBB. Mas eu acompanho e sei detalhes de tudo que rola no programa, talvez até mais do que quem liga a TV após a novela ou o Fantástico.
Parece contraditório, mas eu explico: sou uma usuária de redes sociais. Como 150 milhões de brasileiros, estou conectada às plataformas que dão vazão às narrativas que acontecem na telinha. E é assim que, por aqui, a second screen virou first.
Ser espectadora do reality sem necessariamente assistir aos episódios ou ficar ligada no pay-per-view é uma experiência, no mínimo, interessante. E para além de toda a questão de primeiras e segundas telas, do ponto de vista da mídia e da tecnologia, me faz refletir também sobre o comportamento humano. E uma coisa está completamente ligada à outra, é claro.
Mas vamos falar primeiro sobre o negócio. Que formato mais assertivo esse que foi capaz de se manter de pé por 22 temporadas sem perder sua fiel audiência! E mais: capaz de reinventar a cada edição para conectar marcas e ser um verdadeiro palco para ativações das mais diversas. Ponto para a equipe da Globo. Nesta edição, houve recorde de investimentos no programa, que é considerado por alguns o “Super Bowl da televisão brasileira”, em alusão ao cobiçado intervalo da final do campeonato de futebol americano. A diferença é que a partida decisiva da NFL dura apenas uma noite, enquanto o BBB tem o desafio de manter o público engajado por três meses.
Para cumprir com o desafio por mais de duas décadas, quando o mundo é outro desde a primeira edição, o programa vem se adaptando e impulsionando algo que falei ali em cima: a segunda tela. Enquanto assistem ao programa, as pessoas revezam entre as funções de telespectadores e comentaristas. Um olho na telinha e o outro no Twitter. Isso faz com que os acontecimentos da casa cheguem quase que instantaneamente às conversas nas redes sociais. Muitas delas envolvendo as marcas patrocinadoras, inclusive. Mais oportunidade para os anunciantes da atração.
Em contrapartida, existe um outro lado desse paraíso de interconectividade chamado Big Brother Brasil que vale destaque. Como disse mais cedo, o fato de eu mesma acompanhar o BBB pelas redes sociais me oferece um exercício antropológico interessante. Observar como as muitas histórias que acontecem no ambiente do confinamento são reportadas nas redes é lembrar constantemente que o ser humano é um ser que julga. As conclusões sobre o comportamento de tal participante, a condenação instantânea e a rapidez como vão de mocinhos a vilões, e vice-versa, é impressionante. A perigosa era dos cancelamentos encontra no reality um prato cheio.
É um exercício importante pensarmos nessas narrativas para além de como são postas. Lembrar que a vida ultrapassa as telas (as grandes, as pequenas, as primeiras e segundas) e que o experimento social BBB só pode ser sentido por quem vive. Julgar faz parte do papel do espectador nesse jogo, é da natureza do próprio game, mas é interessante pensar por outra perspectiva também.
Um dia desses, rolando a tela do TikTok, me deparei com mais um vídeo sobre BBB. Esse, no entanto, trazia mais do que paródias de participantes. Nele, um garoto comentava sobre o BBB 22 ser um exemplo de como a falta de posicionamento pode impactar nas nossas relações. Aquilo me fez refletir tanto que até levei o vídeo para o time em bate-papo mensal que faço com toda a empresa.
Porque é muito verdadeiro: o reality é um espaço de interações humanas e, de lá, podemos tirar lições que se encaixam no trabalho, na família, em todas as relações. E esse, para mim, é o verdadeiro ativo do programa, seja ele assistido da tela que for
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