Tem para todo mundo?
A implementação de tecnologias disruptivas muitas vezes é uma via de mão única, na qual, à medida que o pelotão da frente acelera, muita gente vai ficando para trás
A implementação de tecnologias disruptivas muitas vezes é uma via de mão única, na qual, à medida que o pelotão da frente acelera, muita gente vai ficando para trás
Assim como já tinha acontecido durante a CES, realizada em janeiro, em Las Vegas (EUA), o iminente lançamento das primeiras redes 5G comerciais permeou a maioria dos debates sobre tendências e apresentações de produtos, serviços e protótipos durante o Mobile World Congress (MWC), em Barcelona, na Espanha — segunda parada do projeto 100 Dias de Inovação, de Meio & Mensagem, uma viagem de conhecimento compartilhado por quatro dos principais eventos globais de tecnologia nesses primeiros meses de 2019.
Redes móveis e ultrarrápidas disponíveis para uso em massa são condição sine qua non para um salto no desenvolvimento e adoção de aparelhos cujo potencial de uso e funcionalidades multiplicam-se quando conectados entre si.
A possibilidade de oferta de serviços, nesse contexto, cresce exponencialmente, abrindo uma nova era de possibilidades envolvendo diferentes categorias e setores. Por sua característica integradora, a chegada do 5G em grande escala é uma daquelas mudanças cujo impacto afeta praticamente todas as indústrias.
Não à toa, executivos de gigantes de telecom, infraestrutura, automotiva, financeira, bens de consumo e varejo misturam-se às plataformas de mídia, produtores de conteúdo e startups na busca pelas melhores ideias, os parceiros mais adequados para percorrer a jornada de transformação demandada pelo novo cenário de concorrência. Na era da internet das coisas, é impossível ser feliz sozinho.
A consolidação desse ambiente interconectado trará desafios inéditos não somente às empresas. Quando ganha certa escala para tornar-se um mercado rentável, a implementação de tecnologias disruptivas é muitas vezes uma via de mão única, na qual, à medida que o pelotão da frente acelera, muita gente vai ficando para trás. O tamanho dessa lacuna pode comprometer nosso progresso como sociedade. Parte dessa fratura tão indesejável quanto aparentemente inevitável desse modelo de desenvolvimento está exposta na cidade que se tornou ícone da ascensão financeira e da influência comportamental das companhias cujo core business passou a ser a coleta e o uso inteligente de dados.
A ambiguidade implícita no sentido vertical das famosas ladeiras de San Francisco, na Califórnia, encontra eco em todas as contradições decorrentes de seu status de capital mundial da inovação: no salário milionário dos executivos de multinacionais expatriados, que ajudaram a tornar a cidade nessa potência econômica, mas cuja demanda por conveniência, serviços e exclusividade inflaciona o custo de vida, em contraponto ao grande número de pessoas sem um teto a viver nas ruas; na consciência de que uma alimentação saudável, com produtos orgânicos e denominação de origem, é parte de uma vida longeva, mas está disponível somente para quem pode pagar o preço; no trânsito caótico das avenidas centrais em que a preferência é disputada a cada palmo do asfalto por hordas de caminhões da Fedex e do correio americano a entregar as compras feitas por meio do comércio eletrônico, carros autônomos em ritmo de testes a registrar dados para o aperfeiçoamento de seu funcionamento, patinetes elétricos e ciclistas tradicionais — além dos carros tradicionais, que ainda são, obviamente, maioria.
Em diversos sentidos, San Francisco é um observatório do futuro, um piloto em tempo real tanto do que deve virar tendência em termos de bem-estar, estilo e qualidade de vida quanto das consequências drásticas embarcadas no estabelecimento de uma nova ordem econômica em descompasso coletivo. A busca de soluções que desatem esse nó é um dos propósitos dos organizadores e participantes do South by Southwest, terceira e mais longa etapa do projeto 100 Dias de Inovação. Nesta semana, a equipe de Meio & Mensagem desembarca em Austin para uma cobertura que irá durar dez dias e contará, além dos jornalistas da casa, com a curadoria e o olhar crítico de mais de 80 convidados especiais que, por meio de artigos exclusivos, compartilharão suas experiências no SXSW.
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