Assinar

Tempo de calar

Buscar
Publicidade
Opinião

Tempo de calar

Mas temos por hábito falar e comentar tudo, criando realidades falsas sobre a realidade verdadeira porque queremos, desesperadamente, acreditar nas nossas fantasias


30 de julho de 2018 - 15h14

Créditos: StationaryTraveller/iStock

Tem gente falando muito. E, por incrível que pareça, tem mais gente ainda escutando pouco.

Nunca as pessoas tiveram à disposição tanta informação. Tanto acesso, tantos canais, tanto conteúdo. Paradoxalmente, nunca estivemos tão perdidos como sociedade. A razão é uma só: tem muito ruído de comunicação por aí.

Pessoas falando demais, justamente no momento em que precisariam ficar quietas.

Pessoas falando por vias tortas, justamente no momento em que precisariam utilizar vias diretas.

Pessoas falando de maneira exagerada, justamente no momento em que precisariam de discursos comedidos.

Pessoas falando como se fossem extraordinárias, de outro planeta, justamente no momento em que precisariam de humildade.

Os budistas ensinam: às vezes, o silêncio vale ouro.

O silêncio da meditação. Da intimidade. Da integridade. Do compreender profundo. Da transmissão dos ensinamentos.

O silêncio da não discussão. O silêncio do silêncio.

Quando silenciamos, podemos ouvir melhor.

Quando silenciamos, podemos sentir melhor.

Mais difícil do que o silêncio da boca, então, só o silêncio interno. O silêncio da mente.

Mas temos por hábito falar e comentar tudo. Criando realidades falsas sobre a realidade verdadeira. Porque queremos, desesperadamente, acreditar nas nossas fantasias.

Isso é um perigo. Pode destruir reputações. Pode criar polêmicas sobre feridas que, de tão recentes, deveriam permanecer quietas. Caladas. Para cair no esquecimento.

Hoje, dia internacional do fim das férias no Hemisfério Sul, faço um convite: é tempo de calar.

Tente ficar em silêncio por um tempo. Só 15 minutinhos. E, se possível, ouça. Não seus “parças” habituais (uma palavrinha que saiu de moda, mas hoje não sei porquê me veio à cabeça, vejam que curioso), mas sim a todos os outros sons que, normalmente, você ignora. Aposto que a sua volta ao batente vai tornar o mês de agosto um pouco menos desgostoso.

Tem gente falando muito. E, por incrível que pareça, tem mais gente ainda escutando pouco.

Vamos inverter: fale pouco, ouça muito. O mundo agradece.

 

*Crédito da imagem no topo: GraPro/iStock

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • A consciência é sua

    A consciência é sua

    Como anda o pacto que as maiores agências do País firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?

  • Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento

    Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência