19 de dezembro de 2016 - 11h09
Foto: Reprodução
O dicionário Oxford elegeu “post-truth” como a palavra de 2016. O aumento de 2.000% no uso da expressão em relação ao ano anterior foi decisivo para a decisão dos editores — que, ao incluir o verbete na versão online da obra, descreveramno como um adjetivo relacionado a circunstâncias nas quais fatos objetivos influenciam menos a opinião pública do que crenças emocionais e pessoais. Os dois principais fatos que contribuíram para a vitória da “pós-verdade” foram as campanhas controversas tanto para o referendo a respeito da saída do Reino Unido da Comunidade Europeia quanto para o pleito presidencial norte-americano.
As diretrizes indicam que as palavras candidatas à tal distinção precisam refletir eventos e tendências cruciais para se compreender o ano em termos sociais, culturais, políticos, econômicos e tecnlógicos. Não importa quando tenha sido cunhada — pode ser um termo novo ou alguma expressão antiga com especial destaque ao longo do período de 12 meses. Em 2015, o título ficou com “emoji”.
Meu desejo de Ano-Novo é que, em 2017, a boa e velha “paciência” entre pelo menos no shortlist do Oxford — no qual marcaram presença em 2016 palavras como alt-right, chatbot e Coulrophobia (descrita como o medo irracional e extremo de palhaços, e muito utilizada durante a onda de pessoas que circulavam em público vestidas como o personagem cômico dos circos em variantes assustadoras).
Paciência, sobretudo, porque o ano que se avizinha promete ainda muita instabilidade, especialmente no campo político. As consequências das delações dos executivos da Odebrecht são impossíveis de serem previstas neste momento. Se o vazamento do primeiro relatório de depoimentos de um diretor já atingiu em cheio a cúpula do partido que agora governa o País, imagine o que pode acontecer quando vierem à tona as revelações dos donos da empreiteira.
Paciência, sobretudo, porque o ano que se avizinha promete ainda muita instabilidade, especialmente no campo político. As consequências das delações dos executivos da Odebrecht são impossíveis de serem previstas neste momento
Do ponto de vista da economia nacional, teremos de nos valer da chamada paciência de Jó, aquela com dose extra, para situações que ultrapassam todos os limites: os remédios amargos que começaram a ser aplicados e debatidos para equilibrar custos e receitas do governo demoram tempo a mostrar resultados sólidos, enquanto muitos dos efeitos colaterais são os primeiros a serem sentidos.
É preciso também ter paciência para curtir a vida no único momento possível: enquanto ela passa. Em meio à correria cotidiana, na busca pelas metas do dia a dia, no anseio de querer sempre render mais, sempre acertar, esquecemos de que o processo pode e deve ser o grande barato. É aprender a apreciar o caminho, não só o destino.
Este final de ano tem sido pródigo em propor situações para exercitar minha própria paciência — e redescobrir pequenos prazeres que moram nos detalhes. Dediquei as manhãs inteiras de quatro longos sábados a fazer com as próprias mãos a mala de couro que minha filha usará no colégio — uma tradição da escola que comecei encarando como pura perda de tempo. Conforme as etapas eram superadas, a sensação de martírio e desperdício deu lugar a um desafio divertido. Corta, cola, fura, amarra, apara, e dá-lhe martelada no dedo. Mas acreditem: mal posso esperar para fazer também a lancheira.
Outra oportunidade ímpar para desacelerar são as canções natalinas entoadas por Helena à noite, enquanto acende uma por uma as velas em torno do presépio, para depois calmamente escutar de sua mãe histórias relativas ao Advento — sua serenidade e encantamento são um grande alento para este pai ansioso e ateu licenciado nos meses de dezembro.
Esta é a última edição de 2016. A primeira do ano que vem circula no dia 9 de janeiro. Meio & Mensagem agradece e retribui aos leitores, amigos, parceiros e colaboradores os votos de Boas Festas. Feliz 2017!