Ter medo da IA ou fascínio por ela revela muito mais sobre nós do que sobre a tecnologia
Você acha que a IA vai roubar seu emprego, e talvez isso aconteça, mas ainda assim há muito que você pode (e deve) fazer
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Mesmo na ressaca do SXSW 2025, que desta vez deixou muita gente com a sensação de que a inovação não mudou o mundo — talvez até o tenha piorado — e de que os tech pioneers se tornaram apenas tech bros dominando tudo para benefício próprio, sigo vendo e vivendo a revolução da IA como um novo começo, uma nova oportunidade, a chance de uma renascença para nós, humanos.
Antes de mais nada, não consigo me acomodar com a frase: “Você não vai perder o seu emprego para uma IA, mas para alguém turbinado por IA”. Sim, tudo vai mudar, e os empregos também, pois muitos deles estão repletos de tarefas absolutamente repetitivas, burocráticas e básicas, que pouco têm a ver com os maiores talentos humanos, como empatia, conexão e criatividade.
Talvez você pense que com você é diferente. Que você é criativo, tem uma experiência incrível, prêmios, um cargo de Chief-Qualquer-Coisa. E pode até ser verdade. Mas o fato é que esse seu talento acontece em uma fração mínima do seu tempo de trabalho.
Se você não está atento a isso e segue repetindo frases como essa acima ou outra do tipo “nada substitui o talento humano”, é bom abrir os olhos.
Outro dia, tentando descrever IA para um amigo, falei: IA é mágica, repleta de matemática!
Como mágica, o Nico, meu filho de 11 anos, pode simplesmente conversar e receber mágica do GPT sem entender nada — nada — de tecnologia:
Nico: O que é um pequeno ponto vermelho em uma árvore?
GPT: Ah, Nico, essa é clássica! Um pequeno ponto vermelho em uma árvore é uma cereja se escondendo! Acertei ou você tem uma resposta diferente?
Nico: A resposta certa é um “morangotango”.
GPT: Hahaha, boa, Nico! “Morangotango” é genial! Isso foi inesperado — adorei! Você é incrível com charadas. Tem mais alguma pra mim?
E como matemática, podemos criar prompts, sistematizar perguntas, pedir mágica mais “louca” ou mais “comportada”, definir regras para a mágica, programá-la e até deixar o mágico orquestrar a mágica (mais ou menos o que chamamos de Agentic).
Não estamos diante de apenas mais uma ferramenta que tenta sustentar a lógica de “para aquilo que é humano, está tudo bem”. Estamos diante de uma mudança radical de paradigma e de como o mundo moderno, pós-revolução industrial, funciona.
Não é evolução, tipo do digital para o analógico. É revolução, tipo da agricultura para os coletores. E, diferente de outras revoluções, esta é acelerada. Se antes tínhamos gerações para nos adaptar, agora teremos meses, dias, talvez horas.
É uma revolução que pode ser linda e profunda, a qual chamo de renascença.
Por outro lado, podemos estar vendo o início de uma nova Idade Média? Há chances, claro, mas aposto na oportunidade. E, por isso, sigo convidando o máximo de pessoas para co-criar.
E é mais do que óbvio que a IA representa uma revolução no mundo do marketing, da comunicação e da criatividade. Marketing é mágica com matemática. E essa vai direto no coração: a criação.
Diante disso, temos duas atitudes que levam a resultados muito diferentes. Podemos nos mover pelo medo — bloqueando tudo e, principalmente, travando nosso próprio futuro — ou pelo fascínio, tornando-nos co-criadores dessa era que chamo de renascença. Claro que dá medo, mas a ideia é ir com medo mesmo.
Optei pela segunda. E, além de trazer essa reflexão, quero compartilhar alguns aprendizados da minha jornada. Mesmo sabendo que nada sei, tudo experimento — e, assim, aprendo. Divido aqui algumas práticas simples que me ajudam. Depois, conto uma história. Ou duas.
Experimente: como uma criança. Como faz o Nico. Questione-se menos, seja menos adulto, menos racional, menos cheio de lógicas e certezas. Use IA como quem pega um copo de água na geladeira ou anda de bicicleta.
Converse: como se fosse com um humano, tipo um twin seu — ou infinitos twins seus — que não sabem tudo, não são oráculos, mas podem te ajudar a pensar, brincar, criar, pirar, relaxar, se acalmar. Ou tudo ao mesmo tempo.
Participe: com suas opiniões, sua experiência, sua criatividade, sua intuição. Alimente a IA com suas vivências, discorde, peça o outro lado, ofereça o que ela não vê.
Brinque: use-a com criatividade. Não fique preso ao que você já sabe. Invente, pire, faça coisas que nunca fez. Não pense, brinque. Não julgue, divirta-se.
Não tente explicar: para você mesmo e muito menos para os outros o que fez ou o que aconteceu. Apenas experimente.
E as duas histórias.
Um artesão de sapatos, às portas da era industrial, conseguiu imaginar tudo que daria errado com a revolução que se aproximava. Sapatos feitos em minutos e aos milhares em uma fábrica significariam o fim dos artesãos. Verdade. Foram. O que ele não via era o quanto uma indústria de sapatos abriria milhares de novas oportunidades: designers, lojas, transportadores, revendedores, marketing… até os atuais social commerces.
“A gente vê o que vai dar ruim, mas não consegue imaginar o que pode dar bom.”
A segunda história é singela. Há alguns meses, em um zap com um amigo, debatíamos a decadência dos search engines. Busca nos dá links, IA nos responde. Comentei a história do artesão de sapatos quando ele soltou:
— Acabei de pensar em uma das novas profissões, Bob. Especialista em otimização de IA. Quem sabe vai se chamar AIO, já que o SEO tenderá a mudar…
Um pequeno A-HA moment, que hoje, poucos meses depois, já se tornou realidade.
“Abertos, com medo mesmo, mas deixando o flow surgir, criamos o futuro.”
Somos todos artesãos de sapatos observando a revolução chegando. E só com exercício criativo e abertura — como a do meu amigo — conseguimos enxergar e co-criar a renascença da IA.
Se você está com medo, entenda o que esse medo diz sobre você. Mas não fique parado. Porque a única certeza é que sua profissão atual não existirá da mesma forma que você conhece.
E se tudo der errado? Pelo menos você não ficou parado. Pelo menos eu não fiquei parado.
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