Tô com o John
Falhamos toda vez que não vinculamos criatividade a resultado e erramos quando nos deslumbramos mais com prêmios do que com retorno sobre investimento
Falhamos toda vez que não vinculamos criatividade a resultado e erramos quando nos deslumbramos mais com prêmios do que com retorno sobre investimento
Foi no último Meio & Mensagem de 2019 que li pela primeira vez a expressão capaz de materializar uma sensação a qual há tanto tempo paira no mercado. Ela veio do Ricardo John e, não à toa, rendeu logo uma chamada de capa: é preciso combater a “agenciafobia”, disse o CEO da FCB. De novo: “agenciafobia”. Bateu em mim e certamente bateu também em você, que trabalha ou já trabalhou em agências de grande porte.
Quantas vezes ao longo dos últimos anos não tivemos que lidar com a incredulidade dos clientes ou a fuga de talentos? Sim, falhamos, disse o John, e eu concordo. Falhamos toda vez que não vinculamos criatividade a resultado. Erramos quando nos deslumbramos mais com prêmios do que com retorno sobre investimento. Patinamos quando a onda virtual tão colaborativa quanto inquisidora pôs em xeque nossas soluções criativas até então soberanas.
A lista de equívocos não para por aí. E é importante reavaliarmos e também contextualizarmos cada um deles para podermos evoluir — lição de casa que tento fazer de forma recorrente e aconselho a todos que a façam também, independentemente da posição ou do lugar onde estejam hoje. Mas, neste espaço de apenas 3,5 mil toques, a minha proposta é que, como classe, paremos de nos automutilar e comecemos a combater essa “agenciafobia”, ou seja lá como cada um prefere chamar o fenômeno da percepção negativa que se alastrou sobre a nossa atividade.
Falo isso de uma posição até que confortável, já que hoje, como CEO da Sapient AG2, estou à frente de um hub de transformação digital que se posiciona de forma diferente das grandes agências. Mas não me eximo da minha parcela de responsabilidade dos erros cometidos nessa estrada e tampouco quero ser excluída dos créditos pelos méritos conquistados — e eles não são poucos.
Somos pioneiros em autorregulamentação e maduros o bastante para, há quatro décadas, respeitar as decisões do Conar, que aliás, entre tantos feitos, em seus primórdios, serviu de inspiração para a construção do Código de Defesa do Consumidor. Atuamos como parceiros estratégicos dos nossos clientes. Parceiros de verdade, em todas as horas, não é balela. Somos alicerce fundamental para a construção de marcas que fazem parte da vida das pessoas e que, por meio de sua comunicação comercial, contribuem para manter veículos que são a base de uma sociedade democrática.
Nos últimos anos, respondemos com agilidade à avassaladora transformação digital que engoliu todos nós, todos, sem exceção. Corremos para nos especializar e desenvolver o enorme ferramental que surgiu de programática, performance, BI, conteúdo etc. e mostramos flexibilidade camaleônica para criar metodologias, modelos de medição e de negócios.
Perdemos talentos quando nos descuidamos das relações de trabalho, mas, atualmente, enxergo um esforço verdadeiro de grande parte do mercado para repensar estruturas, romper com práticas que não condizem com uma sociedade mais justa e igualitária e criar ambientes inspiradores para os seus colaboradores. Titubeamos em inúmeros momentos, é fato, até que, enfim, fizemos da pauta da diversidade e da inclusão bandeiras reais que têm transformado o perfil de nossas agências. Claro que alguns estão mais avançados do que outros, mas a maioria de nós está empenhada em reverter o enorme gap social, racial e de gênero que nosso mercado reproduziu da sociedade brasileira de forma particularmente gritante.
Em meio a tantos desafios que a indústria da comunicação e as agências especificamente enfrentaram, conseguimos saltar de uma comunicação que, basicamente, vangloriava os diferenciais de produtos e serviços para falar de propósito, entretenimento e, claro, também de produtos e serviços. Hoje, em linhas gerais, vejo um mercado que, por um lado, evita a tentação dos egos inflados e, por outro, rejeita a posição de subserviência. E isso é ótimo. As agências e os prestadores de serviços de comunicação, em todos os seus formatos e com suas diferentes propostas, geram negócios, empregos, conversas, cultura. Eu me orgulho muito de fazer parte dessa história.
**Crédito da imagem no topo: Reprodução
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