Todas as voltas que o mundo dá
Métricas são precisas, mas certos valores não estão na mesa de negociações
Métricas são precisas, mas certos valores não estão na mesa de negociações
Os players tradicionais do mercado de comunicação já entenderam que a transformação digital não é uma opção, mas sim uma condição sine qua non para se continuar no jogo, independentemente da indústria na qual se esteja inserido. No melhor estilo “se você não pode vencê-los junte-se a eles”, agências, veículos e mesmo as marcas de setores mais tradicionais, há algum tempo, deixaram para trás o estágio de negação para buscar soluções que coloquem suas ofertas em linha com as demandas da nova ordem, que passa a reger cada vez mais as diretrizes de quem toma as decisões de investimentos no setor e de desembolso nas compras do dia a dia.
A necessidade de transformação contempla a reforma de estruturas e fundações, com a derrubada de paredes para a construção de acessos que reorganizem a maneira como trabalhamos da porta para dentro. Nas páginas da entrevista que semanalmente abre as seções iniciais da edição impressa Meio & Mensagem, o CEO global da VML Y&R Jon Cook ressaltou que a estratégia adotada pelo WPP sob a gestão de Mark Read tem o objetivo de fazer do conglomerado de empresas uma única companhia de fato, no sentido de não competirem entre si e manterem uma agenda comum de crescimento, gerando eficiência e retroalimentando o todo.
“Um grupo é apenas um conjunto de empresas que não canalizam uma força comum”, afirmou o executivo à repórter Isabella Lessa.
Diferente em suas nuances, mas similar em seu propósito, a jornada percorrida pelo Grupo Globo tem como objetivo potencializar todos os seus ativos por meio da integração de suas ofertas e soluções, mas também de seus centros e competências.
É uma movimentação estratégica para que a companhia passe a atuar e seja reconhecida como uma media tech, como o presidente executivo da empresa Jorge Nóbrega revelou em entrevista publicada na edição de terça-feira, 19, do jornal Valor. “Daqui a algum tempo não teremos mais empresas separadas. Vamos ser uma só Globo”, projetou Nóbrega.
Curiosamente, as grandes empresas de tecnologia também encaram seu momento “caindo na real”: já não é mais uma escolha ignorar que sem uma relação transparente com os consumidores todo o ecossistema do qual seus negócios dependem corre o risco de vir abaixo. A ausência de respostas eficientes para criar um campo seguro para as marcas e a própria sociedade em suas plataformas de mídia cria um cenário propício para o fortalecimento da imagem de provedores de conteúdo e serviços que vinham perdendo espaço com a ascensão da mensurabilidade a qualquer custo em detrimento da credibilidade.
Assim como no caso de seus pares mais longevos de mercado citados no primeiro parágrafo, a reação das tech companies talvez tenha demorado mais tempo do que o necessário.
É compreensível a resistência de quem está ganhando à mudança: enquanto o faturamento segue em alta, manter a estratégia parece o correto. Mas a temperatura em campo é um indicador fiel dos rumos que a partida pode tomar, ainda que o placar continue indicando uma vitória parcial.
Métricas são precisas, mas certos valores não estão na mesa de negociações — e a construção de uma marca obedece a dinâmica da confiança: ganha corpo tijolo a tijolo, mas pode ruir de uma vez só.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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