Todos os olhos no Rio
Até potenciais vilões dos Jogos Olímpicos estão sendo encarados como geradores de interesse para o evento
Até potenciais vilões dos Jogos Olímpicos estão sendo encarados como geradores de interesse para o evento
Não há indicador melhor do que o “almoçômetro” para determinar os assuntos mais quentes do mercado. É nos encontros de relacionamento à mesa para uma refeição entre os desafios da manhã e da tarde que os líderes e profissionais de agências, veículos e anunciantes trocam valiosas informações e impressões sobre os temas que movimentam os negócios e os bastidores da indústria da comunicação. Na semana passada, finalmente a Olimpíada assumiu o lugar mais alto do pódio dentre os tópicos prediletos no cardápio dessas conversas — desbancando polêmicas recentes que agitaram o universo da publicidade e o misto de apostas e projeções em relação ao prazo para que surjam sinais mais evidentes de uma retomada da atividade econômica.
Às vésperas da cerimônia oficial de abertura (realizada na noite da sexta-feira, 5, após o fechamento desta edição), até potenciais vilões foram vistos como geradores de interesse para a Rio 2016 por executivos da NBC, que detém os direitos de transmissão para os Estados Unidos. O vice-presidente de publicidade da rede, Seth Winters, afirmou ao Advertising Age que o grande número de questões envolvendo a realização dos Jogos no Brasil (como a instabilidade política, o medo dos estrangeiros em contrair o vírus Zika, os problemas com infraestrutura e as dúvidas em relação à segurança) acabou por direcionar ainda mais atenção e audiência para o maior evento poliesportivo do planeta.
“Pode soar meio distorcido ou perverso, seja lá qual for a palavra mais apropriada, mas tudo isso aumenta a curiosidade em torno do fato de que os Jogos acontecerão pela primeira vez na América do Sul. Há também muita mística em torno do que realmente está acontecendo no Brasil neste momento”, disse Winters, que relatou faturamento de US$ 1,2 bilhão com a venda de espaços comerciais em suas propriedades olímpicas antes do início das disputas. O resultado final deve superar em 20% o registrado pela emissora em Londres 2012. Será a primeira vez, desde Atlanta 1996, que as competições acontecerão em um fuso horário favorável ao público norte-americano, o que aumenta o poder de atração da Rio 2016 para os EUA.
Esta é a segunda Olimpíada que acompanho diretamente do país-sede. No ano 2000, eu morava na Austrália quando os Jogos foram realizados em Sidney. Naquela ocasião, o espírito olímpico se instaurou com antecedência muito maior: meses antes de começar, a competição já era o assunto preferido da população e dos meios de comunicação. Talvez a tardia empolgação brasileira tenha a ver com o fato de sermos o primeiro país a receber a Olimpíada em plena recessão econômica. Acredito, porém, que a maior receptividade e o precoce engajamento dos australianos estejam ligados ao fato de serem, sim, uma nação que valoriza muito mais o esporte como ferramenta de transformação e bem-estar.
O legado esportivo, aliás, deveria ser prioridade para os Jogos desde que o Rio de Janeiro foi escolhido como palco do evento, em 2009, acima dos ganhos financeiros e até mesmo do incremento em termos de infraestrutura para a cidade. Felizmente, apesar de relegado a um segundo plano até aqui, esse impacto sociocultural ainda pode ser positivo, graças ao carisma e às histórias de superação dos grandes ídolos que se apresentarão em nossa casa ao longo das próximas duas semanas.
Conseguirá o jamaicano Usain Bolt ser o primeiro tricampeão olímpico das provas de atletismo que determinam o homem mais rápido do mundo? O tenista Novak Djokovic, campeão em simpatia nas horas vagas, repetirá em quadra seu desempenho incomparável fora delas? O atacante Neymar superará a desconfiança da torcida para liderar o Brasil à medalha de ouro inédita no futebol? Tenho, também, particular interesse pelo desempenho do nadador Michael Phelps, maior vencedor dos Jogos em todos os tempos, um herói que coleciona conquistas nas piscinas e polêmicas na vida pessoal, tão imperfeito quanto cada um de nós — característica que a patrocinadora do atleta, a Under Armour, explora com maestria na publicidade.
Façam suas apostas e preparem sua torcida.
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