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Opinião

Tomar ou não tomar partido?

Ação do TSE atingiu empresários e, por tabela, a imagem das marcas das quais são donos, pois o risco de boicote ao consumo e cancelamento da memória existe


2 de setembro de 2022 - 6h00

(Créditos: Shutterstock)

A maioria dos empresários alvo da ação do TSE – Tribunal Superior Eleitoral – por ameaças ao sistema democrático era formada por ilustres desconhecidos do grande público. O povão, consumidor de produtos e serviços, mal sabia da existência dessas pessoas e, por tabela, não fazia ideia de que o empresário A era o dono da marca B, que ele compra e leva para sua casa feliz e saltitante. Porém, a partir do instante que a mídia fez a associação, que A era dono da marca B e que C era dono da marca D, o caldo virou. A imagem pública ferida, antes apenas do cidadão empresário, atingiu também a marca da qual ele é dono. O risco de prejuízo, nestes casos, dobrou.

Não é preciso “viajar” muito pelas Redes Sociais para perceber a onda de críticas à postura destes empresários. Propostas de boicote ao consumo de produtos e serviços são várias e não só, também ao cancelamento na memória das marcas expostas pela mídia como de propriedade dos listados como possíveis “golpistas”. O lado cidadão do consumidor, no caso em questão, despertou ou foi despertado. Aliás, vale frisar, esta separação do lado cidadão do lado consumidor, “lados” que existem em todos nós, tem acontecido com frequência cada vez mais elevada, o que significa conscientização da cidadania. Que bom, nem tudo está perdido!

Pelo exposto, temos evidente uma crise de imagem bastante séria. Como bem lembrou Isabel Rodrigues, profissional de comunicação e professora da Faculdade de Relações Públicas da FAAP, “cabe agora aos gestores de crise das empresas envolvidas tentar mudar a percepção do público, ou seja, buscar ‘dissociar’ a marca A do empresário B, envolvido na ação movida pelo TSE”. Tarefa que se apresenta difícil, ao menos no momento, já que se mescla com o processo eleitoral. Todos os empresários envolvidos são apoiadores do presidente da República, que busca a reeleição. O caldo permanece quente e, para os gestores de crise das marcas envolvidas, o ideal é que esfrie o mais rápido possível, ou seja, que a imprensa pare de citá-los!

Em gestão de crise, o desgaste de imagem equivale ao tempo de exposição negativa na mídia, nas redes sociais etc. Então, cumpre aos gestores deste processo reduzir este tempo e buscar mitigar os danos o mais rápido possível.

É difícil mensurar o prejuízo, porém, estes empresários deveriam saber ou serem lembrados por seus assessores, do risco das marcas das quais são donos, algumas delas muito bem reputadas, de serem atingidas por seus atos políticos, sobretudo. No cenário atual, este risco é estampado! Estes empresários certamente sabem da máxima de bilionários Warren Buffet, um dos maiores investidores dos EUA. “Uma reputação demora vinte anos para ser construída e bastam cinco minutos para arruiná-la”. Por certo, os empresários citados na ação do TSE não pensaram na reputação das marcas de seus negócios quando se envolveram nessa discussão contrária ao regime democrático.

A história mostra que muitos empresários, ao se envolverem com política, o que é um direito, antes de se filiarem a um partido político, o que é obrigatório, se desvincularam de seus negócios, justamente para evitar que fossem atingidos pelos reflexos de qualquer refrega política, o que não é raro. O legado, no entanto, não foi considerado pelos empresários envolvidos na ação do TSE.

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