Trabalhei com câncer
Doença não pode ser tabu no ambiente corporativo, para que este se transforme em espaço de acolhimento
Doença não pode ser tabu no ambiente corporativo, para que este se transforme em espaço de acolhimento
O trabalho preenche boa parte de nossas vidas. Dedicamos preciosas horas da nossa existência para o trabalho. Eventualmente, problemas que poderiam ser classificados como pessoais refletem no dia a dia profissional. Foi o que aconteceu comigo em 2017, quando fui diagnosticada com câncer.
À época, eu era VP de Midia na Publicis e a notícia veio como uma bomba. O que fazer? Como enfrentar? Como eu poderia trabalhar com câncer? Nessa hora, você começa a pensar nos filmes, campanhas e tudo mais que já ouviu falar sobre a doença. Eu não fazia ideia do que esperar. Quando comecei o tratamento, me sentia improdutiva e com medo de falhar nas entregas do dia a dia. Temia a reação das pessoas. Eu me perguntava: “Será que não serei vista como capaz?”.
Mas disse a mim mesma: preciso ter fé. Mas a fé não se constrói sozinha. Ela tem alicerces e um dos mais importantes é o apoio. Eu precisava de apoio, e ele veio. À época, 12 mulheres da agência fizeram um grupo no WhatsApp e a cada sessão de radioterapia, uma ia comigo. Esse tipo de atitude eu nunca esquecerei. A fé me salvou. O apoio me salvou. Encarar o câncer me salvou.
E meu objetivo é exatamente este: ressaltar a importância de falarmos sobre o assunto. Trabalhar com câncer não deve ser um tabu. Precisamos abordar os malefícios da doença e do seu tratamento, para que as pessoas que forem acometidas por este mal possam se sentir acolhidas.
De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025. Desses, 70% dos casos estão previstos para as regiões Sul e Sudeste. O câncer de mama em mulheres (Sul: 71,44/100 mil; Sudeste: 84,46/100 mil), o de próstata (Sul: 57,23/ 100 mil; Sudeste: 77,89/ 100 mil) e o de cólon e reto (Sul: 26,46/100 mil; Sudeste: 28,75/100 mil) são os três tipos mais incidentes nessas duas regiões.
Com base nessa previsão, é muito possível que você trabalhe com algum profissional que esteja enfrentando a doença. É importante dizer que muitas dessas pessoas acabam não falando sobre o seu diagnóstico no ambiente de trabalho por medo e pela sensação de incapacidade de lidar com a enfermidade e o stress do nosso mercado. Mas as grandes organizações, as holdings, as redes, todas as empresas precisam ter em mente que o câncer é uma realidade no mundo.
“Estou tendo o pior dia da minha vida”, “esse almoço não vai descer”, “acabei de vomitar no banheiro”, “não posso perder esse emprego”, são algumas frases que a campanha da iniciativa Working With Cancer mostra em seu filme principal. Uma comunicação poderosa e triste, mas que exibe a realidade de muitos pacientes que convivem com a doença e precisam seguir trabalhando.
Encabeçada pelo Publicis Groupe, a Working With Cancer quer desmistificar o estigma da doença no ambiente de trabalho. Uma das iniciativas mais recentes traz a criatividade como arma para alcançar este objetivo. Recentemente – num movimento que conta com líderes criativos de companhias como Edelman, IPG, Omnicom, WPP e o próprio Publicis Groupe – o movimento lançou o que, para mim, é um dos briefings mais importantes do ano.
Criativos de todo o mundo têm a oportunidade de responder o seguinte pedido: criar um programa, experiência ou campanha que desafie a cultura e possa eliminar o estigma e a insegurança do câncer no trabalho.
Estou ansiosa para ver os resultados que virão. A iniciativa Working With Cancer, vale lembrar, foi reconhecida com o Grand Prix for Good no Cannes Lions. Mas este prêmio não é só do Publicis Groupe, mas de todas as empresas envolvidas. Empresas que acreditam num mundo mais acolhedor e humano.
Responder este briefing é uma oportunidade para que criativos de todo o mundo façam a diferença. É uma oportunidade para acolhermos quem está passando pelo maior desafio de suas vidas.
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