Transformação e concentração
Big techs são questionadas por práticas anticompetitivas, se mostram imunes à crise e servem de espelho para negócios digitais evoluírem em diversos setores da economia
Big techs são questionadas por práticas anticompetitivas, se mostram imunes à crise e servem de espelho para negócios digitais evoluírem em diversos setores da economia
A Covid-19 é a pior experiência coletiva global vivida pela nossa geração. E períodos de guerra, como a atual contra o vírus, costumam ser determinantes para mudanças de comportamento da humanidade. No ambiente atual, além da luta pela vitória da saúde sobre o inimigo invisível, há outros componentes que tornam esse momento único, como a crise financeira com potencial para agudizar desigualdades sociais, o vácuo de lideranças políticas capazes de aglutinar seus povos rumo à evolução e o maior poderio da tecnologia já alcançado em escala global.
Nunca antes na história da humanidade quatro empresas tiveram juntas o poder e a influência planetários que têm hoje Apple, Amazon, Facebook e Google. Às portas da era 5G, aumentam os incômodos frente à concentração financeira e à dependência que representam — para outros negócios e até emocional para as pessoas. Na semana passada, intimados por autoridades antitruste, os CEOs Tim Cook (Apple), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook) e Sundar Pichai (Google) depuseram por mais de cinco horas na comissão de justiça da Câmara dos Deputados norte-americana, respondendo acusações de práticas anticompetitivas nos mercados que dominam e críticas relacionadas a outras condutas. Para deputados participantes, a concentração inibe novas formas de competição, criatividade e inovação.
Enquanto as maiores nações do mundo vivem períodos de recessão econômica, como os Estados Unidos, que amargou no segundo trimestre sua maior retração desde a Grande Depressão de 1929, as quatro big techs, aparentemente imunes à crise, divulgaram balanços trimestrais na semana passada somando alta de 14% nos lucros. Juntas, ostentam cerca de US$ 5 trilhões em valor de mercado.
Paralelamente, provando que estamos diante de um tema complexo, as gigantes globais da tecnologia são espelho para muitos projetos de transformação digital acelerados neste período de isolamento social necessário para o combate à pandemia. Ao tema se dedica a nova série especial de Meio & Mensagem, que estreia nesta semana: Business Transformation. O projeto multiplataforma contempla oito capítulos com reportagens e entrevistas nas edições semanais, oito episódios em podcasts e uma plataforma que hospeda todo o conteúdo, no endereço businesstransformation.meioemensagem.com.br.
Com o propósito de debater o novo contexto da transformação digital, impactado pelos reflexos econômicos da Covid-19, esta edição de estreia aborda o segmento de varejo, um dos ramos da economia que mais intensificou suas capacidades e ofertas digitais. E, por isso, é um dos que está no grupo de amadurecimento e retomadas rápidos, embora englobe players que vivenciam realidades distintas: dos e-commercers que se solidificaram aos shoppings centers obrigados a se reconfigurarem diante dos novos protocolos de segurança, passando por outros nichos do varejo físico que ainda se sustentam pela interação presencial entre vendedores e clientes. Além do avanço em seus canais digitais, entre as consequências das crises sanitária e econômica, os especialistas anteveem alta no consumo de marcas próprias, aprimoramento das experiencias sensoriais e concentração financeira — aqui também — nos grandes grupos varejistas, com mais fôlego para enfrentar instabilidades.
Nas próximas semanas, o Business Transformation prossegue abordando os mercados de entretenimento, alimentos e bebidas, finanças, educação, telecomunicações, automotivo e higiene e beleza. Todos muito impactados pela quarentena, que, para os que se isolaram em meados de março, atingirá 150 dias na semana que vem. Até por uma questão de sobrevivência emocional, quando o presente não entrega o que se deseja, acreditar, planejar e investir em transformação para a construção de um futuro melhor parece mesmo o melhor caminho.
*Crédito da foto no topo: iStock
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