Assinar

Tudo novo, de novo

Buscar
Publicidade
Opinião

Tudo novo, de novo

Com uma fórmula de sucesso que levou o evento a completar 70 edições neste ano, é nos movimentos que reforçam ou abrem espaços de renovação que o Cannes Lions se mostra mais vibrante


27 de junho de 2023 - 15h00

Festival de Cannes 2023

Foi visível a maior diversidade entre os participantes no Cannes 2023 (Créditos: Divulgação)

Para muitos participantes frequentes, o Festival de Cannes pode passar a impressão de que é um lugar onde tudo acontece sempre igual. Essa percepção se justifica, em parte, pela organização do evento, que segue um rito que, de fato, muda pouco de um ano para outro, com cerimônias de premiação nas noites de segunda a sexta, e seminários, exibições e workshops durante as manhãs e tardes. Claro que a maioria dos premiados e palestrantes muda, mas até mesmo as reincidências contribuem para a sensação de déjà vu.

Mesmo com uma fórmula de sucesso que levou o evento à 70ª edição neste ano, é nos movimentos que reforçam ou abrem espaços de renovação que o Cannes Lions se mostra mais vibrante. Em 2023, foi visível a maior diversidade entre os participantes, especialmente pessoas pretas, nos microfones dos seminários, nas cadeiras de jurados, circulando como delegados pelos corredores, mas, ainda, não tanto nas equipes vencedoras que vão ao palco receber Leões.

Cannes está também mais festiva. Com as limitações impostas pela pandemia parecendo coisa de um passado distante, as festas movimentaram o Boulevard de La Croisette, com disputa por convites para apresentações como as de Foo Fighters e Florence and The Machine, no espaço do Spotify. Houve, ainda, espaço para a música brasileira de Wilson Simoninha, Jair de Oliveira e o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, levados a Cannes pela FilmBrazil.

O aumento nas atividades paralelas resulta em agendas lotadas e compromissos inconciliáveis. Com grande parte das pessoas chegando mais tarde e indo embora mais cedo (a volta antecipada tem deixado a última noite bem mais vazia) é impossível acompanhar tudo que se gostaria.

Os pontos altos do conteúdo dos seminários — uns novos, outros reciclados — foram as discussões acaloradas sobre o impacto da inteligência artificial na indústria da criatividade, o diálogo um tanto travado das marcas com a cultura gamer e o movimento contra o estigma ao câncer no ambiente de trabalho, liderado por Arthur Sadoun, CEO do Publicis Groupe, diagnosticado com a doença no ano passado — temas destacados nas reportagens com a cobertura do Cannes Lions, nas páginas 40 a 48.

Na parte de premiações, foi notável a menor concentração de troféus que em edições passadas, o que leva a duas constatações possíveis: é cada vez mais difícil construir um case arrebatador, que responda às especificidades das diversas disciplinas premiadas; e cola cada vez menos o truque de uma grande ideia genérica adaptada a muitas mídias e plataformas.

Vinte agências brasileiras somaram a melhor performance do País nos últimos tempos, conquistando troféus em 28 das 30 competições (as exceções foram Pharma e Creative Business Transformation). O desempenho está abaixo dos 101 Leões de 2018, mas supera as edições de 2022 (70 Leões), 2021 (67 Leões, sendo 3 Grand Prix) e 2019 (85 Leões).

Entre os prêmios concedidos a projetos brasileiros, nunca houve tanta presença de cocriação envolvendo mais de um escritório de uma rede ou até agências concorrentes. Dezenove Leões brasileiros são de autoria de mais de uma agência criativa, o que significa 20% dos troféus nacionais.

Com o Grand Prix de Digital Craft, a AKQA está no topo do ranking das brasileiras mais premiadas e passa a ser a única do País a somar 3 GPs no histórico de Cannes. A AlmapBBDO, com a vitória em Creative B2B, alcança o feito pela segunda vez. W+K e Africa Creative conseguem outra proeza: levam o Brasil pela segunda vez na história ao palco de vencedores de Titanium.

Em 2023, quem também teve performance excelente foi a Gut, que venceu os prêmios especiais de Rede, Agência e Agência Independente do Ano (esses dois últimos com seu escritório de Buenos Aires), e somou entre seus troféus 3 Grand Prix. Fundador da Gut, o brasileiro Anselmo Ramos foi um dos entrevistados de uma reportagem do site especial de Meio & Mensagem sobre o Cannes Lions (www.meioemensagem.com.br/cannes). Falando sobre a pressão por prêmios, ele deu uma dimensão do que acontece com as agências posicionadas como altamente criativas: “A segunda-feira da semana que vem é o 1º de janeiro da publicidade. Ninguém tem nenhum Leão, todo mundo volta para zero e tem que fazer tudo de novo”.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • A consciência é sua

    Como anda o pacto que as maiores agênciasPaís firmaram para aumentar a contratação de profissionais negros e criar ambientes corporativos mais inclusivos?

  • Marcas: a tênue linha entre memória e esquecimento

    Tudo o que esquecemos advém do fato de estarmos operando no modo automático da existência